Ninguém quer ser médico da família, diz professor da USP
Publicado em 15/06/2016 • Notícias • Português
O Brasil enfrenta mais um problema de má distribuição de médicos entre as especialidades do que uma falta de profissionais propriamente dita. A avaliação foi feita por especialistas durante debate no 3º Fórum A Saúde do Brasil, promovido pela Folha, Interfarma e Unimed.
“Ninguém quer ser médico de família, todo mundo quer ser cirurgião plástico”, afirmou Gustavo Gusso, professor de clínica geral da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Gusso é um dos analistas que aponta que o problema no atendimento inicial dos pacientes não está na falta de médicos, mas sim na má distribuição por especialidade e região do país.
Eugênio Vilaça Mendes, consultor internacional na área de saúde pública, tem opinião semelhante. Ele diz também ser necessário uma equipe multidisciplinar, que deve agir de forma integrada. “O sistema atual, fragmentado, não responde às necessidades, ele precisa ser substituído por uma rede de atenção primária integrada”.
A atenção primária é o primeiro contato do paciente com o atendimento médico e, de acordo com os especialistas, resolve cerca de 80% dos problemas de saúde da população. Nesse modelo, é importante a figura do médico de família, que acompanha a pessoa ao longo da vida e possui conhecimento específico do histórico de cada um.
“Estamos buscando retomar a cultura do médico de família. Ele é quem vai saber o que é melhor para o paciente”, disse Silvia Esposito, coordenadora do núcleo de atenção à saúde da Unimed Brasil. Ela também defende que essa mudança do modelo de serviço reduz internações e atendimentos de emergência nos prontos-socorros. Para ela, a mudança deve ser rápida, “antes que a saúde não seja mais sustentável”.
Eugênio mostra em suas pesquisas que, mesmo com o subfinanciamento do SUS, a estratégia de Saúde da Família, modelo atual de atenção primária, melhorou a vida das pessoas. Para ele, “essa é a forma mais virtuosa de organização”, reduzindo a mortalidade infantil, promovendo mais equidade no acesso, trazendo bons resultados fora da área da saúde, por exemplo, aumentando índices de escolaridade entre as crianças atendidas.
“É um trabalho de formiguinha, é mais fácil você ver um resultado populacionamente, do que individualmente”, disse Gusso.
Fonte: Folha de São Paulo