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IA é estratégica na transformação digital da saúde, mas custo da tecnologia pode ser desafio

Publicado em 08/11/2024 • Notícias • Português

A inteligência artificial (IA) revoluciona cada vez mais o setor de saúde, trazendo novas abordagens para diagnósticos, tratamentos e gestão de dados. No segundo debate do Paine ABIMED na FISWeek 2024, no primeiro dia do evento (6/11), na capital carioca, especialistas debateram as potencialidades da IA, bem como os desafios regulatórios e práticos para sua incorporação em um setor tão complexo e o futuro dessa tecnologia na saúde.

Marco Bego, Chefe de Inovação do InovaHC e Diretor-Executivo do Instituto de Radiologia do HCFMUSP, apresentou os avanços e desafios encontrados pelo setor de saúde na adoção da IA, especialmente em centros de referência de diagnóstico. 

“Antes da pandemia, já estávamos experimentando a IA para validar áreas afetadas no pulmão pela Covid-19, mas, só depois, com a necessidade ampliada, entendemos o verdadeiro potencial e as limitações da tecnologia. Foi uma oportunidade de experimentar a IA em mais de 50 hospitais pelo país, mas também de perceber o quanto de caminho ainda falta para que se torne algo acessível e plenamente eficiente no sistema de saúde”, compartilhou.

Segundo o especialista, o uso de IA para sintetização de dados e mapeamento de exames tem permitido gerar relatórios mais completos e acessíveis, embora a questão de custos ainda seja um obstáculo. 

“Precisamos encontrar formas de aplicar a IA de maneira sustentável para que ela traga benefícios amplos, e não seja restrita a poucos centros de alta complexidade, avaliou Bego.

Medicina de valor

Eli Szwarc, cardiologista e Diretor de Educação Profissional e Assuntos Médicos da Edwards Lifesciences, também enfatizou o papel estratégico da IA na transformação digital da saúde e na gestão de processos hospitalares. Como coordenador do Grupo de Trabalho em Inteligência Artificial da ABIMED, ele destacou o impacto da tecnologia na cardiologia e na medicina de valor. 

“Estamos passando de um modelo de saúde que estava centrado no hospital e na doença para um focado no paciente e na promoção de saúde. A IA pode proporcionar experiências melhores ao paciente, ao mesmo tempo, em que reduz custos e melhora os resultados. Esse é o conceito de valor em saúde: menores custos, melhores experiências e melhores resultados”, explicou Szwarc.

Para o cardiologista, um dos maiores benefícios da IA é sua capacidade de otimizar a tomada de decisões clínicas, especialmente em contextos de emergência. 

“A interoperabilidade dos sistemas, que permite o compartilhamento de dados, é fundamental. Imagine um paciente que chega ao hospital e já tem todos os seus exames e  histórico prontamente acessíveis. A IA poderia classificar rapidamente o risco e direcionar os recursos de maneira ágil e eficiente”, ilustrou. 

No entanto, ele adverte que os profissionais da saúde devem estar preparados para usar essa tecnologia. 

“Os médicos não serão substituídos pela IA. Mas os que não usam a IA serão substituídos por aqueles que dominam e usam a ferramenta. Ela atua como uma ‘biblioteca viva’ de informações”, declarou o médico.

Regulação e governança da IA

Walquiria Favero, advogada, especialista em Regulação, apresentou uma análise do cenário regulatório e os impactos do Marco Legal da IA para o setor de saúde. Ela expressou preocupação com as discussões no Congresso Nacional sobre o projeto de lei (PL) 2.338/2023, que trata do tema, e as iniciativas do Executivo para uso da tecnologia no país. Para ela, tudo deve ser muito bem debatido para evitar a adição de custos e não desestimular novos investimentos, especialmente para empresas que atuam em mais de um país.

“Existem atualmente mais de 100 normativas em 70 países que regulamentam a IA. No Brasil, o PL 2.338/2023 busca seguir uma lógica semelhante da União Europeia, mas com críticas, pois ele se inspira excessivamente na regulação europeia sem considerar as peculiaridades locais”, explicou.

Walquiria mencionou que o projeto brasileiro ainda está em fase de adaptação e pode passar por modificações significativas. 

“É importante que a autoridade de supervisão da IA seja bem definida. Na saúde, por exemplo, a proposta de emenda apresentada pela senadora Mara Gabrilli (PSD-SP) é que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tenha um papel de destaque na regulação da IA.”

Ela também destacou a importância da transparência e da governança de dados para garantir que as soluções de IA respeitem a privacidade e segurança dos pacientes. 

“No Brasil, quem desenvolve IA de alto risco, especialmente no setor de saúde, terá que implementar medidas rígidas de governança e segurança, além de capacitar continuamente as equipes que lidam com essas tecnologias. Esses são custos que as empresas precisam considerar, mas que também promovem a confiabilidade e a segurança dos dados”, afirmou.

Ao fim do debate, Felipe Dias Carvalho, Diretor Regional de Brasília da ABIMED, sintetizou o papel da IA como um agente potencializador no setor de saúde, destacando que a tecnologia pode aumentar a sustentabilidade do sistema. 

“Sem dados não há inteligência artificial, e é justamente essa ferramenta que pode ajudar na aglutinação e análise dessas informações para embasar decisões clínicas que beneficiem pacientes e profissionais da saúde. Isso gera impacto positivo tanto nos serviços e sistemas de saúde quanto no retorno financeiro”, concluiu.

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