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Especialidades com margens baixas perdem espaço na saúde

Publicado em 29/03/2016 • Notícias • Português

O atual sistema de remuneração da saúde suplementar está espremendo as margens de ganho das maternidades e pediatrias e acelerando o encolhimento do número de leitos nessas áreas. Para especialistas, sem novos incentivos a queda ficará ainda mais acentuada, diminuindo as opções no setor privado.

O sistema de remuneração – por serviço prestado e não por performance – da saúde suplementar é um dos maiores gargalos, provocando inúmeras consequências em todo o setor. Sobretudo entre especialidades com menor retorno. Por isso, as maternidades e pediatrias perderam nos últimos cinco anos espaço para áreas de alta complexidade. Em 2014, o Hospital Santa Catarina, em São Paulo, fechou as portas de uma das mais tradicionais maternidade da cidade, após 35 anos.

Para especialistas consultados pelo DCI, a redução ainda deverá continuar. “Existe uma tendência de especialização na área da saúde, porque os hospitais não podem fazer tudo. Mas isso faz com que acabem migrando para onde está a receita”, diz o diretor da A.T. Kearney, Joaquim Cardoso.

De acordo com o consultor, ‘o fundo do poço’ ainda não chegou, mas a previsão é que o número de leitos nessas especialidades continue caindo no mercado privado. “Vai chegar uma hora em que vão faltar serviços de qualidade nessas áreas para operadoras ofertarem”. Para ele, o desinteresse na especialidade não é apenas do investidor, mas também do médico. Em 2015, de 421 mil médicos do País, apenas 26 mil são pediatras e 22 mil ginecologistas.

Como consequência da falta de oferta dessas áreas, ele aponta a perda de qualidade e o aumento dos custos para as operadoras. Segundo Cardoso, um trabalho mais especializado e preventivo pode evitar gastos com casos mais graves. “É mais caro pagar um valor maior ou um pronto socorro de madrugada?”

“Só veremos uma mudança quando a especialidade se tornar decisiva [para a compra de um plano]”, ressalta. Cardoso aponta ainda que cabe aos consumidores exigir dos planos de saúde mais opções. “Hoje, um fator decisivo para um idoso é a oferta [de hospitais] de oncologia”.

Referência

“Somos saudáveis financeiramente, mas nossas margens são baixas. Hospitais pediátricos são assim”, afirma o diretor-superintendente do Hospital Infantil Sabará, Wagner Marujo. Para ele, com a transição demográfica e a redução do número de crianças nascidas por pessoa é normal que o volume de leitos na área pediátrica diminua. No entanto, o Brasil ainda não se encontra nessa fase. “A escala da pediatria ainda é grande. Temos 20% da população”, aponta.

Marujo argumenta que o grande problema do sistema de remuneração é que beneficia o volume de atendimento e o uso de aparelhos e exames. “E a pediatria é menos dependente da aparelhagem”, indica. Mesmo quando é necessária a remuneração por exame, também é menor na especialidade. “O modelo não contempla que você demora 15 minutos para fazer uma ressonância em um adulto e uma hora e meia em uma criança”, exemplifica. Outro fator que o superintendente aponta como desafiador é que a criança é tratada como um adulto. “Muitas operadoras não levam em consideração o investimento em estrutura física que o hospital pediátrico deve ter para abrigar a criança e o pai.”

Segundo ele, para que o mercado retome os investimentos na especialidade é necessário que a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) promova outros modelos de remuneração que leve em consideração as especificidades da pediatria.

Para Marujo, a redução da especialidade está sobrecarregando os hospitais que ainda têm a área. O Sabará atende mais de 130 mil crianças por ano. Em 2015, o espaço teve um prejuízo de R$ 13 milhões só com o Pronto Socorro (PS). Segundo ele, o número de médicos pediatras está cada vez menor nos PS dos hospitais. “Tivemos de aumentar o número de pediatras no PS. Cerca de 19% dos pacientes que chegam passaram por outra unidade.”

Como estratégia para melhorar o desempenho do hospital, Marujo aponta que o Sabará usa 5% de sua receita para re-investimento, além de manter um sistema de informação muito sofisticado para conseguir negociar com as operadoras de forma mais transparente.

Medicina integrada

A sócia da PwC Brasil e especialista no setor de saúde Eliane Kihara aponta que a implementação de um sistema de saúde integrado seria uma boa saída. O modelo consiste em separar o atendimento por nível de complexidade. “Com a atenção integrada, você otimiza os recursos”, indica Eliane.

Para ela, desse jeito os atendimentos mais simples são feitos por clínicas e médicos de família e se houver necessidade o paciente pode ser encaminhado para um hospital mais especializado. Assim, o problema de escala também é suprido. “Mas para isso você precisa de hospitais satélites”, diz Eliane. Segundo ela, assim evita-se grandes deslocamentos de pacientes.

Para a sócia da consultoria, mesmo com a tendência de especialização, aos poucos os hospitais deverão retomar os investimentos em áreas que ficaram para trás. “Existe um limite de mercado. Se todos se especializarem na mesma área, uma hora você terá mais leito que demanda”.

A coordenadora da UTINeonatal do Hospital Samaritano em São Paulo, Teresa Uras, acredita que o sistema integrado é uma tendência mundial. No Samaritano, o foco é a medicina de alta performance e a integração com hospitais parceiros tem funcionado. Com o atendimento especializado, Teresa aponta que é possível diminuir o tempo de internação. Um dos desafios para os hospitais especializados é o atendimento primário, que deve prevenir a doença antes de chegar ao tratamento mais complexo. “Mas o Brasil melhorou muito nesse aspecto.”

Fonte: DCI

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