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‘Historicamente o Brasil não registrava microcefalia’

Publicado em 12/04/2016 • Notícias • Português

Num tom mais cauteloso que o exibido por autoridades sanitárias brasileiras, o vice-ministro de Saúde da Colômbia, Fernando Gomez, diz não haver ainda elementos suficientes para apontar o zika como responsável pelo aumento de casos de microcefalia. “Existe uma relação, mas é preciso fazer mais estudos para se comprovar a causalidade.” Em entrevista ao Estado, Gomez não hesita em dizer que há uma subnotificação histórica de microcefalia no Brasil e afirma que a opção do aborto é importante para as mulheres.
Aqui, os principais trechos: l O senhor está convencido de que o zika causa microcefalia? Os dados do Brasil mostram haver uma associação entre zika e microcefalia, mas isso não é suficiente para se estabelecer a causalidade. É necessário esperar outros estudos.
l Além do zika, o que poderia estar associado a esse aumento? Acreditamos que historicamente o Brasil não registrava o número de casos de microcefalia que de fato deveria ocorrer.
Uma das possibilidades é de que a situação do zika tenha chamado a atenção para um problema que já estava presente, mas que até então não era notado. No Brasil eram informados, em média, 140 casos anuais de microcefalia relacionados a outras causas, número comparativamente bem menor do que o daqui.
Registrávamos 150. Brasil e Colômbia têm taxas semelhantes de fertilidade. Se aplicássemos nossos indicadores para o Brasil, o número de casos giraria em torno de 700.
l O senhor apontaria somente a subnotificação? Seria importante investigar outras causas, como problemas ambientais e a interação entre enfermidades, por exemplo.
Aqui na Colômbia a epidemia de dengue e chikungunya já passou. Aconteceram em épocas distintas. Não sei se o mesmo aconteceu no Brasil.
Será que o fato de se ter epidemias simultâneas poderia exacerbar o risco de microcefalia? l O Brasil foi precipitado ao fazer essa relação? Todo o país tem a responsabilidade de vigiar um aumento expressivo de casos. E reportá-lo. Penso que o problema do Brasil não está nas projeções, mas na retrospectiva.
Como os números existentes até a epidemia de zika eram subnotificados, não há como estipular qual foi o aumento exato do número de casos pós-epidemia.
l O senhor está prevendo aumento de abortos em seu país por causa do receio de zika provocar microcefalia nos bebês? A Colômbia tem um conjunto de regras sobre aborto relativamente progressista. Por isso, é provável que muitas mulheres lancem mão desse direito.
Alertamos as mulheres sobre os seus direitos, sobre as possibilidades previstas em lei para a interrupção da gestação, mas não podemos em última instância fazer uma recomendação expressa.
A decisão é da mulher e de seu companheiro.
l Na Colômbia é necessária autorização prévia para interrupção da gravidez? Qualquer médico pode fazer? Respeitadas as condições determinadas em lei, e aí estão os casos que envolvem o sofrimento psicológico da gestante, ela pode ser feita em qualquer hospital, pelo obstetra.
l No Brasil, não há permissão para aborto nesses casos. O País deveria rever suas regras? Não posso opinar por outro país, mas posso dizer que é uma opção importante para a mulher, para o casal, principalmente frente a uma enfermidade grave, com consequências importantes que terão reflexos por toda a vida. Uma das justificativas mais usadas aqui para interrupção é o risco de sofrimento mental da mulher.
l Qual a contribuição que o senhor acha que a Colômbia pode trazer para o melhor conhecimento da zika e da microcefalia? Um dos aspectos mais importantes é estimar a incidência de microcefalia após o surgimento da epidemia. É uma diferença com o Brasil, onde o fenômeno foi descoberto quando estava em curso. Aqui podemos acompanhar desde o início. Estamos contando os casos de zika e observando as gestantes. Caso a caso, semana a semana. Isso nos permitirá estimar com maior rapidez as taxas de incidência da infecção, a relação entre zika e microcefalia e a influência no aumento de Guillain-Barré.
l Qual é o maior problema na Colômbia relacionado ao zika? Temos cidades distantes, onde a comunicação não é tão boa. Nosso receio é de que haja casos não diagnosticados, que as grávidas com zika não sejam acompanhadas. Daí, nosso esforço para reduzir os riscos de que isso aconteça.
Investimos na informação. E a população está se dando conta.
Desde janeiro, a palavra mais buscada pelos colombianos no Google é zika.

Fonte: O Estado de S.Paulo

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