Papel do Estado é limitado a saúde, educação e segurança

Publicado em 12/04/2016 • Notícias • Português
O áudio em que o vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) fala do seu eventual “governo de transição” é um mapa precioso do que pode ser a política econômica do pós-impeachment. Os princípios defendidos por Temer não chegam ao liberalismo radical do “Ponte para o Futuro”, documento lançado pelo partido no ano passado com propostas como a desvinculação total de receitas, mas reafirmam princípios bastante distantes da economia intervencionista praticada por Dilma 1 e 2, embora sem detalhes.
Entre os vários recados políticos que preparou para tranquilizar sua tropa Temer não poupa cutucões ao governo da presidente Dilma Rousseff em questões que são claramente pontos fracos: desemprego, falta de credibilidade e de governabilidade, inflação alta, e a acusação de que a presidente prometeu que não haveria mudanças na política econômica durante a campanha eleitoral, para depois implementar o ajuste fiscal.
Temer vê o papel do Estado como essencial em setores como segurança, saúde e educação, enquanto o resto “tem que ser transferido para a iniciativa privada”, que ele promete estimular “enormemente” por meio de parcerias público-privadas.
O vice-presidente avisa que “serão necessários sacrifícios” e que em três ou quatro meses terá sido possível apenas começar a encaminhar soluções para a crise. Promete reformas política, tributária, trabalhista e previdenciária – todas sem ferir direitos adquiridos e com “grande diálogo nacional”.
Num aceno importante para rebater as críticas que acabaria com programas sociais, Temer garante que Bolsa Família, Pronatec, Fies e ProUni não acabarão. “Isso é falso. É mentira. É fruto da política rasteira que tomou conta do país. Vamos manter esses projetos e se possível revalorizá-los e ampliá-los”, afirma para, então, marcar diferença em relação ao PT.
O vice-presidente fala de um “projeto de empregabilidade plena” que fará do Bolsa Família um “estágio” no desenvolvimento social. Ao defender uma visão cara aos que defendem que os programas de assistência de renda têm que ter uma “porta de saída”, o vice-presidente diz que “daqui alguns anos é possível que a empregabilidade tenha atingido um tal nível que não haja mais necessidade do Bolsa Família”, afirma Temer.
O diagnóstico feito pelo eventual novo presidente, se o impeachment vier a ser aprovado pela Câmara e pelo Senado, sobre os problemas atuais da economia é uma condenação ao governo do qual ele faz parte há quase seis anos. “O que aconteceu nos últimos anos foi um descrédito no nosso país. E o descrédito é que leva à ausência do crescimento, à ausência do desenvolvimento e que faz retomar a inflação”, diz.
Na única referência direta que faz à administração da presidente Dilma, Temer fala que sem sacrifícios não será possível retomar “o crescimento e o desenvolvimento que pautaram a atividade do nosso país nos últimos tempos, antes dessa última gestão”. O vice-presidente receita a retomada da esperança para que os investimentos se recuperem, prega medidas para o capital e também para o trabalho como forma de recuperar o emprego.
“É nesses termos que nós vamos trabalhar. Ou seja, o diálogo de um lado e a conjugação de esforços serão os alicerces do nosso trabalho”, diz. Difícil ser mais claro ou objetivo num áudio que acabou se tornando público a partir de um erro.
Fonte: Valor Econômico