Controle está na palma da mão do paciente
Publicado em 01/08/2016 • Notícias • Português
A preocupação com a saúde tem aquecido o segmento de aplicativos para dispositivos móveis. “A tecnologia possibilita a criação de novos modelos de atendimento”, diz Mônica Araújo, diretora da Hospitalar – feira internacional de produtos, equipamentos, serviços e tecnologia para hospitais, laboratórios, farmácias, clínicas e consultórios. Nos últimos anos, a executiva viu crescer o número de startups com sistemas capazes de colocar o controle da saúde na palma das mãos dos pacientes.
Entre as opções, ela destaca um aplicativo europeu, o CardioSecur, capaz de realizar um eletrocardiograma, com o uso de um celular e um conjunto de eletrodos adaptados para a entrada dos fones de ouvido. “Se o paciente cardíaco sente um mal-estar, ele mesmo posiciona os eletrodos e aciona as funcionalidades de medição”, explica Mônica. A tecnologia reduz o pânico de quem está em tratamento e reúne dados que podem ser enviados ao médico. “Em caso de suspeita de infarto, o atendimento é feito de forma rápida, evitando sequelas”, afirma.
No Brasil, as incubadoras de empresas também veem crescer o número de startups dedicadas à saúde. Centros de inovação como o do Hospital Israelita Albert Einstein e incubadoras da Universidade de São Paulo (USP) buscam novatas para ampliar o portfólio de soluções.
Da tese de doutorado de Karla Melo, PhD em endocrinologia pela Faculdade de Medicina da USP, e portadora de diabetes tipo 1, surgiu a base científica para o aplicativo GlicOnline, que permite o controle do diabetes.
De acordo com Gabriel Schon Moreira, sócio fundador do GlicOnline, a principal vantagem está no fato de o portador de diabetes ter autonomia em seu tratamento. No aplicativo, é possível registrar os resultados do teste de medição do açúcar no sangue – aquele no qual o paciente fura a ponta do dedo para tirar uma gota de sangue – e os alimentos consumidos em cada refeição. “O sistema cruza os dados e ajusta a dose do remédio”, explica Moreira.
Segundo ele, o acompanhamento permite maior liberdade ao paciente. “Quem tem diabetes vive impedido de comer, fica constrangido em festas e reuniões e acaba isolado”, diz. Quando o paciente tem a possibilidade de registrar o alimento e dosar o medicamento corretamente, tem condições de levar a vida com mais qualidade. O controle também evita desnutrição. “Sem saber o que comer, o diabético tende a repetir sempre o mesmo prato, comprometendo a ingestão de nutrientes”, afirma.
Ao acessar o aplicativo, o paciente pode convidar o médico e o profissional de nutrição para compartilhar os dados. Dessa forma, o médico entende em quais horários do dia o diabético tem picos ou quedas na taxa de açúcar. Já o nutricionista consegue saber os alimentos que mais afetam a doença.
“Também criamos funcionalidades para que cuidadores tenham as informações sobre medicação, alimentação e procedimentos de socorro, dando maior segurança a idosos e crianças”, lembra Moreira. A humanização, aliás, é uma das preocupações percebidas na maior parte dos aplicativos desenvolvidos pelas startups.
Incubada no Cietec (da USP), a Sollis desenvolveu a Receita Segura. A plataforma une médicos, pacientes e rede credenciada (farmácias e laboratórios) e garante prescrição segura e legível de medicamentos. Carlos Eli Ribeiro, sócio fundador da Sollis, explica que é comum pacientes tomarem remédio errado, atrapalhando o tratamento. E não é só questão de ler a receita. Segundo Ribeiro, quando a farmacêutico está envolvido no processo, ele vai indicar a forma certa de tomar a medicação. No balcão, ele ainda tem condições de alertar o paciente se ele estiver levando outro remédio que não pode ser tomado em conjunto. “Às vezes, o doente acha que uma aspirina não vai causar nenhuma reação adversa”, diz. Pela plataforma, o médico ainda é informado de que o paciente comprou o medicamento e foi instruído.
A Receita Segura agrupa cerca de seis mil usuários. Ribeiro, no entanto, aposta em um salto capaz de ampliar a base para 14 milhões. “Estamos negociando com as redes Onofre e Droga Raia “, afirma Ribeiro.
Fonte: Valor Econômico