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Alckmin critica Fapesp por ‘pesquisa inútil’

Publicado em 28/04/2016 • Notícias • Português

Durante a última reunião com seu secretariado,o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin(PSDB),criticou a Fapesp (Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo), principal órgão de financiamento à ciência no Estado, por priorizar estudos sem utilidade prática.
A informação foi revelada pela coluna Radar On-line, da “Veja”. Segundo a revista, Alckmin fez críticas à falta de apoio a estudos para o desenvolvimento da vacina da dengue e também ao incentivo a pesquisas de sociologia.
A Folha confirmou a fala do governador, que disse que a Fapesp vive numa bolha acadêmica desconectada da realidade, financia estudos que muitas vezes não têm nenhuma serventia prática e gasta sem orientação maior. Procurado, o Palácio dos Bandeirantes não quis comentar.
Os dados oficiais sobre o destino dado às verbas da Fapesp em 2015, porém, não corroboram a afirmação de Alckmin de que o órgão privilegia projetos de sociologia ou“projetos acadêmicos sem nenhuma relevância”.
Do total de desembolsos (R$ 1,18 bilhão), apenas 10% foram destinados à área de ciências humanas e sociais (excluindo arquitetura e economia, que recebem, somadas, pouco mais de 1% do total).Quase 30% dos gastos do órgão em 2015 foram destinados a pesquisas na área de saúde (veja infográfico).
Embora o governador tenha condenado a suposta falta de apoio da Fapesp ao desenvolvimento da vacina da dengue no Instituto Butantan,a fundação desembolsou cerca de R$ 2 milhões para custear esses estudos entre 2008 e 2011.
Logo depois que a associação entre o vírus zika e o surto de microcefalia em bebês brasileiros foi detectada,o órgão aprovou recursos adicionais da ordem de R$ 500 mil para projetos de virologia já em andamento que pudessem investigar o mistério.
Neste ano, em parceria com a Finep (órgão federal), a Fapesp lançou um edital no valor de R$ 10 milhões para pequenas empresas que busquem desenvolver tecnologias contra o zika e o mosquito Aedes aegypti.
Procurada, a Fapesp preferiu não comentar as críticas feitas por Alckmin.
PESQUISA BÁSICA “Eu sinceramente espero que essa declaração tenha sido citada fora de contexto, porque ela não é compatível inclusive com a formação acadêmica e com o histórico do governador”, disse à Folha a bioquímica Helena Nader, presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência),que declarou estar “chocada” com as críticas de Alckmin à Fapesp.
A pesquisadora lembrou que descobertas que estão na base da biotecnologia moderna, como a decifração da estrutura em dupla hélice (ou “escada torcida”) do DNA,em 1953, não pareciam ter nenhuma aplicação prática quando foram feitas. “Também lamento muito pela menção negativa à sociologia.
Quanto mais estudo, mais compreendo que as ciências humanas são fundamentais”, disse Helena.
Para Ana Lúcia Vitale Torkomian,diretora executiva da Agência de Inovação da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), a dicotomia entre pesquisa aplicada (que supostamente “serve para alguma coisa”) e pesquisa “puramente acadêmica” é falsa.
“Nenhum país é capaz de sustentar o desenvolvimento tecnológico a longo prazo sem pesquisa básica forte”, afirma ela. “Além disso,hoje a distância entre a pesquisa básica e a inovação tecnológica está muito mais curta, as descobertas ganham aplicações com maior velocidade.” Ela cita o fato de que, na UFSCar, as pesquisas em química e física (em tese, puramente “acadêmicas”) estão entre as que mais rendem patentes, ou seja, ideias prontas para serem transformadas em produtos.
O governador “parece estar mal assessorado, mal informado ou ambos”, disse à Folha o sociólogo Rodrigo Augusto Prando,professor do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas da Universidade Presbiteriana Mackenzie. “Os políticos usam e abusam de conhecimentos oriundos da sociologia em suas estratégias de campanha e suas ações públicas.” Para Prando, não se pode descartar a possibilidade de que o governador tenha “sutilmente” ironizado Fernando Henrique Cardoso, um do principais sociólogos do país e oponente do governador dentro do PSDB.

Fonte: Folha de S.Paulo

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