Volume das exportações brasileiras sobe, mas receita continua em queda.
Publicado em 29/04/2016 • Notícias • Português
As exportações brasileiras avançam em quantidade, mas rendem cada vez menos. E o fenômeno não vale só para commodities: o aumento no volume das vendas de produtos industrializados, de maior valor agregado, não é acompanhado por receitas maiores.
Com a desvalorização do real, os empresários brasileiros tiveram espaço para realizar um “repasse cambial”, justificou André Leone Mitidieri, economista da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). “Eles puderam reduzir os preços em dólar para tornar os produtos mais atraentes e ganhar mercado lá fora”, afirmou o especialista.
No primeiro trimestre deste ano, os 155,698 bilhões de quilos de vendas brasileiras renderam US$ 40,573 bilhões. Em igual período de 2015, o volume foi 14,4% menor (133,296 bilhões de quilos) e a receita, 5,4% maior (US$ 42,775 bilhões).
Outro fator que afeta o rendimento das exportações é a redução do consumo mundial. “A economia do planeta está crescendo em um ritmo menor. Com menor demanda, os preços tendem a cair”, disse Mitidieri.
A diminuição do retorno com as vendas de manufaturados, por exemplo, é causada também pelo arrefecimento da economia latino americana, onde estão alguns dos maiores compradores de produtos brasileiros, e pelo crescimento da concorrência de outros países.
José Luiz Pimenta, professor de relações internacionais da ESPM, exemplificou: “empresários daqui enfrentam concorrência crescente de chineses, americanos e europeus em países como Colômbia, Chile, Peru e México”.
Entre janeiro e março deste ano, foram vendidos 12,181 bilhões de quilos em manufaturados, alta de 13,6% na comparação com 2015 (10,721 bilhões de quilos). Enquanto isso, as receitas recuaram 1,7%, para US$ 16,474 bilhões.
Commodities mais baratas
A mesma situação foi registrada, neste ano, em negociações de produtos básicos, com recuo de 5,4% na receita (US$ 17,379 bilhões) apesar do crescimento de 18% no volume (129,770 bilhões de quilos).
“Tivemos uma série de negociações com outros países e um acesso a novos mercados, o que favoreceu os embarques de produtos básicos, como minério de ferro, soja, milho, carne bovina. Mas a queda global nos preços das commodities impediu uma melhora das receitas”, afirmou Pimenta.
A mesma situação foi registrada para semimanufaturados. Os embarques dos produtos intermediários renderam 8,5% menos em três meses de 2016 (US$ 6,249 bilhões), ainda que o volume de exportações tenha crescido 11,2% (12,284 bilhões de quilos).
Principais produtos
Em três meses deste ano, o volume de embarques dos cinco produtos básicos mais vendidos – soja, minério de ferro, milho, petróleo e carne de frango – aumentou na comparação com igual período de 2015. Mesmo assim, só foi registrado crescimento nas receitas para milho e soja.
A situação dos manufaturados mais vendidos foi mais equilibrada. Cresceram os volumes de automóveis, aviões, óxidos de alumínio e polímeros de etileno, enquanto caiu a quantidade negociada de partes e peças para veículos. Os valores recebidos aumentaram no caso de automóveis, aviões e polímeros de etileno, mas caíram para óxidos de alumínio e peças para veículos.
Já os semimanufaturados tiveram pior rendimento. Os volumes cresceram para celulose, açúcar, ligas de ferro, couros e peles e produtos de ferro ou aço. As receitas só avançaram nas vendas de celulose.
Importações em queda
Por outro lado, a queda no valor gasto por brasileiros no exterior é acompanhada por um recuo no volume importado. Entre janeiro e março deste ano, foram comprados 32,851 bilhões de quilos por US$ 32,186 bilhões, ante 38,235 bilhões de quilos por US$ 48,235 bilhões em igual período do ano passado.
A intensidade da diminuição, entretanto, também afetou mais o valor (-33,3%) do que o volume (-14,1%). Segundo Mitidieri, a queda na demanda global mais uma vez justifica o descompasso registrado nas negociações.
Na separação por fator agregado, recuaram os volumes importados de produtos básicos (-5,4%, para 15,768 bilhões de quilos) e manufaturados (-23,9%, para 15,068 bilhões de quilos). Já as importações de semimanufaturados aumentaram 14,8% em 2016, para 2,014 bilhões de quilos.
A lista de mercadorias mais compradas pelos brasileiros é composta por manufaturados: medicamentos, peças para veículos, petróleo, circuitos integrados e automóveis. Neste ano, houve aumento no volume e nos gastos com medicamentos, enquanto todos os outros números recuaram.
Os entrevistados ressaltaram que a queda nas importações é causada pela fraqueza na atividade econômica. Eles destacaram também que o recuo das compras, especialmente de bens de capital (manufaturados), pode afetar a produtividade do País no longo prazo.
Fonte: DCI