ABIMED debate as iniciativas de inovação aberta durante a #Fisweek
Publicado em 13/05/2022 • Notícias • Português
Em 4 de maio, a ABIMED foi convidada a apresentar um painel no evento #Fisweek, um dos maiores encontros de lideranças e especialistas de diversos setores da saúde na América Latina. O tema abordado foi “Implicações da inovação aberta em saúde”, com a moderação do presidente executivo da Associação, Fernando Silveira Filho, e a participação de dois importantes especialistas no assunto.
O primeiro a se apresentar foi o engenheiro Marco Belgo, CEO do InovaHC, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), onde também desenhou e implantou o InLAB – Innovation and A.I. LAB. Por esta perspectiva do um hub de inovação, ele falou sobre a importância de firmar parcerias com a indústria para trazer mais tecnologia para o setor de saúde. “Nós começamos a discutir o tema da inovação aberta a partir do nosso programa aqui no Hospital das Clínicas, porque tínhamos aquela ideia de que, realmente, para fazer diferença, precisaríamos trabalhar dessa maneira. Sair daquela ideia de que a nossa base de conhecimento interno traria a inovação de que necessitávamos, por mais qualificada que seja. Partimos da convicção de que as bases de conhecimentos que estão em outras empresas e universidades, mesmo que de outros segmentos, tinham uma importância tão grande quanto a nossa”, declarou.
O especialista acrescentou que, ao fazer essa parceria, a intenção sempre foi buscar um programa que fizesse sentido para a saúde, a fim de realmente resolver problemas, sempre focando na jornada do paciente, para torná-la mais rápida e mais adequada ao que as pessoas esperam. “Durante esse processo percebemos que ao fazer essa troca de informações, muitas inovações que não faziam sentido aqui dentro, ao se tornarem permeáveis, foram para outros locais onde fizeram muito mais sentido. E a recíproca é verdadeira. Muitas coisas que tínhamos problemas para resolver, encontraram solução quando começamos a trabalhar com a indústria. Esta é a grande riqueza desses programas de inovação aberta, porque você realmente consegue potencializar algo”, explica Belgo.
O CEO do InovaHC lembra que o programa de inovação aberta envolve também a gestão de risco. “Os associados da ABIMED, quando adotam essa inciativa precisam avaliar o risco do que podem levar ou não para o programa, a exemplo de um segredo industrial que ainda não podem repartir. Todos os parceiros precisamos zelar pelos seus interesses, porque é assim que um plano de inovação se faz com confiança e qualidade, isso que gera frutos. À medida que esse sistema vai funcionando melhor, com a integração público-privada, envolvendo as universidades, a sociedade civil organizada e os governos, isso realmente tende a criar um local onde se congregam e se discutem iniciativas que fazem sentido. Mas você precisa zelar por toda essa parte do risco e de análises regulatórias específicas”, conclui.
Para o presidente-executivo da ABIMED, a questão da inovação aberta, sobretudo no contexto das parcerias entre os centos de pesquisa e a indústria, nos remete a um ponto importante: a formação profissional. “A demanda por esse tipo de profissional está se acelerando desde antes da pandemia. E durante a crise sanitária foram muitos os desenvolvimentos que evoluíram rapidamente e outros que surgiram. Eu imagino que, em breve, iremos nos deparar com algum tipo de GAP nessa área, tanto na formação quanto na disponibilidade de profissionais”, disse.
Na sequência, o engenheiro Manuel Coelho, Head de Inovação para a América Latina da Siemens Healthineers, e coordenador do Comitê de Tecnologia e Inovação da ABIMED, abordou o tema da inovação aberta sob a perspectiva de uma grande empresa do segmento de equipamentos e dispositivos médicos. Ele fez uma revisão histórica daquilo que a Siemens vem desenvolvendo há décadas, para apresentar um pouco do conceito de inovação, ou seja, a habilidade de aplicar o conhecimento na prática. “A inovação é uma grande ideia, mas ela só faz sentido se eu tiver como aplicá-la, transformá-la em algo que realmente faça sentido. Costumamos dizer que a inovação é a invenção com nota fiscal. Você tem que ter a preocupação de realmente lançar essa nova ideia como um produto ou um processo”, declarou.
