Remédios sobem e economistas preveem alta da prévia do IPCA

Publicado em 20/04/2016 • Notícias • Português
Depois de surpresas favoráveis ao longo de março, economistas avaliam que a inflação voltou a acelerar na primeira quinzena de abril, principalmente por causa da resistência dos preços de alimentos e bebidas e do reajuste concedido aos medicamentos no período. Segundo a estimativa média de 20 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) subiu 0,48% neste mês, após alta de 0,43% no IPCA-15 de março.
As projeções para a prévia da inflação oficial, a ser divulgada hoje pelo IBGE, vão de aumento de 0,42% até 0,57%. No acumulado em 12 meses, porém, a expectativa é de continuidade da desaceleração do IPCA-15, de 9,95% em março para 9,32% nesta leitura.
Segundo Luis Otávio de Souza Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, o que deve levar o índice de preços a acelerar para 0,48% nesta primeira quinzena do mês são, novamente, os alimentos. “Ao contrário do que se esperava, a alimentação ainda não está cedendo”, diz ele.
Em suas contas, esse grupo avançou 1,1% no IPCA-15 de abril, depois de ter marcado alta de 0,77% na prévia de março. Para Leal, é difícil argumentar que essa aceleração tenha relação com fatores climáticos, já que abril foi um mês bem mais seco. “Pode ser algo relacionado ao repasse de custos, por exemplo. A tendência é que nos próximos meses os alimentos comecem a desacelerar, a questão é quando e quanto”, comenta.
Outro grupo que deve pressionar o IPCA-15 é saúde e cuidados pessoais, devido ao reajuste de até 12,5% dos medicamentos. Segundo Márcio Milan, da Tendências Consultoria, esse deve ter sido o principal fator a explicar a aceleração do índice de preços na passagem mensal. O economista estima alta de 0,55% do IPCA-15 neste mês.
Em suas contas, o grupo saúde e cuidados pessoais deve passar de alta de 0,7% no IPCA-15 do mês passado para um aumento de 1,3% agora. “Esses são os primeiros impactos do reajuste dos remédios, que foi um pouco maior do que se antecipava e cujos efeitos devem se estender até meados de maio”, diz.
Nas contas do Itaú, o grupo saúde deve responder por 0,13 ponto percentual da alta de 0,48% projetada para o IPCA-15 no período. O impacto só será inferior ao dos alimentos e bebidas, que devem responder por 0,26 ponto percentual da variação mensal do indicador.
Para Leal, do ABC Brasil, a inflação só não vai acelerar mais por causa da redução dos preços de energia elétrica e de comunicação. No primeiro caso, a mudança para bandeira verde em abril, que zera a cobrança adicional na conta de luz em vigor desde o início do ano passado, deve contribuir para manter o grupo habitação em deflação.
Já a redução de 22% nas tarifas de ligação da telefonia fixa para móvel, que já levaram o grupo comunicação a recuar 0,51% na prévia de março, devem manter o grupo em baixa. Nos cálculos de Milan, da Tendências, o grupo deve recuar 1% nesta leitura.
Como os efeitos dos reajustes de medicamentos devem ganhar força ao longo do mês, enquanto se dissipam os impactos dessa queda de tarifa, o mais provável é que o IPCA acelere mais um pouco até o fim de abril, mas dentro da sazonalidade, diz Milan. “O que era anormal eram as taxas observadas no início do ano”, afirma.
Para Leal, apesar das pressões recentes, é provável que a inflação continue a perder força no acumulado em 12 meses. Nesta leitura, diz, o índice deve desacelerar para 9,3%. Até o fim do ano, afirma, a inflação deve cair mais 2 pontos percentuais, com viés de baixa, para 7,3%. Apesar da projeção acima da média do mercado, Leal sugere cautela. “Prefiro esperar para ver como vai se comportar o câmbio e qual vai ser a intensidade da desaceleração dos alimentos”, diz.
Fonte: Valor Econômico