O desafio é parar com as pedaladas
Publicado em 05/01/2016 • Notícias • Português
Quem ainda não se ajustou à crise, terá neste fim de ano uma ótima oportunidade para equilibrar as contas. O pagamento do 13° salário aos trabalhadores vai injetar na economia R$ 173 bilhões, pelas estimativas do Dieese. Não é pouca coisa: se a sociedade pagasse um 13° deste tamanho ao governo, daria para ele zerar o déficit primário de 2015, de R$ 119,9 bilhões, e ainda sobraria um trocado para o abatimento da dívida. Se o governo não faz a parte dele, o consumidor tem agora a chance de cumprir a sua. “Está na hora de fazer a vida caber no orçamento familiar”, exorta Denise Hills, executiva do Banco Itaú responsável pelo programa Uso Consciente do Dinheiro e Educação Financeira._x000D_
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Se o total impressiona, a fatia de cada consumidor pode não parecer suficiente para zerar todos os compromissos. A prioridade é a quitação das dívidas sufocantes, roladas no cartão de crédito e no cheque especial. Outra parcela do 13° deve ser separada para custear despesas de início de ano._x000D_
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Pesquisa feita pela Deloitte com mil brasileiros sobre o destino que pretendem dar ao 13° revela que apenas 24% do universo consultado irão gastá-lo com compras de Natal. A maior parte, 38%, irá poupar. E o restante 35% quer zerar dívidas. Dentre os que irão investir o 13°, a maior fatia, de 46%, está entre os consumidores das classes A e B. A quitação de dívidas é a prioridade de 38% da classe C._x000D_
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Os quatro meses compreendidos entre novembro e fevereiro são o melhor período para o consumidor organizar de vez a sua vida, observa Denise Hill. “Não é verdadeira a percepção de que as pessoas financeiramente enroladas pertencem às classes de menor poder aquisitivo. As pedaladas ocorrem em todos os níveis de renda”, diz. O que a executiva chama de “pedaladas” é a prática do financiamento contínuo. Mal acabou de liquidar uma dívida, logo contrai outra. A pessoa não traça um fluxo de gastos em função da receita esperada. Gasta primeiro e depois vê um jeito de pagar a conta. Resultado: seis meses de dívida no cartão de crédito. Não basta zerar as dívidas com o 13°, a tentação de fazer novas será grande. “Precisa começar logo a formar uma reserva de emergência para, no futuro, agir para aumentar o patrimônio”, diz._x000D_
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O dinheiro que será reservado para os gastos obrigatórios dos primeiros meses de 2016 com IPVA, IPTU, matrícula e material escolar deve ser, segundo Marcelo Mello, vice-presidente de investimentos da SulAmérica, aplicado em ativos que privilegiam a liquidez. Ele não recomenda os fundos DI se o investidor precisar fazer saques em menos de 30 dias. Nessa hipótese, a tabela progressiva de IOF incidente sobre o rendimento pode comer todo o ganho. Para períodos de até três meses, o Tesouro Direto poderá ser mais vantajoso que os fundos DI oferecidos por instituições varejistas, pois as taxas de administração costumam ser muito elevadas. Para esses prazos, até a caderneta de poupança é mais atraente que os DIs._x000D_
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O gerente regional da Icatu Seguros, Paulo André Barqueiro, sugere usar o 13° para complementar o percentual de aplicação em fundo de previdência privada que falta para o investidor atingir o limite de 12% de abatimento do I.R. Para contribuintes que fazem a declaração anual por meio do formulário completo e que possuem PGBL, os aportes no fundo podem ser deduzidos no imposto a pagar até àquele limite legal. Como geralmente os aportes feitos todo mês não são suficientes para que o teto seja alcançado, o 13° pode fornecer a quantia que falta. “As contribuições à previdência privada são consideradas despesas dedutíveis como os gastos com saúde, educação e dependentes. É uma grande vantagem para reduzir o imposto a pagar ou aumentar a restituição”, diz Barqueiro._x000D_
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Satoshi Fukura, CEO da Siscom, empresa especializada na recuperação de créditos, diz que há hoje uma disparada na inadimplência de devedores em contratos sem garantia de bens reais. Pelas estatísticas oficiais do Banco Central, em linhas como o crédito rotativo e o cheque especial o atraso que supera 90 dias subiu 4,9% em outubro deste ano em relação a igual mês de 2014. “O principal motivo para os atrasos é o desemprego, sobretudo as demissões ocorridas nos últimos dois meses”, diz.
Fonte: Valor Econômico