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Erro da Unimed Paulistana gera aprendizado na gestão do setor

Publicado em 19/11/2015 • Notícias • Português

Com o aumento gradual dos custos assistenciais e da inflação médica, a administração das operadoras de saúde deve ser mais rigorosa do que nunca. Para sobreviver, elas têm de rever os modelos de negócio e apostar em compliance para não cair no erro da Unimed Paulistana, que está na luta para continuar operando.

Com uma dívida que ultrapassa R$ 1 bilhão e cresce a cada dia, a Unimed Paulistana deve rever sua estrutura administrativa e enfrentar o descredenciamento dos prestadores de serviço – que só aumenta após a alienação compulsória da carteira, no dia 02 de setembro.

Em função da estrutura verticalizada – com rede própria de atendimento – da Unimed Paulistana, o sócio-diretor da consultoria L M, Lauro Miquelin, diz que o problema está na gestão de ativos. “Nem sempre um bom administrador de plano é um bom gestor de hospitais”.

Ele conta que a Unimed não era verticalizada em seu desenho original e, em 1992, as unidades adotaram o modelo. “Nessa década muitas colocaram recursos próprios e até construíram hospitais caros e de grande porte sem necessidade ou estudos de viabilidade econômica”, comenta.

Outro problema encontrado pelo consultor na operação da Unimed Paulistana é o modelo de cooperativa, em que cada médico possui um voto nas decisões da singular. “O ambiente hospitalar exige agilidade e sem boa gestão não ocorre”.

Outra questão, lembra Miquelin, diz respeito a um bom programa de compliance. Sem isso, pode ter falta de transparência e deixar maior espaço para fraudes e descontrole financeiro. Além disso, sem uma boa gestão, o modelo de cooperativa pode trazer efeito negativo. “Como dono, não quero que o paciente use o plano, mas como prestador de serviço, quero colocar mais procedimentos para aumentar a minha remuneração”, exemplifica.

Segundo ele, é por isso que algumas singulares da Unimed já estão utilizando o modelo de remuneração por performance, e não mais por serviço adicional.

Desafios

De acordo a Unimed Paulistana o desempenho financeiro foi prejudicado por dois fatores: primeiro o planejamento estratégico, que ignorou o avanço das despesas de comercialização e desprezou investimentos em verticalização como forma de refrear o repasse da inflação médica. E o segundo, foi a desorganização administrativa dentro da própria companhia.

Em resposta ao DCI, a empresa afirmou que a política adotada pela antiga administração foi o que levou ao resultado operacional negativo. Tanto por falta de investimentos no que era necessário, quanto por malversação de recursos. “Seria precipitado alegar a existência de fraude, mas o que se apurou de ‘estranho’ foi encaminhado para o Ministério Público Federal, Delegacia Fazendária e outras”.

Mesmo com os problemas, a operadora pretende lutar pelo funcionamento em 2016. “A empresa busca a subsistência como prestadora de serviços, o que fará por meio de seus cooperados e recursos próprios”.

Como a estratégia, a Unimed Paulistana se reorganiza, do ponto de vista administrativo, e racionaliza, de forma extrema, os custos e despesas. Além disso, busca parcerias para a prestação dos serviços, o que leva ao aumento do credenciamento.

Como estratégia, a operadora também segue a tendência do mercado de investir em modelos de negócio de prevenção e performance para diminuir custos assistenciais.

Segundo dados de outubro, o volume de beneficiários da operadora é de 490 mil vidas. Conforme dados disponibilizados pela Central Nacional Unimed (CNU) e Seguros Unimed, 10,8 mil beneficiários realizaram a transferência para estas operadoras até 29 de outubro.

Possibilidades futuras

Outra estratégia do sistema Unimed foi a compra das carteiras de empresas. “A aquisição [dos beneficiários] pela CNU e Seguros Unimed fortaleceu a marca. Como ficaria a imagem para futuros beneficiários se outra operadora comprasse?”, questiona Miquelin.

Uma das tendências citadas pelo consultor, é que algumas singulares menores e regionais se unam para conseguir ganhar força. “O desafio dessa estratégia é o conflito de interesses, já que cada voto será diluído”.

De acordo com diretor de Marketing e Desenvolvimento da Unimed do Brasil, Edevard José de Araujo, essa tendência já é realidade. “Essa possibilidade existe. O Sistema Unimed incentiva que pequenas operadoras de planos de saúde se agrupem e passem a atuar como prestadoras de serviço, por exemplo”, disse ao DCI.

Já a gerente de pesquisas na área de saúde da consultoria Frost & Sullivan, Rita Ragazzi, defende que o ganho de escala não é mais solução para o setor.

De acordo com ela, o problema não é o modelo de cooperativa ou o tamanho, mas a gestão e o controle dos gastos médicos. “Se você tem um problema e não entende o que é, e ainda acaba juntando mais alguns [com a unificação das singulares] pode agravar a situação”.

Para que os problemas da Unimed Paulistana não atinjam a marca, a executiva aponta que a rede deve manter seus prestadores de serviço, caso contrário, a restrição ao beneficiário deve afetar no futuro. “E o problema não é exclusivo da Unimed, isso ocorre o tempo todo no mercado, sobretudo, com as pequenas operadoras”, conclui.

A professora do Centro Universitário São Camilo, Claudia Rafa, concorda. Para ela, diferente de outras áreas, o setor de saúde tem pouca profissionalização da administração. “O médico pode ser gestor, mas deve se preparar”, ressalta.

O modelo hospitalar, segundo Claudia, nasceu com um intuito filantrópico e são essas raízes que retardaram a inclusão das áreas de administração e gestão nas universidades. E com o aumento dos custos, o ROL de procedimentos da ANS, e o aumento da inflação médica acima do IPCA só irão reduzir o mercado para quem tiver compliance. “Fica quem conseguir administrar os recursos. Exemplo disso é a queda de faturamento de muitas operadoras”.

Fonte: DCI

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