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O que é a medicina bioeletrônica, a nova aposta do Google?

Publicado em 05/08/2016 • Notícias • Português

De olho no potencial da medicina bioeletrônica, a americana Alphabet, controladora da Google, e a farmacêutica britânica GlaxoSmithKline se unem. Ambas investirão mais de US$ 700 milhões na área.

A empresa farmacêutica GlaxoSmithKline (GSK) trabalha com medicina bioeletrônica desde 2012, investindo cerca de US$ 50 milhões na área. Em 2013, ela anunciou a criação de um prêmio de U$ 1 milhão para incentivar a pesquisa nesse ramo da medicina. Agora a GSK acaba de formar com a Verily Life Sciences –subsidiária da Alphabet– uma joint venture que custará US$ 715 milhões ao longo de sete anos. A nova empresa se chama Galvani Bioelectronics.

O que exatamente é a medicina bioeletrônica?
A medicina bioeletrônica utiliza dispositivos implantáveis miniaturizados para alterar e controlar sinais elétricos no corpo humano. Estes podem ser sinais elétricos que fluem para os pulmões para determinar a tensão das vias respiratórias, por exemplo. Ao controlar esses sinais, pesquisadores esperam poder ajudar as pessoas com asma.

Os pequenos dispositivos, que se agrupam em torno de nervos para controlar os sinais elétricos, também podem ser usados para combater doenças como diabetes e artrite.

Kris Famm, vice-presidente da GSK’s Bioelectronics R&D e presidente da Galvani Bioelectronics, disse à DW que a empresa iria focar em doenças “periféricas”, pois elas, segundo ele, representam uma “ampla oportunidade”.

E doenças neurológicas, como Alzheimer e Parkinson?
“Tenho certeza de que outros players neste campo procurarão tratar distúrbios neuropsiquiátricos e modular o sistema nervoso central”, diz Famm. “Isso é associado ao grande desafio de ter que distribuir os circuitos no cérebro e saber exatamente onde agir. É algo infinitamente mais complexo do que ser capaz de modular os sinais seletivamente nas proximidades de um órgão.”

A bioeletrônica é uma medicina personalizada? Ela se compara à edição do genoma humano?
Edição de genoma humano é outro novo processo na vanguarda do que é descrito como medicina personalizada – a capacidade de oferecer aos pacientes tratamentos específicos sob medida. Com técnicas de edição de genoma humano, como CRISPR-Cas 9, os médicos podem ser capazes de alterar o DNA em crianças que ainda não nasceram, para impedir que elas desenvolvam doenças hereditárias. Isso não é do que estamos falando aqui. Mas existem algumas semelhanças.

“A medicina bioeletrônica tem o potencial inerente de ser específica, pois ela pode gravar sinais neurais e reagir a eles em tempo real e ajustar a terapia ao paciente”, diz Famm. “Mas também é absolutamente reversível, algo que você pode desligar, e isso é diferente da edição de genoma. Se você tem um medicamento bioeletrônico sobre um nervo, ele pode ser desligado a qualquer momento pelo médico ou pelo paciente.”

Onde a Google se encaixa no campo da saúde?
A empresa de internet e tecnologia Google tem estado há algum tempo interessada na área da saúde. Com o Google Flu Trends, ela afirma que pode usar as enormes quantidades de dados recolhidos a partir de nossas pesquisas na internet para prever surtos de gripe. Mas podemos prever surtos de gripe apenas usando o transporte público, e, de qualquer maneira, as metas da Google são bem mais ousadas.

Com o Google Genomics, a empresa pretende armazenar e colher milhões de genomas para dar continuidade à pesquisa em saúde. Ele monitora o condicionamento físico geral com aplicativos de saúde. No mês passado, a Google DeepMind, uma empresa de inteligência artificial, anunciou seu primeiro projeto de pesquisa médica em conjunto com o sistema de saúde público do Reino Unido. E logo as lentes de contato da Verily Life Science com sensores incorporados permitirão monitorar os níveis de glicose em pessoas com diabetes.

Quem se beneficia mais com a parceria?
É difícil dizer neste momento. Mas é claro que a GSK irá se beneficiar do histórico da Google em lidar com grandes volumes de dados. E a Verily, da Google, vai se beneficiar da aprovação conquistada pela GSK, que é uma farmacêutica tradicional.

Financeiramente, o negócio é mais uma indicação de confiança nos resultados até agora. Os US$ 715 milhões ao longo de sete anos representam custos significativamente menores do que os associados ao desenvolvimento de medicamentos tradicionais.

Qual é o grande desafio para a medicina bioeletrônica agora?
O grande desafio é conseguir que os dispositivos sejam pequenos o suficiente e funcionem com o mínimo de energia possível.

“É aí que uma empresa de tecnologia se encaixa neste negócio”, diz Famm. “Como podemos transferir a energia sem fio para dentro do corpo, como podemos projetar dispositivos eficientes em termos energéticos e as interfaces neurais, de modo que emitam exatamente os padrões corretos de estimulação? Tudo isso aponta para uma parceria com uma empresa de tecnologia com grande força nessas áreas, e é isso o que a Verily é.”

Há razão para medo? E como fica o problema de hackeamento?
Existe, se você é paranoico. E eu sou muito paranoico. Medicamentos bioeletrônicos podem ser chamados de medicamentos, mas eles são, na verdade, dispositivos eletrônicos que podem enviar e receber dados ou ser conectados em rede.

“Isso é algo que temos de levar a sério. Você pode ter visto a preocupação sobre hackeamento de marcapassos e desfibriladores implantáveis, e onde temos eletrônicos no campo da saúde, temos de lidar com essas preocupações”, frisa Famm. “Porém, não levantemos preocupações exageradas. Estamos falando de tratamento de doenças crônicas, e se tivermos os resultados que acreditamos que podemos ter, temos a obrigação de torná-los acessíveis aos pacientes.”

“A segunda coisa importante de se ter em mente é que um nervo periférico não é uma entrada USB para o nosso sistema nervoso inteiro. Ninguém pode se ligar a nervo que vai até o meu pâncreas e, assim, controlar meus pensamentos.”

A Galvani espera submeter seus primeiros medicamentos à aprovação das autoridades em 2023.

Fonte: UOL

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