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Boas práticas do home office: como garantir melhores condições de trabalho em casa

Publicado em 19/05/2020 • Notícias • Português

Boas práticas do home office: como garantir melhores condições de trabalho em casa

Especialistas dão dicas para manter bons hábitos trabalhando em casa, por parte da empresa e do funcionário

Por Pablo Santana

16 maio 2020 08h30 – Atualizado 4 dias atrás

SÃO PAULO  –  A necessidade de distanciamento imposta pelas medidas adotadas para conter o avanço da Covid-19 promove uma grande reestruturação no modelo de trabalho das empresas brasileiras, que se viram obrigadas a adotarem o home office para continuar funcionando em meio à crise.

Uma pesquisa feita pela Cushman&Wakefield com empresas brasileiras revelou que 40,2% das empresas não trabalhavam com a modalidade antes da crise e vão adotá-la de forma permanente após o fim das restrições sociais.

No mês de maio, as vagas de emprego em home office na Trampos, plataforma de empregos voltada para área de tecnologia e inovação, cresceu 26%. Desde o início da pandemia, o site tem registrado aumento gradual nas ofertas para esse tipo de contratação.

“Muitas empresas antes da pandemia não tinham em sua política o trabalho home office. Algumas por um certo “preconceito”, por não ter o total controle do que seu funcionário está fazendo em casa, outras porque acreditavam que naquela função ou setor não era possível trabalhar remotamente. Acredito que torne sim uma tendência após as empresas entenderem, mesmo que na “marra”, que esse formato de trabalho é possível e até agregador para a organização”, afirma Tiago Yonamine, especialista em recrutamento e CEO do trampos.co

O contexto atual intensifica o processo de transformação digital nas organizações, que serão forçadas a se movimentar para manter a competitividade e a relevância, segundo o relatório Tendências de Marketing e Tecnologia 2020: Humanidade Redefinida e os Novos Negócios.

Realizado por André Miceli, diretor executivo da Infobase e coordenador do MBA em marketing, inteligência e negócios digitais da Fundação Getulio Vargas (FGV), o estudo criado com base nas respostas de tomadores de decisão e gestores de 100 empresas, pontua que novos métodos precisam ser estabelecidos, com foco na entrega de valor constante e na agilidade das atividades por meio de novos tecnologias.

Empresas que têm um cenário de operação muito manual e sem processos digitalizados, sofrerão muito em uma realidade de home office. O processo de análise, reorganização e tomada de decisão precisa acompanhar o ritmo das mudanças, diz o estudo.

O número de organizações que adotaram o modelo em sua rotina corporativa já vinha apresentando crescimento antes da adesão emergencial por conta da pandemia. Dados da consultoria Hays apontam que entre 2017 e 2018, a adesão havia crescido de 35% para 51%.

Com a nova realidade, as empresas precisam reformular seus processos internos e promover melhorias com o intuito de garantir um ambiente sustentável. O pragmatismo no meio corporativo é essencial nesse novo momento para que a gestão e a comunicação seja efetiva, de acordo com Lucas Oggiam,  diretor da Michael Page e Page Personnel.

O executivo destaca que manter uma estrutura home office atualmente é uma questão de segurança, porque a nossa realidade atual, na maioria dos casos, não permite trabalhar de outra forma. “Acima de tudo é uma questão de tomada de decisões, em que os gestores precisam fazer entender que o mais seguro pra todos nós é ficar em isolamento e fazer essa transição como sociedade”, diz.

A implantação do home office requer atenção devido a questões de segurança de dados, além das preocupações com a prestação do serviço, relacionamento e performance. A primeira responsabilidade, segundo Oggiam, é investir o máximo possível na infraestrutura – através da criação de políticas de reembolso para compras de equipamentos e disponibilização de rede privada de acesso remoto -, para que o funcionário esteja apto a trabalhar de casa.

“Um dos grandes gargalos no Brasil é fazer com que as pessoas físicas tenham uma rotina para trabalhar de casa, por isso é importante garantir que se tenha uma área em casa dedicada exclusivamente para o trabalho e evitar misturar as demandas”, explica.

Evitar barulho é outro ponto central para conseguir manter a produtividade durante o trabalho remoto. Douglas Enoki, gerente de arquitetura da IT’S Informov, acredita que os novos hábitos devem aumentar a preocupação das pessoas em criar espaços adequados para o trabalho em suas residências.

