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Game critica as estratégias da indústria farmacêutica para lançar e vender drogas

Publicado em 28/04/2016 • Notícias • Português

Bajular médicos, manipular resultados de testes clínicos, vender a preços desleais para quebrar a concorrência ou cobrar um preço exorbitante por um medicamento capaz de salvar vidas. Essa é a realidade da indústria farmacêutica — pelo menos dentro do game Big Pharma. O jogo é o mais novo representante de um universo de games que, além de entreter, pretende criticar — ou gerar reflexão sobre — o funcionamento da sociedade. Nessa linha, há títulos como SUS: The Game, criado por brasileiros em 2013, que simula a dificuldade de ser atentido em hospitais públicos. No jogo, há somente um médico no hospital e o jogador precisa encontrá-lo para ser atendido (conheça outros exemplos na galeria abaixo).

O game Big Pharma, lançado no ano passado, ganhou esta semana novos recursos: agora, o jogador — no game, o dono de uma indústria farmacêutica — poderá oferecer brindes aos médicos para que eles prescrevam os medicamentos da empresa, manipular os resultados dos testes das drogas para que elas pareçam melhores do que realmente são e investir numa estratégia de comunicação a fim de convencer as pessoas que elas estão doentes. “O jogo explora os desafios que surgem ao tentar alinhar os objetivos de uma empresa lucrativa aos de uma indústria dedicada a ajudar pessoas doentes”, diz o americano Tim Wicksteed, o criador do jogo.

Wicksteed diz que as estratégias usadas no jogo têm base real. Ele se inspirou no livro Ciência picareta, do psiquiatra britânico Ben Goldacre. Goldacre é conhecido internacionalmente por criticar o modo como a ciência pode ser feita — com números torturados para alcançar bons resultados. No livro, ele descreve as táticas desonrosas de que algumas empresas lançam mão para manipular a pesquisa científica, aprovar medicamentos e aumentar suas vendas. Wicksteed diz que também entrevistou um pesquisador americano que estuda como os ensaios clínicos podem ser construídos de forma tendenciosa. Mas ele admite que o jogo exagera nas falcatruas. “Peguei as ideias e as destilei para uma forma que capta a essência da indústria sem ser 100% exata”, diz Wicksteed. “A forma como é feito no jogo não é realista. Na vida real, as ações são mais sutis.”

Para começar a jogar, é necessário escolher o nome da empresa e seu presidente. Já na primeira tela é possível dar uma olhada nos insumos farmacêuticos disponíveis. A descrição inclui sua atividade medicinal e os efeitos adversos. Com o maquinário certo, é possível dar um upgrade nos ingredientes, aumentar sua ação e diminuir os efeitos adversos, mas isso custa caro e é possível que o melhor produto para o mercado não seja o melhor para a população. Com o medicamento no mercado, o jogador monitora os lucros e os relatos de efeitos colaterais. Se a demanda cai ou a concorrência aumenta, seus lucros estão ameaçados. Aí a empresa começa a perder dinheiro, e o jogador deve dar um jeito de se manter lucrativo. É preciso expandir os negócios e entrar em outros campos de doenças, contratar cientistas e descobrir novos princípios ativos. O espaço físico é limitado e para aumentar a produção é necessário fazer malabarismos para o maquinário caber. Com as contas no negativo, o jogador pode fazer empréstimos, contratar mais gente e comprar máquinas de alta tecnologia.

Mas manter as máquinas funcionando não é a única função do jogador. Também é preciso habilidade em lidar com as empresas rivais que querem lhe tirar do negócio e com o mercado sempre dinâmico, que exige medicamentos diferentes a cada estação. Se sua indústria tem futuro ou não, só os lucros dirão e ser altruísta pode não ser o melhor plano de negócios. Com a nova atualização, o jogador também será capaz de ajustar os valores de seus medicamentos. Ao colocar no mercado um produto com o preço muito baixo, o jogador consegue eliminar a concorrência e transformar sua empresa numa monopolista. Como única opção na prateleira da farmácia, as pessoas não têm saída a não ser pagar o preço que a empresa determina, mesmo que seja muito alto.

Wicksteed diz que alguns jogadores querem que o jogo vá mais longe na crítica à indústria farmacêutica. Eles sugerem que exista a possibilidade de causar doenças para depois vender a cura. Wicksteed diz que resiste em implementar esse tipo de ação porque não acha que isso aconteça na vida real. “Evito esse tipo de ação tanto quanto possível porque eu não quero enganar as pessoas”, diz Wicksteed. Mas os outros desafios éticos permanecem. “O jogo Big Pharma coloca as pessoas em posição de trabalhar para uma indústria farmacêutica e pergunta: ‘O que você faria nessa posição?’”. Wicksteed espera que os jogadores sejam capazes de discernir as consequências de suas escolhas. Transformar ciência em dinheiro exige estratégia e a desconfortável verdade – para a qual não há remédio – que a doenças geram negócios.

Fonte: Época Online

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