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Setor em transformação

Publicado em 30/08/2018 • Notícias • Português

O mercado de produtos para saúde cresce no mundo todo e cria oportunidades para novos players. Esse cenário é evidenciado com o envolvimento crescente da indústria da tecnologia da informação na área da saúde, as parcerias criadas com empresas do setor e a proliferação de startups. Surgem novos aplicativos, novas tecnologias e soluções decisivas para melhorar a sustentabilidade do sistema e sua produtividade.
Suíça, Islândia, Suécia, Coréia do Sul e Itália são referências mundiais em healthcare, setor que engloba o mercado de cuidados com a saúde e assistência médica.
Além do uso de recursos tecnológicos para desenvolvimento de seus sistemas de saúde, a extensão demográfica desses países, em sua maioria pequenos em território, favorece o controle e aplicação de medidas igualitárias. Ainda fazem parte da lista Estados Unidos, Canadá, Europa Ocidental e Japão, por já lidarem com o envelhecimento da população há algum tempo e discutirem a saúde pública e privada – o envelhecimento da população é um fator fundamental para o planejamento estratégico dos setores público e privado, visto que o número de incidência de doenças crônicas cresce e, consequentemente, a necessidade de suporte de produtos (medicamentos, equipamentos médicos etc) e serviços (atenção farmacêutica, maior acesso aos médicos, entre outros) para a prevenção de novas doenças ou ganho de qualidade de vida.
“Cada vez mais os aplicativos e startups estão sendo aprimorados, modificando a maneira de se exercer a medicina, o ensino médico, e a própria relação médico-paciente, porque possibilitam, entre inúmeras opções, monitoramento e atendimento à distância. Essas inovações conferem maior responsabilidade ao paciente pela gestão da própria saúde e, além de beneficiá-lo, geram economia para as operadoras e para o sistema de saúde como um todo”, diz Carlos Goulart, presidente executivo da Associação Brasileira de Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde (Abimed).
O si st ema de saúde brasileiro também passa por uma série de transformações.
Tecnologia de ponta já é encontrada em hospitais de renome que contribuem para o tratamento mais efetivo do paciente.
Por aqui, há um mercado crescente, com demandas igualmente crescentes neste sentido. O setor de healthcare ganhou maturidade nos últimos anos, apesar da crise econômica e aumento significativo de custos que limita a capacidade do governo para lidar com as necessidades da população.
“O mercado vem em uma transformação crescente desde 2014, quando o capital estrangeiro passou a ser permitido no Brasil. Antes disso, vivia de modelos de gestão mais tradicionais. Desde então, se profissionalizou e eu acredito que há espaço para consolidação, principalmente para o setor hospitalar. Isso deve continuar nos próximos anos”, garante o sócio-diretor da KPMG, Daniel Greca.