“Trabalhar em condições precárias em casa pode resultar em perdas de atenção e foco na produtividade. Entendo que devemos investir cada vez mais nas casas e no conforto do colaborador, com iluminação, acústica e isolamento bem pensados. Isso se assemelha ao que já está sendo aplicado nos escritórios, com conceitos como biofilia e neuroarquitetura, sempre pensando no bem-estar e na produtividade das pessoas”, resume Enoki,

Para Márcio Cavalcante, especialista em RH da Maeztra, consultoria especializada em canais de venda para o varejo online e omnichanel, estabelecer uma relação de confiança com o funcionário que trabalha remotamente é outro caminho para tornar o home office mais efetivo.

“É muito mais barato confiar do que controlar as pessoas. Tem empresas que acabam instalando câmeras na máquina ou ferramentas que tiram prints para monitorar os funcionários e esse nível de controle maior acaba fazendo com que as pessoas tenham uma ação de contracontrole e dificultando o andamento das atividades”, explica Cavalcante.

A empresa com sede em São Paulo, já atuava na modalidade home office antes da pandemia, com funcionários em outros estados e países estabelecendo acordos a respeito de horários, comunicação nos meios oficiais e evitando ferramentas de controle.

A questão da produtividade está ligada a ansiedade, então tentamos deixar claro que as pessoas têm um período de trabalho e entendemos que elas não precisam focar 100% do seu tempo para ser produtiva. Produtividade não é quantidade de trabalho, mas sim qualidade da entrega e a pessoa só entrega algo bom quando ela se sente bem, explica o head da Maeztra.

Diante do cenário, as empresas também estão readaptando suas rotinas produtivas para ajudar funcionários com filhos ou pais que exige cuidados durante a pandemia. Lucas Oggiam, do Page Group, reforça ainda que as empresas precisam investir na saúde mental dos seus colaboradores para evitar fadigas.

“Recomendamos as pessoas a se alimentarem bem, investir em hobbies produtivos e se exercitar para que possam manter a sanidade mental nesse período. O mais indicado é prosseguir com a rotina do trabalho presencial e vestir roupas leves – exceto em casos de reuniões virtuais, que demandam traje adequado -, além de ter uma atenção maior na rotina para não relacionar a vida pessoal com o momento profissional”, reforça Oggiam.

Apesar da mudança, uma pesquisa feita pelo site de empregos Catho, revela que 65% dos profissionais em home office estão aproveitando a quarentena para realizar outras atividades além do trabalho.

O levantamento indica que 54% estão fazendo pequenos cursos online, enquanto 52% estão atualizando seu currículo e/ou portfólio durante o período.As outras atividades se concentram em cursos de qualificação (45%), participação de palestras, webinars e/ou workshop (28%) e aprendizado de um novo idioma (27%). Leitura, tempo com a família, meditação e exercícios físicos também integram a lista.

“Cada profissional, a sua maneira, está descobrindo formas de equilibrar o momento. Alinhado ao turbilhão de mudanças, muitos também têm procurado se qualificar profissionalmente, já vislumbrando um cenário pós-pandemia, onde os mais preparados sairão na frente”, destaca Ricardo Morais, gerente sênior de Marketing da Catho.

Do outro lado, criar uma agenda e estabelecer horários possíveis para manter um bom rendimento no trabalho (mesmo em casa) é um movimento importante para se dar bem nesse nova fase o e não misturar as rotinas, nem exceder as horas de trabalho.

A neurocientista Thaís Gameiro, sócia da Nêmesis, empresa que oferece soluções corporativas na área de Neurociência Organizacional, explica que essa mudança de rotina repentina e o contexto em que estamos inserido dificulta a manutenção dos índices de produtividade registrados nos profissionais que trabalhavam em home office anteriormente.

Nesse contexto caótico, o trabalho virou uma espécie de válvula de escape e, por outro lado, ele acabou se tornando uma dificuldade porque existe essa cobrança de que as pessoas sejam mais produtivas no home office, diz Gameiro.

A especialista ressalta que o planejamento é fundamental para criação da nova rotina, estabelecendo horários de início e finalização do trabalho, colocando no papel também os planos que a pessoa deseja executar no dia e definir a viabilidade das atividades.

Outro fator que tem gerado gatilhos nas pessoas e precisa ser levado em consideração, segundo Thaís, é a busca pela máxima produtividade no teletrabalho. O momento em que vivemos torna essa condição um pouco inalcançável e fazer uma gestão de tempo durante o período – eliminado a expectativa da performance além do esperado se faz necessário.

“Não sabemos por quanto tempo iremos ficar isolados, provavelmente precisaremos ficar reclusos e o trabalho terá que continua acontecendo remoto e não se pode ficar trabalhando horas a mais por tempo indeterminado. Aceitar que o nosso cérebro até pra ser mais produtivo no trabalho precisa descansar e se dedicar a outras atividades é uma forma de ressignificar o que é o nosso tempo livre”, pontua.

Fonte: InfoMoney

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