Comprar da China agora requer agilidade
Publicado em 03/04/2020 • Notícias • Português
Se o Brasil quiser comprar produtos de saúde na China, precisa ser ágil, pagar à vista e transportar rapidamente o material de avião. Do contrário, outro país passará na frente, em meio ao desespero global por equipamentos de proteção da saúde.
É o que dizem fontes que acompanham movimentação brasileira tentando comprar na China de máscaras, luvas, respiradores, kit de testes e equipamentos de proteção (roupas, óculos), mas de forma até agora bem pouco organizada.
Não é só o Ministério da Saúde que quer comprar. Várias empresas brasileiras e também Estados têm tomado iniciativa. Está tudo em andamento e poucos negócios foram realmente fechados com os brasileiros, segundo essas fontes.
“É preciso pagar na hora, pega e leva. Do contrário, o país vai ficar recebendo na base do pinga-pinga, com preço e qualidade mudando o tempo todo”, diz um especialista.
Alguns comerciantes brasileiros até conseguiram comprar produtos médicos na China, mas não estão em condições de enviá-los para o Brasil por falta de recursos para fretar aviões, por exemplo. De navio, a carga demora muito a chegar.
A expectativa é que o Ministério da Saúde consiga agora melhor resultado nas suas tentativas de compra, depois de um acerto com uma trading que conhece tanto o mercado brasileiro quanto o chinês, para concentrar os negócios.
Não é fácil fazer os negócios atualmente na China. De um lado, há certas fábricas que hesitam em vender a estrangeiros. Também há tentativas de fraudes, leis complicadas e outras dificuldades.
Além disso, comerciantes dos EUA colocam todo seu peso para obter sua encomenda antes dos outros, por exemplo. Nesta semana, o chefe executivo da região Grand Est (onde fica Estrasburgo), Jean Rottner, relatou que uma carga de máscara que a região francesa tinha encomendado foi tomada por um comprador americano na pista do aeroporto.
Segundo o francês, os americanos dobraram o preço e embarcaram as mascaras. Também há rumores de que um carregamento que passou pela Flórida para outro país da América Latina teria sido confiscado pelos EUA.
“Se chega alguém com mais dinheiro, leva a encomenda do outro”, diz um conhecedor das práticas atualmente na China. Além disso, tem a questão de qualidade. Kits de testes já causaram problemas ao governo da Espanha, por não ser eficazes. O governo chinês passou a endurecer e exigir credenciamento de seus vendedores.
Às vezes ocorre também de o país comprador dar especificações erradas e, portanto, receber o material de saúde errado na atual pandemia. O item mais demandado é respirador. A China produz mais de 100 milhões de máscaras por dia, e não para de surgir comprador. A França encomendou 600 milhões de máscaras e enviou 12 grandes aviões para transportar a carga. Os EUA também organizaram recentemente 22 voos com material de saúde chinês.
Com a forte demanda global, o preço dos respiradores disparou. Antes da pandemia pagava-se algo entre US$ 7 mil e US$ 8 mil pelo equipamento. Ontem, o valor já era de US$ 25 mil, atingindo até US$ 30 mil. “Há casos de fornecedores rompendo contratos, pagando multa, para vender a mercadoria por um preço maior para outro”, disse Franco Pallamolla, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Equipamentos (Abimo).
De acordo com Pallamolla, a demanda atual no Brasil pelos ventiladores pulmonares é maior do que produção nacional de um ano. A indústria local produz entre 10 mil e 12 mil respiradores, anualmente. “Só essa última demanda do Ministério da Saúde é de 15 mil”, afirmou.
Atualmente há no Brasil, 61 mil respiradores pulmonares em operação, segundo Fernando Silveira, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para a Saúde (Abimed). As entidades destacam que há uma dificuldade para aumentar a produção no Brasil porque as peças para fabricação dos respiradores também são importadas e há falta deles no mercado. (Colaborou Beth Koike, de São Paulo)
Fonte: Valor Econômico