Aplicação e oportunidades 
Além de contar com milhares de produtos e dos mais sofisticados equipamentos a commodities de uso hospitalar, o setor vem se transformando com a Internet das Coisas, a nanotecnologia, a inteligência artificial e a realidade aumentada, que são fundamentais para melhorar a sustentabilidade do sistema de saúde. A difusão da tecnologia dentro deste mercado gera inteligência e soluções imprescindíveis, em médio e longo prazos, para uma melhor utilização dos recursos e redução dos desperdícios, o que proporciona diminuição de custos, entrega de melhores resultados aos pacientes e maior acesso a uma assistência mais assertiva.
Entre as ferramentas mais disseminadas estão os sistemas de Gestão da Saúde ou de Gestão Hospitalar, mais conhecidos por Healthcare Information System (HIS), assim como o Big Data. Por meio dele, o desenvolvimento de indicadores que podem ser utilizados para a gestão,definição do perfil do paciente, interação medicamentos, estratégias de conduta médica, entre outros, estão ganhando espaço e se transformando em tendência.
Além desses, a utilização de ferramentas com tecnologia móvel, como os smartphones, para monitorar remotamente o paciente, cresce rapidamente. Mas, onde estão as oportunidades no Brasil? “Vejo a integração entre a saúde pública e a saúde privada. “Existe um abismo entre as duas saúdes, embora pelo menos do ponto de vista teórico isso deveria estar em conjunto.
O país tem uma oportunidade gigante de fazer essa junção, sempre pensando no cidadão lá na ponta, que é quem vai receber o serviço”, aposta Greca.
Contudo, é preciso mitigar ou diminuir a necessidade de serviço de saúde, trabalhando de uma forma preventiva e olhar ampliado para o paciente, de uma forma mais integrada. “Essa integração parece simples, mas ela passa por princípios básicos, como ter acesso a todas as informações e histórico do paciente.
Passa pelo prontuário eletrônico único, pela integração das informações e compartilhamento entre todos os elos da cadeia, seja público ou privado, porque o paciente pode ter um plano privado, mas tomar uma vacina em um posto de saúde do município, por exemplo”, elucida Eliane Kihara, sócia da PwC Brasil. Passa, ainda, por uma estrutura de atenção primária em que o paciente tenha um médico ou um conjunto de profissionais com familiaridade com o seu histórico para fazer o acompanhamento e encaminhá-lo adequadamente para um atendimento secundário e terciário, se necessário. “A lógica parece óbvia, mas existe ainda um gap enorme dentro do Brasil para se atingir esse nível de integração para, no final do dia, otimizar a utilização de recursos”.

Autocuidado atrai as empresas 
Uma pesquisa global feita pela IQVIA apontou que uma em 20 buscas no Google são relacionadas à saúde e que 60% da população tende a tomar um medicamento isento de prescrição antes de marcar uma visita ao médico. Ainda de acordo com o levantamento, 95% das pessoas concordam que o autocuidado está fortemente relacionado à responsabilidade pela própria saúde,67% procuram monitorar os problemas de saúde, 59% usam produtos isentos de prescrição para gerenciar os sintomas do dia a dia, 83% dos consumidores acham que os websites e apps os ajudam na dieta e 81% dos shoppers pesquisam online antes de fazer grandes compras.
“Os números refletem o autocuidado, que vemos hoje como tendência, e explicam a atratividade de trabalhar tecnologia no segmento de saúde”, declara Rodrigo Kurata, diretor da Unidade de Negócios Consumer Health da IQVIA.
Atualmente são mais de 320 mil aplicativos de saúde existentes no mundo e mais de 1 mil wearablese clinicai devices disponíveis para o consumidor, desde apps no formato gamification para a gestão de doenças crônicas até aparelhos transdérmicos para controle de nicotina, chatbots, inteligência artificial por voz e Google Assistant, que em breve deve ir para o caminho de serviços de saúde, segundo o executivo. “Tudo isso já é realidade no Brasil e a penetração dessas ferramentas de saúde está cada vez maior, o que certamente contribuirá muito com a eficiência do setor”.
Porém, é preciso disseminar o conceito de autocuidado, que passa principalmente pelo conhecimento da população sobre a gestão da própria saúde. “Infelizmente o brasileiro é reativo às doenças e não se previne adequadamente para melhorar sua saúde física e mental”, diz Kurata, alegando que muitos dos problemas poderiam ser evitados se as pessoas tivessem consciência sobre como se cuidar, desde um bom sono e alimentação até o conhecimento sobre o uso de medicamentos isentos de prescrição para suas dores do dia a dia (sem precisar recorrer ao posto de saúde, hospital ou SUS).

