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EM BUSCA DE ESCALA E NOVOS MERCADOS

Publicado em 18/10/2016 • Notícias • Português

Com o envelhecimento da população e a consequente mudança do perfil epidemiológico – maior incidência de doenças crônicas e degenerativas, que são mais complexas e caras -, o custo da saúde vem aumentando e tende a crescer mais. Some-se a esses fatores um quadro de retração econômica, no qual tanto governo-que responde por 50% das compras da área da saúde – quanto a iniciativa privada reduzem investimentos.
Equilibrar essa equação e inovar é o grande desafio da indústria.
Em 2015, houve uma queda de 9,3% no consumo de produtos para a saúde, depois de crescer aproximadamente dois dígitos durante quase uma década, de acordo com a Associação da Indústria Brasileira de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde (Abimed). O setor, que abrange uma variada gama de dispositivos médicos como produtos para diagnóstico por imagem, diagnóstico in vitro, materiais implantáveis, ortopédicos, oftalmológicos, odontológicos, audiologia e suprimentos médico hospitalares, fechou o primeiro semestre de 2016 com uma redução do consumo aparente de 16% – total da produção adicionada às importações e subtraída das exportações – e redução de 12% na produção.
“A expectativa é que essa tendência de retração se mantenha ao longo do ano e comece a ser revertida gradativamente em 2017”, afirma Carlos Goulart, presidente-executivo da Abimed. Houve um pequeno aumento nas exportações de produtos para oftalmologia, mas, em média, todos os segmentos registraram queda devido aos problemas de recursos públicos das três esferas de governo e ao êxodo de trabalhadores demitidos dos planos de saúde privados.
Apesar de os indicadores estarem em queda em função do quadro recessivo, o Brasil tem uma grande demanda não atendida. Para evitar prejuízos na assistência, as empresas do setor adotaram soluções como customização dos equipamentos médicos e dos softwares para atender às necessidades específicas de cada hospital e clínica de acordo com o porte do estabelecimento, volume de atendimento e suas características.
“Se a instituição de saúde faz atendimento mais básico ou mais especializado, evita comprar itens fora do seu escopo de atendimento”, destaca Goulart.
A indústria procura aumentar a produtividade dos equipamentos, com softwares que permitem um maior número de exames sem aumentar a base instalada e sem perda de qualidade. Outra solução é colocar as máquinas em rede para que produzam mais com menos erros, evitando repetições de exames; e o desenvolvimento de equipamentos que utilizem cada vez menos papel e filmes. “Os fornecedores oferecem pacotes integrados de venda de hardware e software, que incluem planos de manutenção customizados de acordo com o porte do cliente”, afirma.
Outra estratégia que se tornou uma nova área de negócios para as empresas é dar consultoria de gestão para auxiliar instituições de saúde a aumentar a eficiência e reduzir perdas. Muitos hospitais e clínicas estão migrando de uma atuação familiar ou filantrópica para a profissionalização da gestão e, como não têm tradição nessa área, contratam a indústria para apoiá-los nesse processo.
Em 2015, houve uma queda de 17% nas importações e de 3,1% nas exportações. A desvalorização do real teve grande impacto no setor, que é bastante dependente de produtos vindos de fora. No primeiro semestre de 2016, a tendência se manteve com uma queda de 13% nas importações e de 25% nas exportações.
A instabilidade do câmbio não permitiu que a indústria aproveitasse os períodos de alta do dólar para ampliar as exportações.
A Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos e Odontológicos (Abimo) prevê uma queda no faturamento do setor em 10% neste ano. Os segmentos de ortopedia e odontologia registram vendas um pouco melhores que os demais, mas áreas como imagem, descartáveis e consumíveis, em função de restrições orçamentárias do governo e dos Estados, não vão bem, afirma Paulo Henrique Fraccaro, superintendente da entidade.
Continuar lucrativo nesse ambiente de retração exigiu novas estratégias. Para a fabricante de ventiladores pulmonares Magnamed, significou ampliar seu canal de distribuição para novas regiões e investir em equipamentos portáteis e de mais fácil manejo pelo paciente.
“Nosso foco foi simplificar o uso dos aparelhos com o desenvolvimento de um sistema de ajuste instantâneo dos parâmetros de ventilação por meio de comandos intuitivos, o que permite a operação com parâmetros pré-ajustados de forma rápida, fundamental para a preservação da vida”, afirma Tatsuo Suzuki, diretor de projetos especiais da Magnamed.
