Saúde e clima: o papel do setor de dispositivos médicos na transição sustentável
Publicado em 30/10/2025 • Notícias • Português
A saúde está no centro das transformações do nosso tempo. Em um mundo que enfrenta os efeitos cada vez mais visíveis das mudanças climáticas, é impossível separar meio ambiente e bem-estar humano. O aumento das temperaturas, a escassez de água, a piora da qualidade do ar e a intensificação de eventos extremos configuram um desafio que vai além do ambiental, envolvendo também dimensões sociais e sanitárias.
De acordo com o Fórum Econômico Mundial, as mudanças climáticas podem causar até 14,5 milhões de mortes adicionais até 2050, além de gerar perdas econômicas de até US$ 12 trilhões de dólares. Esses números, comparáveis ao impacto de duas pandemias de Covid-19 em sequência, reforçam a urgência de integrar o clima às políticas de saúde pública. Sem sistemas preparados, a adaptação climática se torna insuficiente.
Ao sediar a COP30 em Belém, em novembro de 2025, o Brasil consolida um papel relevante nesse debate. Nas últimas edições, a saúde ganhou espaço na agenda climática e a presidência brasileira pretende dar a ela um foco inédito e central, elevando o tema ao patamar dos grandes pilares das negociações. Essa decisão reconhece que o clima afeta diretamente a prevenção de doenças, o funcionamento de hospitais, as cadeias produtivas e a equidade no acesso ao cuidado.
Nesse contexto, o Plano de Ação em Saúde de Belém constitui a principal proposta brasileira no campo da saúde para a COP30. O plano orienta políticas públicas voltadas a tornar os serviços de saúde mais resilientes, inclusivos e acessíveis, com base nos princípios de equidade em saúde e justiça climática. Parte do reconhecimento de que os impactos da mudança do clima são desiguais e exigem respostas direcionadas às populações e territórios mais vulneráveis.
O PASB estrutura-se em três grandes linhas de ação inter-relacionadas.
– Vigilância e Monitoramento: busca fortalecer os sistemas de vigilância em saúde informados pelo clima, integrando dados e implementando sistemas de alerta precoce para antecipar riscos.
– Políticas Baseadas em Evidências e Fortalecimento de Capacidades: voltada à aceleração de soluções comprovadas e à capacitação técnica de profissionais e gestores de saúde, essenciais para enfrentar os impactos climáticos de forma contínua e sustentável.
– Inovação e Produção/Saúde Digital: com foco em pesquisa, desenvolvimento e tecnologia para fortalecer a resiliência das cadeias de suprimentos e das infraestruturas hospitalares. Essa linha prevê a criação de estoques estratégicos de produtos essenciais, como vacinas, diagnósticos e medicamentos, com prioridade para regiões de maior vulnerabilidade.
Essas frentes criam um ambiente mais propício à cooperação entre governos, instituições de pesquisa e setor produtivo. Nesse cenário, o setor de dispositivos médicos tem potencial de contribuição relevante, tanto pela capacidade de inovação tecnológica quanto pelo papel que exerce na estruturação de sistemas de saúde mais eficientes e sustentáveis.
A tecnologia médica, tradicionalmente associada à cura e à precisão, tem ampliado seu alcance para atuar na adaptação e na resposta a emergências climáticas. Dispositivos de monitoramento remoto, plataformas de telemedicina e equipamentos portáteis permitem garantir o cuidado em áreas afetadas por enchentes, secas ou isolamento geográfico. Testes de diagnóstico rápido e laboratórios móveis fortalecem a vigilância epidemiológica e antecipam respostas em situações de crise. Tecnologias de purificação de água, sensores ambientais e soluções de energia limpa contribuem para a operação contínua de hospitais e unidades de saúde mesmo em cenários de instabilidade climática.
Globalmente, estima-se que o setor da saúde seja responsável por aproximadamente 4,4% das emissões globais de dióxido de carbono (CO₂). Isso reforça a necessidade de reduzir impactos e adotar modelos produtivos mais sustentáveis. Entre as prioridades estão o desenvolvimento de dispositivos de menor impacto ambiental, o uso de materiais recicláveis e reutilizáveis, a resiliência das cadeias de suprimentos e o investimento em biotecnologia e economia circular. Essas ações se alinham às diretrizes do Plano Nacional de Desenvolvimento da Bioeconomia (PNDBio), que orientará políticas voltadas à inovação sustentável e à valorização da biodiversidade brasileira.
O avanço da sustentabilidade no setor da saúde depende tanto de regulação quanto de cooperação. Hospitais, clínicas e laboratórios vêm ampliando a exigência de práticas ambientais responsáveis de seus fornecedores, o que torna a sustentabilidade um critério de parceria e competitividade. Nesse processo, o setor de dispositivos médicos desempenha um papel técnico e operacional cada vez mais relevante, ajudando a traduzir políticas em soluções concretas e escaláveis.
A realização da COP30 em Belém representa, portanto, uma oportunidade importante para consolidar o diálogo entre saúde e clima, promovendo a integração entre ciência, tecnologia e políticas públicas. Ao participar ativamente dessa agenda, o setor de dispositivos médicos reforça seu compromisso com a inovação responsável e com o fortalecimento de sistemas de saúde preparados para os desafios ambientais do futuro.