Hospitais universitários em BA e SE têm obras e equipamentos parados

Publicado em 05/04/2016 • Notícias • Português
O Jornal Hoje vai mostrar agora a situação de hospitais universitários de duas importantes capitais do Nordeste. Os dois têm obras e equipamentos parados. Enquanto isso, quem paga o preço, mais uma vez, são os pacientes. A reportagem é de Mauro Anchieta, de Salvador, e Priscila Bitencourt, de Aracaju.
ARACAJU
Quem anda pelo hospital universitário em Aracaju parece que está em um canteiro de obras.
“É muito complicado, tanto para os pacientes como para os funcionários, estar circulando nessa poeira, no sol e na chuva do dia a dia”, conta a enfermeira Sineide Souza Maia.
Só que, em vez de gente trabalhando, está tudo parado. O prédio foi projetado para ser a unidade materno-infantil do hospital, para atender grávidas de risco e recém nascidos. Era para ter também uma unidade de oncologia. Só que, em vez disso, o que existe é uma obra parada: nenhum operário, silêncio total. São sinais de abandono: tem muito entulho jogado e pior ainda é quando a gente para para olhar bem de perto. É que, em vez de um hospital ganhando forma, virou uma espécie de depósito improvisado.
A equipe de reportagem achou equipamentos juntando poeira como camas automáticas e mobília divindo espaço com material de construção.
Em outro prédio, que é um anexo do hospital, começou a ser reformado, mas a obra parou ano passado. Do lado de fora dá para ver os dois andares sem terminar, e dentro o espaço é apertado. Falta lugar para guardar esses equipamentos que ficam no meio do corredor, com máquinas novinhas paradas dentro das caixas.
O hospital está em obras há quatro anos e já foram gastos R$ 6 milhões. Segundo a direção, nesse tempo, duas construtoras que começaram as obras faliram. Agora virá a terceira.
“O nexo hospitalar e a obra deverá ser finalizada até possivelmente em agosto desse ano ainda. o materno infantil, finalizando a licitação esse ano ainda as obras deverão ser reiniciadas possivelmente a partir de janeiro de 2017”, diz Eraldo Nascimento Oliveira, chege da divisão de logística e infraestrutura hospitalar do hospital universitário.
Para o seu Afrânio, que esperou por um ano para voltar ao médico, o jeito é ter paciência: “Se fosse um negócio pago, um negócio tal, já tinha saído. Você tá entendendo? Mas não tem como”, diz o lavrador José Afrânio da Silva.
SALVADOR
Seu Cornélio é um dos muitos pacientes do interior da Bahia que vêm de longe para se tratar no Hospital Universitário Edgard Santos, em Salvador. “A gente sai de lá às 2h da manhã para chegar aqui às 6h da manhã, para esperar até as 14h30 para marcar uma consulta com datas prolongadas”, conta o agricultor Cornélio Santos.
O hospital é da UFBA (Universidade Federal da Bahia). Em 2011, 16 obras de ampliação foram iniciadas para melhorar as condições de atendimento, mas a maioria não foi concluída. Oito delas estão completamente paradas.
A equipe de reportagem entrou na nova ala de internação pediátrica do hospital. Se essa unidade já estivesse funcionando, o número de leitos para as crianças teria aumentado de 47 para 73. Dá para perceber que a ala está praticamente pronta e os banheiros têm até box. Toda a instalação elétrica para receber os aparelhos também foi feita. As obras estão paradas desde 2012, e o que é pior: não há previsão de volta.
Paulo mora no sertão da Bahia e levou três meses para marcar uma cirurgia para o filho Tales. “Se já estivesse funcionando, eu acho que até mesmo no primeiro mês já teria feito essa cirurgia, já estaria livre disso”, diz Paulo Oliveira, trabalhador rural.
A superintendência do hospital diz que essas obras só podem ser retomadas com novas licitações e que não há previsão de recursos para este ano. Segundo o hospital, os trabalhos foram interrompidos na época porque a antiga gestão não prorrogou os contratos com as empresas de engenharia.
“Não foram pedidos aditivos de prazo. Acreditava-se que, mesmo a obra vencendo o prazo contratado, ela continuaria, ela teria seguimento”, diz Antônio Carlos Lemos, superintendente do Hosp. Universitário Edgard Santos.
O hospital conseguiu retomar oito obras que tinham mais de 60% realizados com recursos que já estavam em caixa. Uma delas é a nova ala de cardiologia com 15 leitos, que deve ficar pronta neste ano. A unidade de internação já foi concluída começou a funcionar em novembro passado.
O hospital vem recebendo normalmente recursos dos ministérios da Saúde e da Educação, mas esse dinheiro não é direcionado para grandes obras. Enquanto as reformas não terminam, caixas e mais caixas de equipamentos continuam nos corredores. Entre eles, um aparelho de ressonância magnética que custa R$ 1,5 milhão.
“Tristeza, né? Não sei como se pode dizer, mas eu acho que é o suor de cada um de nós que está lá parado”, afirma a agricultora Ivanete Santos.
O antigo gestor do Hospital Universitário Edgard Santos, de Salvador, Hugo da Costa Ribeiro, declarou que fez tudo que foi possível para que as obras continuassem, mas faltou dinheiro.
Fonte: G1 – Jornal Hoje