Procuram-se médicos
Publicado em 18/08/2016 • Notícias • Português
O esforço do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), da UFRJ, de reabrir leitos de enfermarias e do Centro de Tratamento Intensivo (CTI) para a Olimpíada foi em vão. A poucos dias do término da competição, e depois de cerca de R$ 600 mil gastos, oriundos de emendas parlamentares de deputados federais e estaduais, os 62 novos leitos estão vazios. No oitavo andar, o CTI, todo equipado, ainda não recebeu pacientes porque faltam médicos e enfermeiros. O mesmo acontece no 11º andar, na enfermaria cirúrgica. Segundo Eduardo Côrtes, diretor da unidade, seriam necessários 180 profissionais para garantir o funcionamento dos setores.
O diretor informou que o hospital tem cerca de 2.200 servidores, mas não especificou quantos são médicos e enfermeiros. Ele alegou que trabalha com uma equipe enxuta e cobra do Ministério da Educação uma solução.
— Só o Ministério da Saúde autorizou a contratação de 1.600 profissionais para que atuem na rede federal do Rio durante os Jogos — disse Côrtes. — Como não temos autonomia de contratação, estamos dialogando com o Ministério da Educação desde a segunda quinzena de julho para conseguir vagas para esses novos profissionais.
PEDIDO EM CIMA DA HORA
Côrtes só enviou um pedido de contratação emergencial ao MEC no dia 25 de julho, dez antes do início da Olimpíada. Ele justifica o pedido sem antecedência à prudência — achou que as obras poderiam não ficar prontas a tempo.
— Entendo que seja pouco tempo antes, mas foi por isso que solicitei uma contratação emergencial, o que agilizaria o processo. Queríamos aproveitar o momento da Olimpíada para aumentar o número de profissionais — diz Côrtes, que esperava, com a reforma, atender cem pessoas a mais por mês no CTI e fazer mais 160 cirurgias no mesmo período.
A situação pode ficar ainda mais crítica se o problema de pessoal não for resolvido. Isso porque a unidade passa atualmente por outra obra que ampliará o número de leitos — e consequentemente a demanda por médicos. Três paredes estruturais que haviam sido derrubadas durante a implosão de uma parte do hospital estão sendo reconstruídas para devolver a estabilidade àquela parte do edifício, o que vai proporcionar a volta de 140 leitos de enfermaria. A obra, iniciada em maio, foi avaliada em R$ 6 milhões e a previsão é que esteja concluída no final de 2017.
— Assumi em 2014 e espero conseguir reabrir leitos e chegar a até 400 em 2018 — diz Côrtes.
O secretário estadual de Saúde, Luiz Antônio Teixeira, afirmou que os leitos do Hospital do Fundão são imprescindíveis para o atendimento na rede pública:
— Déficit de leito hospital é um problema nacional, mas ainda mais grave no Rio. Temos um déficit de 150 leitos de CTI/dia no estado. O Clementino Fraga é estratégico. O estado não pode prescindir dos leitos do Fundão, principalmente porque são qualificados para assistência e também importantes para formação de mão de obra (dos estudantes e residentes).
O vice-presidente do Conselho Regional de Medicina (Cremerj), Nelson Nahon, lamenta que o Hospital do Fundão tenha leitos disponíveis que não possam ser utilizados por falta de profissionais. Ele afirma que as 22 novas vagas de CTI da UFRJ seriam fundamentais para tentar desafogar a procura.
— Esse déficit significa que há pacientes graves que podem ir a óbito porque não têm vaga garantida. É lamentável que o governo federal venha recusando uma contratação que é fundamental. O Clementino Fraga Filho tem feito um esforço gigantesco e vem fazendo obras planejadas para abrir mais leitos de enfermaria — afirma Nahon.
O presidente do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro, Jorge Darze, ressalta que além de ser referência para tratamentos complexos — durante a Olimpíada, o Fundão faz parte da rede emergencial e pode fazer cirurgias encaminhadas por hospitais como o Souza Aguiar —, a unidade é importante para pesquisa médica e formação de pessoal.
— Já havia solicitado uma audiência com o ministro da Educação, para a semana que vem, e vou incluir na pauta a situação do Clementino Fraga, para que ele entenda a importância de realizar um concurso público. Na impossibilidade de o governo atender, o caminho tende a ser judicial — afirma Darze.
LEITOS CAÍRAM DE 500 PARA 265
O pano de fundo da crise de falta de pessoal no Clementino Fraga Filho passa por uma guerra que acontece nos bastidores dos hospitais universitários e que envolve a adesão à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), que é uma fundação pública de direito privado criada pelo Ministério da Educação. A empresa pode contratar profissionais pela CLT, estabelecer metas, pagar salários melhores que os do serviço público, fazer investimentos e administrar os hospitais. UFRJ, Unirio e UFF e seus respectivos hospitais universitários são contrários à adesão por entenderem que a gestão da empresa fere a autonomia do Conselho Universitário, que é quem elege a direção das universidades. As universidades dizem que só quem adere à Ebserh recebe recursos e pessoal.
Inaugurado em março de 1978, o hospital do Fundão foi projetado para oferecer até dois mil leitos, mas concluiu-se que o tamanho do edifício era exagerado, e ficou definido que apenas metade da área total da estrutura seria ocupada. A Ala Sul, abandonada, ganhou o apelido de perna seca e, em 2010, foi implodida. Desde então, setores próximos dessa área foram desativados, e o hospital, que chegou a ter 500 leitos ativos, trabalha hoje com apenas 265.
Em nota, o Ministério da Educação informou que “para novas contratações é necessário código de vagas. Nesse sentido, o Ministério da Educação está em negociação com o Ministério do Planejamento para obter autorização e criar novas vagas (novos códigos) para contratação em universidades para 1.200 docentes, 150 docentes titulares livres e 1.530 pessoas para quadro administrativo”.
Fonte: O Globo