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Visão global deve orientar definição de investimentos

Publicado em 08/01/2016 • Notícias • Português

Pela segunda vez à frente da Finep, o cientista político Luis Fernandes sabe bem o tamanho de seu desafio. Recebe o comando da principal agência de fomento para projetos de inovação em momento de ajuste fiscal, crise econômica e com a tarefa de recompor o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDTC), que perdeu os recursos do fundo setorial do petróleo. A meta é dar fôlego à inovação – tema estratégico para a recuperação da economia e o aumento da produtividade e competitividade das empresas. “É preciso manter o foco. A inovação exige visão de longo prazo, persistência e continuidade”, diz.

A primeira passagem de Fernandes pela agência de fomento foi entre os anos de 2007 e 2011. Mas o pesquisador acompanha a evolução do ecossistema de inovação do Brasil há mais tempo. Entre os avanços destaca o aumento no volume de recursos aplicados em atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) em relação ao PIB. Nos balanços apresentados pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), os aportes saíram de um patamar anual de 0,96% do PIB (2004) para 1,24% (2013). Em reais, significou um salto de R$ 18,8 bilhões para R$ 67,3 bilhões no período.

Fernandes conversou com o Valor sobre os passos necessários para consolidar a estratégia nacional de inovação, a necessidade de ampliar os investimentos privados em P&D e de aplicar mais recursos públicos em programas de subvenção para engordar a carteira de projetos de ruptura tecnológica.

Valor: Nos últimos anos, o ambiente de inovação no Brasil ganhou corpo com uma nova legislação, o estabelecimento de instrumentos de incentivo, programas de fomento e a inserção da inovação na esfera da política econômica. Que resultados há dessas ações?

Luis Fernandes: Os números mostram aumento no percentual investido em P&D em relação ao PIB a partir de 2004, ano da promulgação da Lei de Inovação. Um salto de 0,3% em relação ao PIB no período é significativo. Sabemos que não é suficiente, mas é um indicador importante dos avanços. A Pesquisa de Inovação [Pintec], realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE], também sinalizou melhora na taxa de inovação nas empresas, que estão conseguindo sustentar seus investimentos. Na esfera estratégica [qualitativa], os resultados são mais importantes. Percebemos maior articulação entre iniciativa privada, poder público e academia para promover a inovação como pilar da produtividade e da competitividade. A atuação da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI) merece destaque. Os empresários brasileiros entenderam que a inovação é um caminho lógico – e inevitável – para os negócios. Estiveram envolvidos na formatação de programas de crédito, como o Inova Empresa, e participaram ativamente da criação da Empresa Brasileira de Inovação Industrial (Embrapii).

Valor: Quais são os próximos passos para a agenda de inovação no país?

Fernandes: Precisamos tornar os instrumentos de estímulo mais eficazes. Avaliar, consolidar as conquistas e elaborar planos para o futuro. O volume de recursos aplicados aumentou, mas ainda está centrado no orçamento público, que financiou 57,7% dos projetos em 2013. É preciso que o dinheiro investido pelo governo seja capaz de atrair uma parcela maior de recursos das empresas. Temos de convergir os estímulos com as políticas de desenvolvimento econômico. No setor farmacêutico, por exemplo, a inovação está inserida na Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP). O governo vai usar o poder de compra do Sistema Único de Saúde (SUS) para motivar a fabricação de medicamentos mais modernos no Brasil. Na prática, garante a demanda pela inovação. É preciso definir setores estratégicos e ampliar esse tipo de ação para fazer apostas em tecnologias estruturantes ao desenvolvimento sustentável. O papel do governo é fundamental porque precisamos equilibrar o ambiente de negócios. Temos uma realidade na qual a taxa básica de juros (Selic) desencoraja investimentos em inovação de maior risco. Outra questão é a ampliação dos recursos para subvenção econômica [dinheiro a fundo perdido]. Dar acesso a esse tipo de capital estimula os projetos de ruptura tecnológica. É preciso fortalecer a capacidade do país em criar tecnologias, produtos e serviços. Nossa estratégia é lançar editais para subvenção econômica com problemas direcionados. As empresas participantes terão de trabalhar com pesquisa aplicada à demanda. O primeiro passo para ampliar esse tipo de financiamento – no qual estamos trabalhando – é a recomposição dos recursos do FNDTC.

Valor: As empresas de menor porte vão, de fato, encorpar as estratégias setoriais de inovação para não criar gargalos nas cadeias de fornecimento?

Fernandes: É preciso entender como funcionam os elos das cadeias produtivas para incorporar ações que promovam ganhos setoriais. Para isso, é importante fortalecer as novatas de base tecnológica. Entre os programas, lançamos o Finep Startup, que prevê investimento direto da agência de fomento em empresas em estágio final de desenvolvimento de seus produtos. Muitos projetos caem no que chamamos de vale da morte da inovação, momento que antecede o lançamento no mercado e demanda investimento significativo. Outras empresas vencem todas as fases do P&D, iniciam as vendas, mas não conseguem capital para ganhar escala. Também pretendemos atuar junto a incubadoras e parques tecnológicos. Temos de ampliar o volume de startups bem-sucedidas.

Valor: E no universo de negócios de grande porte?

Fernandes: No âmbito das grandes empresas, é preciso ter projetos tocados por âncoras em diferentes setores. Com a demanda dessas empresas, as menores conectadas à cadeia produtiva vão correr atrás da atualização tecnológica e melhorar a capacidade de criação. É preciso aproveitar a sinergia entre negócios e promoção da inovação. A Finep pretende ainda apoiar fundos corporativos, como o que mantém com a Embraer. Temos de atuar com a maior diversidade possível de empresas para mitigar os efeitos da crise. O momento tira o apetite para o investimento, adia projetos. Mas é preciso manter a perspectiva.

Valor: Qual o papel dos investimentos em inovação para a maior inserção do país no comércio internacional?

Fernandes: O Brasil ainda tem um longo caminho para ampliar a sua participação nas cadeias globais de valor. A internacionalização, com base na inovação, é a melhor estratégia para colocar o país nessa direção. Para isso, teremos de investir em projetos com visão global de negócios. Temos um mercado local excepcional, mas o comércio internacional é maior e muito mais exigente. Além de produzir com mais qualidade e criatividade, o país também precisa ampliar sua presença no ecossistema global de inovação. Fazer a diferença. Neste sentido, a missão é atrair centros de P&D das transnacionais para cá. E trazê-los com projetos de relevância, com produção local de conhecimento.

Fonte: Valor Econômico

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