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‘Sujeira’ tolerada em alimentos vai de pelo de capivara a inseto inteiro

Publicado em 29/08/2016 • Notícias • Português

Saiu no “Diário Oficial” da União: a geleia de morango analisada em laboratório tinha nada menos que um tipo de fungo, duas larvas mortas e um pelo inteiro de roedor.

Se os dois primeiros achados já indicavam que a situação andava mal, o último tinha até uma referência: o pelo estava “acima do limite máximo de tolerância” indicado pela legislação.

O lote do produto acabou proibido, como mostrou a edição de segunda-feira (22) da publicação do governo. Mas sobrou a pergunta: afinal, é permitido ter alguma dose, mínima que seja, de pelo de roedor na comida?

Questões como essa têm se repetido nas redes sociais a cada nova suspensão feita pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) relativa a alimentos.

E a resposta, por estranha que pareça, é positiva. Ela existe desde 2014, quando a agência editou uma norma para definir quais “matérias estranhas” aos alimentos são proibidas e quais são toleradas até certos limites (o que inclui fragmentos de insetos e de pelos de roedores).

Antes, não havia uma regra específica sobre o tema.

“Então pode estar comendo pedacinho de patinha de barata? É claro que não. Qualquer agente que seja patogênico não é permitido”, explica a gerente de avaliação de risco e eficácia de alimentos da Anvisa, Lígia Lindner.

Segundo ela, a norma separa duas situações: o que pode causar risco à saúde e o que, a partir de certa quantidade, pode indicar falha nas “boas práticas” de produção.

Assim, insetos que podem causar doenças ou que circulam no lixo, como baratas e moscas, são completamente vetados, inteiros ou em partes. Rato, morcego, pombo também não podem ser vistos por ali. “Nenhum alimento pode ser repugnante.”

‘SUJEIRA’ TOLERADA

Aí vem a segunda situação: a polêmica “sujeira” tolerada, como fragmentos de insetos ou de pelo de roedor. “São coisas que não se enxerga a olho nu, mas que se encontra em análise em laboratório.”

O objetivo era trazer limites para a presença de fragmentos de insetos que podem ser encontrados na produção do alimento no campo -muitos deles inviáveis de serem retirados. O mesmo vale para os tais fragmentos de pelo.

“Não é que vai ter uma criação de rato na indústria”, diz Lindner, que lembra que os Estados Unidos têm norma semelhante. Lá, por exemplo, tolera-se dez fragmentos de pelo de roedor em 50g de canela em pó. Aqui, apenas um.

“Isso assusta. Mas as pessoas se esquecem da matéria-prima que entra nos produtos industrializados”, explica Rinaldini Tancredi, professora de higiene e controle de qualidade na Unirio.

Roberta Züge, do Conselho Científico de Agricultura Sustentável, lembra que muitos insetos são usados para controle biológico no campo. “Coloca-se um outro que seria predador e ele acaba vindo junto com o alimento no momento da colheita.”

Já o vestígio do pelo de roedor pode ser de um rato-do-campo ou capivara, bichos que procuram plantações em busca de alimentos, sobretudo devido à rotação de culturas -com tomate e milho.

Segundo Tancredi, a presença de um fragmento de pelo não traz riscos para a saúde se estiver dentro dos limites, definidos em estudos sobre a frequência desses materiais e impacto no produto.

“Como o produto passa por um processo de esterilização industrial, não tem risco, pois as bactérias morrem com o calor”, diz. Já uma quantidade maior deve gerar alerta.

E não dá para baixar os limites a zero? Especialistas dizem ser difícil -a tendência, porém, é ser mais restritivo após avanços na tecnologia. Mas há um consenso: é preciso aumentar o controle na indústria e fiscalização.

“Precisamos de vigilâncias mais estruturadas”, diz Jane Castro, pós-doutoranda em vigilância sanitária na Fiocruz. Ela recomenda que o consumidor (“o maior fiscal”) fique atento a qualquer diferença no produto.

Hoje, a maioria dos casos de fragmentos acima do limite é identificado após análise por amostragem. Desde 2014, foram 13 suspensões da Anvisa de lotes de extratos de tomate, açúcar, canela e chocolate por esse motivo. Medidas semelhantes podem ocorrer a nível estadual e municipal.

OUTRO LADO

Em nota, a Abia (associação da indústria de alimentos) diz que “sempre houve controle em relação à presença desses fragmentos” e que a legislação brasileira é uma das mais rígidas. “Muitos países não regulamentam a questão.”

Diz ainda que “o alimento passa por diversas etapas no processo industrial, impedindo que qualquer impureza cause danos à saúde”.

Fonte: Folha de São Paulo

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