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Médicos dos EUA mudam diretriz para detecção de câncer de colo de útero

Publicado em 23/08/2018 • Notícias • Português

Um grupo de cientistas e pesquisadores influentes denominado U.S. Preventive Services Task Force publicou nesta semana suas novas recomendações para a detecção do câncer de colo de útero, dando agora três opções de teste às mulheres.

O painel americano, que tem grande influência sobre sociedades médicas de todo o mundo, revisa as melhores evidências científicas disponíveis para ajudar médicos e pacientes a tomarem decisões sobre como prevenir doenças, levando em conta riscos e benefícios e custo-efetividade.

Em caso de resultados sem alterações no exame anterior, o grupo recomenda que mulheres de 21 a 29 anos façam o rastreamento de câncer de colo de útero a cada três anos por meio do teste citológico, conhecido como papanicolaou –batizado assim em homenagem ao médico grego George Papanicolaou (1883-1962), que inventou o exame. 
Para mulheres de 30 a 65 anos, as opções da força-tarefa são estas: 1) papanicolaou a cada três anos, 2) teste que pesquisa o DNA dos tipos de HPV de maior risco a cada cinco anos ou 3) a combinação de papanicoloaou e teste de DNA-HPV a cada cinco anos. 

Cabe à paciente e ao médico decidirem qual estratégia seria a mais apropriada.

Segundo o texto da U.S. Task Force, o rastreamento feito com papanicolaou com intervalo menor do que três anos oferece pouco benefício, mas aumenta os prejuízos, incluindo procedimentos adicionais e tratamentos de lesões transitórias que se resolveriam sozinhas. Os efeitos colaterais possíveis desses tratamentos incluem a incompetência istmocervical, que é a incapacidade de o colo uterino manter uma gravidez, e partos prematuros.

Mas o que a recomendação americana muda para as mulheres brasileiras? 

Segundo Cesar Fernandes, presidente da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), as diretrizes do Ministério da Saúde e do Inca (Instituto Nacional de Câncer) já recomendam que o papanicolaou seja feito a cada três anos, desde que os dois primeiros exames, feitos anualmente, não apontem alterações.

Segundo o Inca, se houver infecção pelo HPV ou lesão de baixo grau, o exame deve ser repetido em seis meses. Em caso de lesão de alto grau, o médico decidirá a melhor conduta e outros exames, como a colposcopia, podem ser necessários. 

Na prática, porém, muitas mulheres, principalmente as que têm plano de saúde, fazem o papanicolaou todos os anos.

“A minha geração de médicos aprendeu muita coisa lá atrás com mais base em opiniões de autores do que em evidências. Quando o exame de Papanicolaou surgiu, foi uma revolução na medicina, e naquele momento recomendou-se fazê-lo anualmente. O que mudou de lá pra cá? As evidências científicas mostraram que o exame anual não é necessário, que esse intervalo é seguro, mas está no recordatório de todos o contrário”, diz Fernandes, 67.

E há algum problema em fazer o exame anualmente?

“Problema não há, mas é como medir sua temperatura todos os dias. Faz sentido? Vai aumentar sua segurança? Não vai. As mulheres têm no seu imaginário que precisam fazer todos os anos um exame que é desagradável, mas não há necessidade nem benefício extra em repeti-lo com essa frequência. Muitos médicos, por outro lado, pedem o exame anual ou porque realmente acreditam que é necessário ou porque, do contrário, seus consultórios ficaram esvaziados. Não pode haver esse conflito de interesse, e a consulta médica não pode ser apenas sobre o papanicolaou, mas sobre o cuidado de forma geral.”

Exames desnecessários trazem ainda o risco de falsos-positivos e outros erros, que podem ter alto custo emocional.

Fernandes afirma, porém, que medicina é como a alta costura, ou seja, feita caso a caso. Esse espaçamento só deve existir se não houver queixa ou problemas que precisem ser acompanhados de perto.

Há outro aspecto que deve ser levado em consideração: o valor do exame. “Embora pareça que o exame não custa nada para quem tem plano de saúde, alguém vai pagar por ele e isso vai se refletir no custo total.” 

No Brasil, as recomendações são voltadas a uma faixa etária ligeiramente diferente: mulheres entre 25 e 64 anos de idade. O médico, no entanto, poderá requisitar o exame de Papanicolaou a mulheres com menos de 25 anos que tenham maior risco (que tenham tido muitos parceiros ou sejam profissionais do sexo, por exemplo). 

As diretrizes brasileiras também não incluem o teste de HPV. Para Fernandes, o custo seria um entrave. O exame é relativamente novo e custa por volta de R$ 600 e R$ 800, segundo Mônica Stiepcich, patologista sênior do Fleury Medicina e Saúde, mas é coberto pela maioria dos planos de saúde. 

Fernandes lembra que há uma grande desigualdade ainda na realização do exame de Papanicolaou. “Por um lado, o número de exames total é grande, mas ali tem muitas mulheres que fizeram várias vezes”, diz. Já no Norte e Nordeste, o problema é que as mulheres fazem menos o exame do que deveriam.

Fonte: Folha de S.Paulo

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