Simpósio no Senado debate necessidade de ampliar acesso à alta tecnologia médica no SUS
Publicado em 12/11/2025 • Notícias • Português
Foi realizado nesta terça-feira (11), no Senado Federal, o segundo simpósio “O Futuro da Medicina e A Medicina do Futuro”, organizado pela Frente Parlamentar Mista da Medicina (FPMed) e pela Frente Parlamentar em Prol da Saúde 4.0 e do Acesso e Uso Racional de Equipamentos e Dispositivos Médicos (FPMedTec). O encontro reuniu parlamentares, representantes do Governo, representantes de sociedades médicas de especialidades e líderes da indústria.
O objetivo do debate foi refletir sobre o uso da tecnologia moderna na medicina, de forma que ela possa beneficiar o máximo possível de pacientes. Entre os avanços abordados estão tratamentos como cirurgias robóticas e novos medicamentos, mas também o uso da inteligência artificial e a própria pesquisa científica, sobretudo na forma como se relacionam com o arcabouço legal brasileiro.
A abertura se deu com um debate entre o senador Dr. Hiran Gonçalves (PP/RR), que é médico e preside simultaneamente a FPMed e a FPMedTec; Aurélio Carmona, Diretor-Geral da Getinge e membro do Conselho de Administração da Associação Brasileira da Indústria de Tecnologia para Saúde (ABIMED); Adriana Marques, coordenadora-geral de Demandas de Órgãos Externos de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde; Diogo Soares, diretor-adjunto da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa); e Rosilane Rocha, 2ª vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM).
O representante da Anvisa destacou o papel central da agência na questão da inovação em saúde, uma vez que todo novo equipamento precisa ser aprovado por ela antes de ser disponibilizado ao público. “A Anvisa não pode ser uma barreira, ela tem que ser parte dessa inovação”, opinou Diogo Soares. Para avançar neste sentido, no entanto, ele destacou que a autarquia deve antes reduzir a fila dos pedidos já recebidos.
Um ponto central do debate foi a necessidade de fazer a alta tecnologia da saúde ser disponibilizada no Sistema Único de Saúde, de forma a beneficiar toda a população brasileira. Adriana Marques destacou a importância do banco de dados do SUS Digital, que já opera neste sentido ao integrar dados dos pacientes, facilitando o tratamento em diferentes unidades. Rosylane Rocha, 2ª vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), também afirmou que a tecnologia não pode servir como uma forma de aprofundar a diferença social entre os pacientes: “não pode haver uma medicina para ricos e outra para pobres”.
Aurélio Carmona, que integra o conselho da ABIMED, elogiou a iniciativa e destacou a importância do debate sobre a saúde dentro de um espaço político, mas sem espaço para polarização partidária. “Nós precisamos usar essas tecnologias a favor do SUS e a favor da população brasileira”, apontou Carmona.
Prontuário e acompanhamento digitais
O primeiro painel de debates foi conduzido pelo professor Giovanni Guido Cerri, professor titular de Radiologia da Faculdade de Medicina da USP, presidente do Instituto Coalizão Saúde (ICOS) e presidente dos Conselhos do InRad e do InovaHC, e recebeu o nome de “Saúde digital: do prontuário e prescrição eletrônica ao acompanhamento remoto dos pacientes”.
Para o acadêmico, a tecnologia não reduz o papel do médico, mas ajuda a potencializar profissionais atentos: “a medicina do futuro é essencialmente a medicina de sempre, com instrumentos mais potentes”. Ele destacou também a importância de formar novos profissionais já englobando a necessidade do uso das novas tecnologias.
“O grande desafio da introdução às novas tecnologias está relacionado com a capacitação. Nós precisamos capacitar tanto os profissionais de saúde quanto o paciente a utilizar essas novas tecnologias”, apontou Cerri. A ideia passa por usar sistemas de informática para permear todo o atendimento, desde o histórico do paciente até a consulta em si.
Patrícia Frossard, presidente do Conselho de Administração da ABIMED, esteve entre as debatedoras do painel e elogiou a iniciativa de intercâmbio entre os diferentes setores ligados à saúde. “A gente consegue ver que há uma conexão, ou pelo menos um esforço, do Ministério da Saúde, do CFM, da Anvisa, e da academia representada pelo professor Cerri. Eu acho que o fato de estarmos todos juntos aqui demonstra que o caminho é longo, porém tendo um alinhamento entre as instituições a gente consegue chegar lá”, comentou.
Arsenal tecnológico
O segundo painel recebeu o nome de “Arsenal tecnológico em saúde” e foi comandado por Luis Gustavo Romagnolo, oncologista do Hospital de Amor, em Barretos (SP). Romagnolo apresentou uma série de benefícios do uso da tecnologia no centro médico, que é referência no tratamento de câncer.
Entre os recursos já utilizados, está um óculos de realidade virtual que transforma crianças pacientes em super-heróis, para diminuir a ansiedade e tornar a experiência do tratamento mais humanizada. Outra solução simples já utilizada é o teleacompanhamento: um médico pode trocar mensagens com pacientes em outros estados para consultar sobre sintomas e rotinas, dispensando grandes deslocamentos.
No entanto, também foi apontada a possibilidade de se fazer cirurgias robóticas com o médico comandando o aparelho à distância, porém ainda não é comumente utilizada porque falta estrutura em muitos hospitais para isso. Por este motivo, Romagnolo apontou a necessidade de maior investimento em tecnologia, e não só em medicamentos.
“Produtos de saúde como devices médicos demoram muito para serem aprovados. Produtos que eu falo não são medicamentos, são produtos como um ultrassom, uma tomografia, uma ressonância, um PET scan ou mesmo uma cirurgia robótica ou uma pinça de cirurgia. Medicamentos são aprovados mais rapidamente. Os produtos médicos demoram muito para serem aprovados”, comentou o médico.
Romagnolo destacou o SUS como única maneira de fazer a tecnologia chegar ao grande público. “O que a gente precisa é melhorar a forma como essas empresas vão entrar no Brasil e disponibilizar, talvez, um caminho mais rápido para o Sistema Único de Saúde. Se você quer impactar a população, é pelo Sistema Único de Saúde”, concluiu.
Saldo
O senador Dr. Hiran Gonçalves resumiu o evento como uma oportunidade de debater, mas também fazer articulação política para a criação de novos marcos regulatórios. “Aqui nós tratamos da importância de nós abrirmos oportunidade de acesso a novas tecnologias, seja de equipamentos, medicamentos, enfim, tudo aquilo que pudermos fazer para diminuir o sofrimento das pessoas, aumentar a efetividade da medicina para diminuir o sofrimento, curar, salvar vidas”, afirmou.
“Eu espero que daqui saiam proposições e pressão para que o executivo possa fazer incorporações com mais rapidez, porque à medida que nós atrasamos as incorporações, quem perde é o povo brasileiro, que termina não tendo tratamentos mais eficazes e contemporâneos no estado da arte da nossa profissão”, arrematou o parlamentar.