Tecnologia na prática 
A Amil é uma das empresas de saúde que investem em tecnologia. Na companhia, o big data é aplicado na análise avançada de dados que dão suporte às decisões administrativas e assistenciais.
“Por meio dele, identificamos os beneficiários com maior potencial de adesão a iniciativas de gestão de saúde, os clientes que mais fazem uso do sistema e as razões que os levam a isso, e o caminho percorrido por um cliente insatisfeito, entre outras informações”, explica o diretor de crescimento e inovação em produtos, Mario Saddy.
Na área clínica, a aposta é no projeto de Natural Language Processing (NLP) que analisa os dados carregados pelos médicos que usam o sistema da companhia para atualização do prontuário do paciente. A ferramenta faz uma leitura inteligente das anotações, que vão desde observações clínicas a resultados de exames, e interpreta os dados, sinalizando prováveis relações com doenças específicas. Em seguida, essas informações são salvas em um grande banco de dados Clinicai Data Warehouse (CDW), para posterior atuação dos cientistas de dados.
O objetivo é gerar insights para gestão médica.
Outra ferramenta, o MCG, permite o compartilhamento das melhores diretrizes clínicas baseadas em evidências científicas, de forma online, entre médicos que atuam diretamente em hospitais próprios e credenciados de nove estados brasileiros. Com a iniciativa, aponta Saddy, foram registradas, em 2016 e 2017, quedas de 26% e 16% no tempo médio de internação hospitalar e em unidades de terapia intensiva, respectivamente, e de 3% na mortalidade do grupo de pacientes monitorados.
Já no campo da Gestão de Saúde Populacional, utilizamos a inteligência artificial para ajudar a prever a progressão de doenças crônicas em determinados pacientes.
Esse processo envolve a identificação, a estratificação e a análise de populações de clientes da Amil, além de subsidiar ações estratégicas de cuidado.
Há ainda o sistema de Gestão Inteligente de Leitos, por meio do qual é possível otimizar o processo de ocupação pelos pacientes internados, considerando variáveis como agendamento, necessidade dos médicos, tipo de cirurgia, deslocamento até o hospital e até tempo de higienizaçãoe liberação do leito.
Saddy enxerga a necessidade de transformação do mercado. “Ações de cuidado coordenado,equipamentos de alta geração, técnicas inovadoras e capacitação profissional proporcionarão cada vez mais qualidade de vida e segurança para pacientes e beneficiários. Nesse sentido, a tecnologia será fundamental para a análise de dados e o cruzamento de informações de forma rápida e eficiente, apoiando a tomada de decisões”, acredita, ressaltando que, atrelado aos resultados que a tecnologia oferece, está o olhar do profissional. “E por meio das pessoas que conseguimos oferecer um atendimento qualificado e acolhedor, tornando a experiência dos beneficiários ainda melhor dentro da nossa rede”, aponta.

Desafios 
Com a globalização, os profissionais de saúde no Brasil têm à disposição a mesma tecnologia utilizada por países desenvolvidos.
Contudo, alguns pontos acabam prejudicando a aplicação das ferramentas, como a desigualdade social e a falta de investimento nessas tecnologias, principalmente na saúde pública.
“Além das dificuldades financeiras, do envelhecimento populacional e dos problemas de gestão, um dos principais desafios é a gestão de pessoas. No Brasil, ainda temos dificuldade na contratação de mão de obra qualificada, dificuldade em alocar profissionais em regiões distantes dos grandes centros, além da falta de profissionais em especialidades específicas”, completa Jocelmo Pablo Mews, diretor de Gestão de Pessoas da Pró-Saúde Associação Beneficente de Assistência Social e Hospitalar.
O sistema de remuneração brasileiro também é um entrave, pois não é sustentável. É preciso evoluir para um sistema de remuneração por performance e não por procedimento.
O envelhecimento da população, o aumento de doenças crônicas, avanços tecnológicos, demanda reprimida, setor público sobrecarregado, entre outros, são outros fatores que impactam diretamente no mercado de saúde no Brasil. Para fazer frente a esses itens, questões importantes devem ser levadas em conta, tais como reformas na saúde, redução de custos, qualidade, segurança do paciente e infraestrutura. “Diante da burocracia do setor público e do dinamismo na saúde, cada vez mais se faz necessário o aumento das parcerias públicas e privadas para gerir o setor”, diz Mews.

Fonte: Revista Apólice

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