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Mosquitos da discórdia

Publicado em 24/08/2015 • Notícias • Português

A mera expressão “”mosquito transgênico”” soa ameaçadora para a maioria das pessoas. A reação visceral se explica pela conturbada introdução dos organismos geneticamente modificados no dia a dia, duas décadas atrás, cujos ecos ainda se fazem ouvir na forma de preconceitos irracionais.

O inseto foi desenvolvido pela empresa britânica Oxitec, incubada na Universidade de Oxford e que abriu uma filial em Campinas para vender no Brasil seu produto de combate à dengue. Mas ela anda tropeçando na burocracia.

O mosquito é o Aedes aegypti, cujas fêmeas adultas transmitem os vírus da dengue ao sugar o sangue de humanos. A Oxitec inseriu na sua linhagem OX513A um gene que faz a descendência morrer antes de chegar à fase alada.

É um transgene conhecido como autolimitante. Soltos na área com incidência de dengue, os mosquitos transgênicos inseminam fêmeas silvestres, que após a cópula ficam indisponíveis para outros machos. Toda a prole morre. Após algumas liberações no ambiente, a tecnologia pode reduzir em até 95% a população local de A. aegypti.

Nenhum país tem um trâmite estabelecido para liberar essa tecnologia em escala comercial. Isso não impediu a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) de autorizar, em abril de 2014, a liberação dos insetos OX513A no Brasil.

Nos EUA, a agência de fármacos e alimentos (FDA) decidiu no final de 2014 usar o canal de registro de medicamentos veterinários para processar a demanda da Oxitec. A empresa enviou uma série de dados exigidos e espera fazer lá, em breve, o ensaio de campo decisivo.

Por aqui, a Oxitec precisa da aprovação não só da CTNBio mas também da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). O primeiro contato com o órgão se deu em maio de 2014, antes de iniciado o processo na FDA, mas não obteve definição sobre o procedimento.

A Anvisa informa que ainda avalia questões sobre segurança e eficácia da tecnologia e que não é possível estimar um prazo para o processo. Como a dengue ameaça bater novos recordes neste ano e a questão da segurança já foi dirimida pela CTNBio, resta a da eficácia.

O combate tradicional ao mosquito se mostrou insuficiente. Mesmo que o OX513A não se revele um exterminador tão eficaz quanto inseticidas, seria uma ferramenta a mais, com as vantagens de não ser tóxico nem exigir que moradores abram suas casas para agentes de saúde.

Espera-se que a Anvisa passe ao largo dos preconceitos antitecnológicos e acelere, tanto quanto possível, o processo de registro dos mosquitos transgênicos.

Fonte: Folha de S.Paulo

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