Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Presidente de entidade científica anuncia que entregará cargo

Publicado em 07/07/2016 • Notícias • Português

Após ser chamada de “pelega” por uma pessoa da plateia em ato contra a fusão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação com o das Comunicações, a presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), Helena Nader, disse que entregará seu cargo ao conselho da entidade.
O ato fez parte da reunião anual da SBPC, que acontece em Porto Seguro (BA).
Além de protestar contra a fusão,anunciada em maio pelo presidente interino Michel Temer (PDMB),a iniciativa da SBPC pedia a recuperação do orçamento da pasta especificamente para Ciência, Tecnologia e Inovação. Em 2013, ele era de R$ 9,4 bilhões; hoje, é de R$ 4,3 bilhões.
Após Nader, que também é professora de biologia molecular da Unifesp, defender o posicionamento da SBPC de não ser a favor nem contra o governo Temer, o professor de química teórica da UFPE, Antonio Carlos Pavão, pediu o microfone e fez críticas dirigidas a ela: “Fora Temer e seu bando! Aqui a unanimidade é fora Temer! Estou ouvindo coisas que eu não gostaria de ouvir da SBPC. A SBPC está em cima do muro. Negociou com golpistas, fez reunião com golpistas”, disse ele, referindo-se aos encontros dos quais participaram o ministro do MCTIC, Gilberto Kassab, Helena e outros representantes da comunidade acadêmica.
Depois da fala de Pavão,alguém da plateia gritou “pelega”.
Neste momento, Nader pega o microfone, diz que entrega seu cargo e sai do palco.
Diversas entidades científicas,incluindo a SBPC e a ABC (Academia Brasileira de Ciências), se posicionaram contra a fusão dos ministérios desde o seu anúncio, alegando que a perda de um status independente poderia enfraquecer a pasta e obliterar a necessidade de se investir na pesquisa no país. Os órgãos também fizeram reuniões com Kassab.
O ministro tem promovido encontros e feito visitas para azeitar relações com pesquisadores e acadêmicos, mas também tem ouvido manifestações contrárias à fusão Para Pavão,as reuniões seriam uma forma de legitimar tanto o ministro quanto o governo queo escolheu. “É uma ilusão achar que esse governo [Temer] vai a tender nossas reivindicações, esse governo é golpista”, disse à Folha.
“No ato, houve várias manifestações em relação a diferentes posições,inclusive político-partidárias.Até que, de forma agressiva e não democrática,me acusaram de pelega,de chapa-branca e uma série de coisas. Amanhã estou entregando ao conselho da SBPC meu cargo porque não concordo com isso. Não estou aqui em um trabalho pro bono para ser agredida”, disse Helena Nader à reportagem.
Ela afirmou ainda que está sendo injustiçada. “Fui colocada como pró-Temer quando nunca me posicionei nem pró-Dilma nem pró-Temer.Eu tenho a minha posição, mas a SBPC, não. Por isso que a SBPC, de forma sábia, não tomou posição. Não que ela não acredite na política e na política partidária, mas ela representa um todo. Não posso opinar em favor de um grupo ou de outro”, diz.
“A SBPC só sobreviveu 68 anos por causa disso: a gente conseguia discutir, brigar.
Hoje não tem mais isso. O que eu espero de verdade é que esses conflitos parem de existir, ainda mais no meio acadêmico.” Já Pavão diz: “Considerando toda sua história de luta política, a SBPC não poderia ficar com a posição indefinida em relação ao que eu e vários outros colegas classificamos de golpe. Eles alegam que não é unanimidade [ser contra o governo Temer], mas a sociedade só decide coisas por unanimidade?” Para o professor, acreditar que a melhor estratégia é negociar com Kassab “seria uma ilusão ou ingenuidade, pra não dizer uma adesão ao golpe. De cara, o governo já funde os ministérios: é um sinal de desprezo pela Ciência e pela Tecnologia.
“Todos sabemos do valor da Helena, mas essa decisão [de se posicionar a favor ou contra o governo interino] não deveria ficar restrita à diretoria, mas sim ser definida na assembleia da SBPC.”

Fonte: Folha de São Paulo

Mais notícias e eventos