Já a Fanem, fabricante de incubadoras e equipamentos neonatais,decidiu apostar no mercado externo para manter a lucratividade. Com sede em São Paulo, iniciou há alguns anos seu processo de internacionalização com a abertura de fábrica na índia e um escritório na Jordânia, e hoje exporta para mais de cem países.
Além disso, vai inaugurar uma terceira fábrica fora do país, no Parque Tecnológico de Guadalajara, no México, até o fim deste ano. “Vamos atender à demanda mexicana, que tem uma elevada taxa de natalidade e consome cerca de US$ 40 milhões por ano em equipamentos neonatais”, afirma Djalma Luiz Rodrigues, diretor-executivo da Fanem.
De acordo com ele, o governo mexicano é um forte comprador, respondendo por 75% das compras de equipamentos neonatais realizadas no país. “Instalar-se fisicamente será fundamental para ampliar os nossos negócios no México, especialmente diante das regras de comércio, com previsão dessa unidade produzir o equivalente a 25% do volume anual da fábrica brasileira”, afirma Rodrigues.
A Fanem tem forte presença na América Latina e no Oriente Médio e vem investindo em novas frentes comerciais no continente africano.
“As exportações representam cerca de 35% do faturamento. Em comparação a 2015, houve um aumento de 14% nas vendas para o mercado externo”, diz Rodrigues. A aposta no mercado externo, segundo ele, se justifica. A empresa venceu uma série de licitações para fornecer incubadoras a hospitais públicos brasileiros, mas os pedidos não foram efetivados. “Já nos hospitais privados, embora estejamos conseguindo fechar vendas, os valores ficaram bem abaixo do esperado”, afirma.
Na contramão da crise, o mercado de diagnósticos in vitro tem crescido acima de dois dígitos na última década. Os hospitais e laboratórios não podem abrir mão da tecnologia e demandam cada vez mais soluções em diagnóstico que tragam mais eficiência. O paciente brasileiro tem acesso a menos exames em comparação com outros países, ou seja, falta acesso. De acordo com dados da Câmara Brasileira de Diagnóstico laboratorial (CBDL), no Brasil são feitos em torno de oito exames anuais por habitante, ante uma média de 23,6 testes por habitante por ano nos países europeus. Ocorrências globais têm obrigado laboratórios e hospitais a agilizar a demanda por testes de detecção de agentes infecciosos, com exemplos recentes como o zika vírus, chikungunya e H1 NI.
“Isso demanda das empresas que produzem ou importam insumos para diagnóstico in vitro investimento maciço em pesquisa e registro de novos testes, como também cria grandes perspectivas para empresas que atuam nessa área”, diz Claudia Goulart, presidente da Vyttra Diagnósticos, que prevê um crescimento de 15% neste ano.
Como os laboratórios de diagnóstico não costumam ser especialistas em uma área específica, há demanda para que disponham de portfólio completo de todos os tipos de testes disponíveis no país. Muitas vezes os pequenos laboratórios regionais não têm todos os testes disponíveis, enviando o exame para laboratórios maiores. “Isso significa grande diferencial para uma empresa que fornece um amplo portfólio de equipamentos e insumos.” Além de oferecer mais de três mil itens, entre equipamentos, kits, fitas e reagentes, a Vyttra vai investir no segmento de biologia molecular, a nova geração da medicina diagnostica.
“Nosso foco são as soluções que possam substituir protocolos existentes de outras dezenas de testes, com diagnóstico rápido, qualificando e tipificando o resultado sem exigir uma superestrutura.” Nessa área, a tendência é que novos métodos façam diferença no acesso do paciente, custo do laboratório e hospital e assertividade do diagnóstico para o médico. Um bom exemplo é a medicina biomolecular” point of care”, ou seja, testes que podem ser feitos à beira do leito do paciente. Eles não substituem os exames laboratoriais mais complexos, porém são uma alternativa de diagnóstico em casos em que a rapidez fará diferença na eficácia do tratamento, caso de várias doenças infecciosas. Serão importantes também no caso dos pacientes que têm doenças crônicas e poderão passar a fazer o controle em sua casa. Hoje os diabéticos controlam o nível de açúcar no sangue várias vezes ao dia, utilizando uma fita e um medidor de glicose. Esse tipo de recurso poderá ser estendido a outros problemas crônicos, facilitando o tratamento, melhorando a qualidade de vida dos pacientes e permitindo redução de custos.

Fonte: Valor Setorial – Saúde

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