Por: Ligia Maura Costa | Ética e Inteligência Artificial no setor médico: a delicada relação entre dilemas profundos e avanços revolucionários
Publicado em 12/01/2024 • Notícias • Português
A Inteligência Artificial (IA) surge como uma nova força, desbravando fronteiras e revolucionando práticas, inclusive no setor médico. A nova tecnologia de IA, equipada com complexos algorítmicos é capaz de analisar conjuntos de dados médicos em tempo recorde e de agilizar diagnósticos, auxiliar na identificação de doenças, personalizar tratamentos com base nos dados coletados, entre outros. Entretanto, ao lado das perspectivas revolucionárias, a interseção entre IA e o setor médico também traz questões éticas que exigem um cuidadoso equilíbrio entre inovação e integridade. Como garantir que as informações geradas sejam precisas e confiáveis? Como assegurar que não ocorram violações à privacidade dos usuários? Quem é responsável quando a recomendação da IA traz consequências nefastas? Como atribuir responsabilidades em cenários complexos em que a decisão é influenciada tanto pela IA quanto pela decisão do profissional de medicina? Essas poucas questões já ilustram a complexidade da relação entre IA e o setor médico e mostram a necessidade de uma abordagem cuidadosa que leve em conta tanto os avanços tecnológicos revolucionários quanto os princípios éticos fundamentais à medicina.
Em geral, as considerações éticas relacionadas à IA são a privacidade, transparência, viés e responsabilidades. No caso, é importante garantir que os algoritmos sejam desenvolvidos e treinados de forma a minimizar o risco de resultados enviesados, protegendo a privacidade e a segurança dos dados. Mitigar os riscos da inteligência artificial e promover a ética no setor médico requer estratégias-chave que envolvam regulamentações, transparência, colaboração e educação. O desenvolvimento de diretrizes e padrões éticos para o uso da IA no setor médico deve abordar questões como segurança dos dados, transparência dos algoritmos, validação clínica e responsabilidade jurídica. A criação de comitês multidisciplinares pode ajudar na elaboração de políticas públicas que equilibrem a inovação tecnológica com a segurança do paciente, por exemplo. Qualquer aplicação de IA no setor médico deve passar por testes clínicos rigorosos antes da implementação prática. A validação clínica assegura que a tecnologia seja precisa, confiável e segura para os pacientes. É crucial garantir que os dados usados pelos algoritmos sejam diversificados, para evitar obliquidades e preconceitos. Para tanto, é necessário que a coleta de dados se dê em diferentes origens demográficas e zonas geográficas, para que a IA possa ofereça diagnósticos e tratamentos igualmente precisos para todos.
O envolvimento dos profissionais de saúde no desenvolvimento, validação e implementação de soluções de IA no setor médico é fundamental. Só essa expertise clínica é que pode, de fato, avaliar a relevância e a eficácia das aplicações propostas pela IA. Para tanto, esses profissionais devem ser treinados sobre como funciona a IA, sobre suas limitações e, particularmente, como interpretar as informações fornecidas. Isso garantirá uma maior colaboração na delicada relação entre ética e IA mantendo sempre o foco no bem-estar do paciente.
As propostas de IA no setor médico devem ser monitoradas continuamente para identificar problemas éticos, realizar os necessários ajustes nos algoritmos e garantir o alinhamento com as melhores práticas. A combinação dessas estratégias pode contribuir para uma integração mais ética e íntegra da IA no setor médico, maximizando os benefícios e minimizando os potenciais riscos. Os atuais modelos de IA estão sendo moldados por uma combinação de fatores técnicos e sociais, além do desenvolvimento de estruturas legais e regulatórias. Mas, é necessário que se dê primazia às questões éticas à medida que a tecnologia de IA se integra ao setor médico.
Por: Ligia Maura Costa
Presidente do Conselho de Ética Independente da ABIMED