Ciências da vida atraem investidores
Publicado em 29/02/2016 • Notícias • Português
As startups de tecnologia ligadas às ciências da vida vêm ganhando força em escala global e também no Brasil. Saúde humana e animal, meio ambiente e agronegócio estão entre as áreas mais promissoras.
Com ideias criativas, foco em demandas emergentes e um grande potencial de retorno financeiro, essas empresas despertam a atenção de investidores que não têm pressa. Sua maturação tende a ser mais longa que na Tecnologia da Informação (TI), pois atuam em mercados bastante regulados. Para ganhar experiência e tempo, muitas delas buscam o apoio de aceleradoras de negócios.
O fluxo de capital de risco para as ciências da vida passou a ganhar volume há dois ou três anos, constata o médico Carlos Zago, diretor da Berrini Ventures, pioneira na aceleração de startups de saúde no Brasil. “Nosso sistema de saúde é arcaico e a maioria dos hospitais ainda tem dificuldades para assimilar novas tecnologias, então há um grande campo para as novas empresas resolverem problemas do setor”. Um dos papéis de sua aceleradora é fazer a ponte entre os empreendedores e os operadores do mercado.
Entre as startups que participaram do ciclo de seis meses de aceleração na Berrini Ventures estão a Vitta, criadora de um sistema de gestão integrada para consultórios médicos; a Oxiot, que fabrica um dispositivo para monitorar o consumo de oxigênio medicinal com o uso da internet das coisas; e a Flowing, focada na redução de custos de saúde evitáveis de clientes corporativos. Alguns empreendimentos nasceram de investigações em ciência básica que depois evoluíram para aplicações. É o caso da Epistemic, de São Paulo, que criou método não-invasivo para prever surtos de epilepsia com antecedência média de 25 minutos.
A inovação resulta do trabalho da física aposentada Hilda Cerdeira, pesquisadora voluntária da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Ao estudar a teoria do caos, que trata da imprevisibilidade na natureza, ela desenvolveu um cálculo matemático que permite transformar os sinais caóticos do eletroencefalograma em padrões identificáveis. Hilda criou a Epistemic em 2014 junto com sua filha, a engenheira eletricista Paula Gomez. A meta delas é construir um aparelho portátil que o paciente utilize na cabeça, conectado a smartphones.
“Queremos melhorar o dia a dia das pessoas que não trabalham por sofrer preconceito e das crianças que não podem brincar em parquinhos”, diz Paula, lembrando que há 65 milhões de epiléticos no mundo. Desses, 4 milhões são brasileiros.
As sócias colocaram R$ 200 mil no negócio e pretendem criar um protótipo para começar os testes clínicos este ano. Será necessário investir R$ 3 milhões para lançar o produto no mercado mundial até 2018, estima a empreendedora. Multinacionais como a IBM e a Abbott já demonstraram interesse. Em 2015, a Epistemic obteve a segunda colocação no Desafio Pfizer, concurso que incentiva ideias inovadoras na saúde. A startup recebeu mentoria gratuita de três meses com executivos da farmacêutica e participou de um programa de aceleração na Berrini Ventures.
O primeiro lugar no concurso da Pfizer foi conquistado pela iCare, plataforma de monitoramento da saúde de idosos com tecnologia “vestível”, criada por três empreendedores de Belo Horizonte. Uma pulseira monitora os sinais vitais e detecta quedas, enviando o alerta aos smartphones dos familiares em caso de acidente. “Temos previsão de lançamento comercial em maio”, conta uma das sócias, Ana Claudia da Mata. Ela está confiante no potencial do negócio, pois no Brasil há 23 milhões pessoas com mais de 65 anos, segundo o IBGE. Quase 4 milhões moram sozinhas.
Outro produto em desenvolvimento é uma pulseira que vibra na hora de tomar um medicamento, conectando-se com uma caixinha que avisa o nome do produto e a dose correta. A iCare foi uma das cinco selecionadas pelo Startup Chile, criado pelo governo chileno para estimular empreendimentos com alto potencial.
Para o diretor comercial da Pfizer Brasil, Vagner Pin, as startups de saúde estão produzindo coisas muito interessantes e “o melhor no momento é estar perto delas”.
Fonte: Valor Econômico