Ele também apresentou um mapa do Global Innovation Index 2019 que mostra onde estão localizados, hoje, os principais centros de desenvolvimento de inovação. “Há uma concentração gigantesca no hemisfério norte, na América do Norte, na Europa, na China e a Índia, de grandes polos de desenvolvimento no mundo. Em termos de indústria, a Siemens mantém um mapa muito semelhante na localização de seus próprios centros. Olhando para o mapa, você percebe que o grande crescimento da população está exatamente naqueles locais onde esses centros de desenvolvimento não estão. Quando você começa a refletir sobre isso percebe que há necessidade de trazer um outro olhar para a inovação”, destacou.
Ao abordar o tema da inovação aberta em si, o especialista apontou que, na atualidade, as grandes inovações saem, muito provavelmente, não mais da bancada, mas sim de constantes interações com os clientes, pois são eles que mostram quais são as necessidades do momento. “Há essa mudança de perfil, em que a indústria sai dos grandes centros desenvolvedores e começa a escutar muito mais o mercado para saber o que, efetivamente, é necessário para que possamos continuar na vanguarda da tecnologia. Esta é uma das principais justificativas que explica a decisão de abrir o nosso laboratório de Inteligência Artificial junto com o HC para desenvolvermos projetos em conjunto, o que, para nós, é um motivo de muito orgulho”, declarou Coelho.
O presidente-executivo da ABIMED reforçou essa perspectiva ao comentar que a inovação na área da saúde, como forma de melhorar a vida das pessoas, é a tônica do setor que a Associação representa. “Temos evoluções incrementais a cada 18 ou 24 meses, além das inovações disruptivas que aparecem. É um setor de alta produtividade em termos de inovação, justamente visando isso: a melhoria da qualidade de vida das pessoas. A cooperação é fundamental e você. Manuel, trouxe esse dado bastante atualizado. Hoje sabemos que não há ninguém melhor que a pessoa que está na outra ponta da cadeia para saber o que é necessário. É o profissional ou a empresa que lida com aquele produto ou processo todos os dias”, declarou Silveira Filho.
Caminhos para a inovação aberta
Para finalizar o debate, o moderador colocou em questão quais são os caminhos para vencer eventuais barreiras à plenitude de um processo colaborativo aberto cada vez mais forte. Para Marco Belgo, a melhor maneira de vencer obstáculos é apresentar as histórias de sucesso, mas existem aspectos estruturais que são preocupantes. “Um deles é parte regulatória, que ainda precisa ser mais bem integrada. A gente sabe que no Brasil 80% da população usa o Sistema Único de Saúde. E como é que o governo compra a melhor inovação? Então essas coisas precisam ser estruturadas, porque precisamos vender para esse mercado também”, disse. Manuel Coelho mencionou o tema do compliance, que sempre está posto nas mesas de discussões. “Devemos ter muito cuidados para não apenas salvaguardar a empresa, mas também a instituição”, ressaltou. O presidente-executivo da ABIMED acrescentou que “em saúde, tudo o que pudermos fazer para as coisas darem certo tem que ser feito. Principalmente em um país com tantas disparidades como o nosso, todos esses avanços são fundamentais”.
Por fim, os debatedores abordaram a questão da conectividade, sob a perspectiva de que o 5G deverá promover um salto quântico monumental em uma série de coisas, na mobilidade, na precisão, na consistência das conexões, o que será também importante para impulsionar as iniciativas de inovação aberta. “O sucesso, daqui para frente, será definido pelo quão rápido a empresa se dispôs a aceitar essa nova forma de fazer inovação. Não vejo outra forma no momento de fazer inovação de uma maneira célere sem que seja nesse modelo mais aberto, mais inclusivo”, declarou Belgo.
“Não nos faltam boas universidades e profissionais competentes aqui na nossa região, no Brasil. A grande vantagem que temos na América Latina é que enfrentamos dificuldades que o restante do mundo não tem. Por exemplo, o 5G aqui não é só para eu ter uma conexão mais rápida, mas para viabilizar o acesso à saúde. São alguns impulsionadores que vão muito além do aspecto meramente tecnológico”, apontou Coelho.
Fonte: ABIMED