Associações apoiam escolha de Levy para o BNDES
Publicado em 13/11/2018 • Notícias • Português
Considerado bom negociador e elogiado pelo conhecimento técnico adquirido na iniciativa pública e privada, a escolha de Joaquim Levy para presidir o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) foi elogiada por associações de diferentes setores da economia. A expectativa é que o novo dirigente consiga tornar o banco de fomento mais eficiente na concessão de recursos para projetos para estimular na retomada econômica e, principalmente, que deixe claro qual será a política industrial a ser adotada pelo novo governo.
Na avaliação de José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), Levy sempre esteve aberto ao diálogo nos diferentes cargos que ocupou e seu bom senso poderá ser útil para ajudar o BNDES nessa fase de retomada da economia.
— Ele é muito adequado para ocupar esse cargo. Ele tem muito bom senso nas suas discussões e é muito tranquilo. O Levy sempre teve boa vontade para resolver os problemas a ele apresentados. É a pessoa certa na hora certa — disse.
O dirigente da Cbic, no entanto, ressaltou que serão muitas as demandas que Levy terá que lidar. Da parte da construção civil, o dirigente ressalta que é importante que construturas de porte menor tenham acesso aos financiamento do BNDES, o que aumentará a concorrência no setor.
Até setores da economia com um histórico tumultuado com o BNDES estão otimistas com a nomeação de Levy. É o caso das concessionárias de rodovias, que desde o governo de Dilma Rousseff criticam o banco pela escassez de crédito para as obras de modernização previstas em contratos das estradas repassadas à iniciativa privada a partir de 2012, já na gestão da petista, a exemplo das BRs 163 e 153, nas regiões Centro-Oeste e Norte.
Na visão do presidente da Associação Brasileira de Concessionária de Rodovias (ABCR), César Borges, a confirmação de Levy é positiva porque ele tem conhecimento das carências da infraestrutura no Brasil. A qualidade técnica do nome indicado ao BNDES é um fator que, para Borges, supera eventuais preocupações com o rigor de Levy no combate a déficits na máquina pública demonstrado no governo Dilma.
— Esperamos que ele tenha outro papel agora no BNDES e pense na função do banco, que é fomentar o desenvolvimento econômico e social — disse Borges.
Nas contas da ABCR, há R$ 12 bilhões de investimentos represados por causa de restrições de crédito colocadas pelo banco às concessionárias, em boa medida pela combinação da crise econômica e dos escândalos de corrupção em empreiteiras (algumas delas também concessionárias de rodovias) revelados pela Operação Lava-Jato.
Em setores da infraestrutura com menos enroscos com o banco, a expectativa é que o banco possa servir como alavanca para a retomada dos investimentos no país. No caso das geradoras de energia eólica, em que 90% dos aportes financeiros para as novas usinas vieram do BNDES — o equivalente a R$ 36 bilhões até junho de 2018. Nas palavras de Élbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), o nome de Levy é um “golaço” do governo de Jair Bolsonaro por ter tido experiência em governos de vários níveis. Além disso, tem uma capacidade de ouvir o mercado e é uma figura boa de trabalhar.
— Como é um economista formado na Universidade de Chicago, o discurso dele é liberal e vai na linha do uso eficiente dos recursos públicos. A economia brasileira precisa dessa austeridade. No mais, ele está entrando num governo que entende o efeito multiplicador dos investimentos em infraestrutura para a economia, o que deve garantir o papel do banco nessa área — diz Élbia.
Definição de política industrial
Apesar dos elogios, as associações estão preocupadas com a postura que o BNDES deve ter no novo governo, uma vez se há dúvida se o banco continuará tendo um espaço central na concessão de crédito ao setor produtivo ou se vai encolher para dar espaço ao financiamento privado. A segunda alternativa é vista com ressalvas por Milton Rego, presidente executivo da Associação Brasileira do Alumínio (Abal).
— Não podemos jogar fora a água da banheira com o bebê dentro. Ou seja, não dá para acabar com as linhas de crédito de juro baixo e de longo prazo, essenciais num país com histórico de pouco crédito, especialmente às empresas de pequeno e médio porte — avaliou Rego.
Há ainda preocupações com a falta de definição do governo Bolsonaro sobre políticas industriais que dependem de um BNDES ativo como fonte de concessão de crédito.
O BNDES é muito importante no financiamento à inovação no Brasil, mas o volume de recursos para essas linhas não têm saído na quantidade que a gente gostaria — diz Carlos Alberto Goulart, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para a Saúde (Abimed).
A preocupação com a falta de definições dessas políticas também está no discurso de Heitor Klein, presidente da Abicalçados, que representa a indústria calçadista.
— Fala-se numa abertura comercial unilateral e abertura do mercado interno aos importados. Como a equipe de Bolsonaro não desmente essas conversas, o quadro segue nebuloso. Esperamos que o BNDES siga apoiando o empresariado brasileiro num cenário de maior abertura comercial — reforçou Klein.
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Fonte: O Globo Site