Sistema de saúde da Venezuela agoniza

Publicado em 23/05/2016 • Notícias • Português
Afetada por uma grave crise econômica, a Venezuela enfrenta um caos na saúde. Falta até água para lavar o sangue das salas de cirurgias de hospitais. Em muitos não há sabão e curativos. A taxa de mortalidade de bebês com menos de um mês aumentou cem vezes, e drogas contra o câncer sumiram. VENEZUELA- A crise econômica que venezuelana atingiu em cheio o sistema de saúde do país. Os casos de mortalidade infantil aumentaram e, nos hospitais locais, o cenário é catastrófico: equipamentos desaparecem, remédios só podem ser obtidos no mercado negro e muitos centros de tratamento são obrigados a trabalhar apenas dois dias por semana, numa tentativa de economizar a pouca eletricidade que ainda resta.
— Me sinto no século XIX — afirma Christian Pino, cirurgião no Hospital dos Andes, em Mérida, onde médicos se veem obrigados a lavar as mãos com garrafas de água com gás, já que as obsoletas bombas que levavam água ao hospital universitário explodiram e não puderam ser reparadas.
GOVERNO NEGA CRISE Os números são devastadores. De acordo com um relatório elaborado por deputados, o número de mortes entre bebês menores de um mês aumentou em mais de cem vezes nos hospitais públicos comandados pelo Ministério da Saúde, ultrapassando 2% em 2015. Em 2012, esse índice era de 0,02%.
Na cidade caribenha de Barcelona, o hospital Luis Razetti não conta com um equipamento de raio-x ou máquinas de hemodiálise. Esses equipamentos nunca foram consertados. Pessoas levadas de ambulância são obrigadas a lidar com a falta de tanques de oxigênio e, uma vez no hospital, veem-se diante de um cenário semelhante a de hospitais de campanha próximos ao campo de batalha: não há leitos, e pacientes são obrigados a deitar no chão, sobre poças de seu próprio sangue.
— Alguns chegam aqui saudáveis e saem mortos — diz Leandro Pérez, médico-residente no hospital.
Em abril, o diretor do Luis Razetti, Aquiles Martínez, foi retirado do cargo e preso, acusado de roubar equipamento destinado ao hospital, incluindo máquinas para o tratamento de doenças respiratórias, assim como soluções intravenosas e 127 caixas de remédios.
Para a deputada Oneida Guaipe, ex-líder do sindicato dos médicos, é “criminoso que, em um país com reservas tão enormes de petróleo, haja pessoas morrendo por falta de antibióticos”. A crise agora se vê no meio da disputa política entre o governo chavista de Nicolás Maduro e a oposição, que domina o Congresso. Os parlamentares declararam uma crise humanitária em janeiro. Nesse mês, aprovaram uma lei que permitiria à Venezuela receber ajuda internacional para revigorar seu sistema de saúde.
No entanto, o presidente foi à TV e rejeitou a oferta, descrevendo a medida como uma tentativa de minar seu governo e privatizar a saúde do país.
— Duvido que em qualquer lugar do mundo, exceto em Cuba, exista um sistema de saúde melhor que o nosso — afirmou Maduro.
Fonte: O Globo