A posição destacada de sexto m aior mercado farmacêutico do m undo, com vendas internas no patam ar de R$ 60 bilhões por ano, coloca o Brasil também entre os grandes compradores mundiais de medicamentos.
Em 2018, as importações brasileiras de produtos farmacêuticos somaram US$ 7,2 bilhões, alta de 9,8% na comparação com US$ 6,5 bilhões do ano anterior. Aí estão remédios acabados, semiacabados, vacinas, hem oderivados e demais produtos. Enquanto isso, as exportações do segmento recuaram 4,8%, ficando ligeiramente abaixo do nível anual de USS 1,2 bilhão dos últimos anos.
Conclusão: o déficit da balança comercial de produtos farmacêuticos bateu recorde de US$ 6 bilhões no ano passado, 13% acima do saldo negativo de US 5,3 bilhões em 2017, segundo dados de comércio exterior do Ministério da Economia.
O desequilíbrio se repete em 2019.
Nos quatro primeiros meses do ano, o déficit foi de USS 1,9 bilhão, 11,8% acima de US$ 1,7 bilhão de janeiro a abril de 2018. “O crescimento das importações resulta do aumento real nos preços de matérias-primas e produtos acabados adquiridos lã fora, e não, necessariamente, de incremento de consumo interno de medicamentos, na mesma proporção”, diz o presidente-executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma), Nelson Mussolini.
A volatilidade cambial afetou as exportações, que amargaram quedas nos principais mercados em 2018. Para os Estados Unidos, com US$ 163 milhões, o recuo foi de 3,4%.
Para a Dinamarca, de 18% (USS 143 milhões), e para a Argentina, de 8,6% (USS 126 milhões).
Com a crise argentina, as vendas brasileiras de medicamentos para o Mercosul, de U$ 153,6 milhões, caíram 7%. A Argentina representa 77% do mercado da região. Os desequilíbrios, porém, não surpreendem diante da forte dependência por insumos importados. Mussolini lembra que 95% das matériasprimas processados intemamente são adquiridas no exterior.
Os números mostram mudanças importantes no perfil da pauta de importações brasileiras, com participação crescente de medicamentos de origem biológica, de última geração e elevado custo. Com aquisições de USS 2,38 bilhões, as quatro principais categorias de biológicos responderam por um terço das importações de fãrmacos em 2018.
“A maneira correta de combater o déficit é promovendo exportações e não restringindo importações.
Não há país no m undo autossuficiente no setor farmacêutico”, diz a presidente-executiva da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), Elizabeth de Carvalhaes, preocupada com quedas de participação dos produtos farmacêuticos na pauta de exportações do Brasil. Esta caiu de apenas 0,6% em 2015 para 0,42% em 2018.
“O Brasil tem enorme espaço para inserção global. Mas, para avançar, é preciso vencer barreiras de infraestrutura, regulatórias e tributárias”, afirma Carlos Goulart, presidenteexecutivo da Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para a Saúde (Abim ed), que reúne setores de equipamentos, aparelhos, materiais e acessórios.
Segundo ele, a balança comercial de produtos para a saúde mantémse inalterada nos últim os anos, com déficits anuais em torno de US$ 4,7 bilhões. Em 2018, as exportações atingiram US$ 670 milhões e as importações, US$ 5,4 bilhões.
Itens de alta tecnologia, no entanto, responderam por quase 90% das vendas externas e por cerca de 65% das importações, de acordo com dados da Abimed. Os Estados Unidos lideram a lista de fornecedores de equipam entos hospitalares e são também os maiores compradores de produtos médicos brasileiros.
“Há demanda interna reprimida, e está aumentando”, diz Goulart. Ele refere-se a investimentos em aquisições e ampliação de hospitais, clínicas e laboratórios, que ajudaram na alta de 2,7% nas importações (para US$ 837 m ilhões) no prim eiro trimestre de 2019, em relação a igual período de 2018. As exportações somaram US$ 147 milhões e o déficit comercial, US$ 690 milhões.
Projeções da Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos e Odontológicos (Abim o) indicam desempenho tímido das exportações das indústrias filiadas em 2019, com receita estimada em US$ 500 milhões -26% abaixo dos US$ 679 milhões de 2018. Larissa Gomes, responsável por projeto de prom oção comercial da entidade, diz que a crise econômica faz com que as empresas concentrem negócios no mercado interno, onde os resultados são mais rápidos. Com isso, as exportações se retraem, porque demandam maiores investimentos, com retom o de mais longo prazo.
Larissa diz que 25% das vendas extemas de produtos médicos são realizadas por empresas do projeto Brazilian Health Devices, desenvolvido em conjunto com a Apex-Brasil. Na maioria, pequenas e médias empresas, com vendas para 139 países.
A Baumer, fundada há 107 anos, é uma delas, com exportações para 36 países em todos os continentes, que representam 15% do faturamento da indústria. Implantes ortopédicos e biomateriais de odontologia, além de equipamentos de esterilização e controle de infecção, são os destaques. “É intenso o trabalho para aumento de exportações”, diz Ruy Baumer, CEO da companhia, prevendo receitas de US$ 6 milhões, 35% maiores que as de 2018. Para isso, a Baumer obteve novas certificações na África e na Ásia e vem ampliando representação na América Latina. O executivo conta que, embora com expansão de 4%, as vendas externas em 2018 foram impactadas pela crise da Argentina, importadora de implantes ortopédicos brasileiros.
Paulo Calixto, diretor financeiro da Angelus, também conta com o m ercado internacional. Cerca de 50% de seu faturam ento vem de exportações, com duas principais linhas: cimentos biocerâmicos e pinos e fibras, usados na endodontia.
Seus produtos estão nos Estados Unidos, Europa, Ásia e América Latina. Segundo ele, as incertezas econômicas e políticas no Brasil afetam os negócios internos. Em compensação, a valorização cambial neste ano ajuda as exportações.
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Fonte: Valor Setorial – Saúde