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Os dois lados da Saúde

Publicado em 15/06/2016 • Notícias • Português

Duas reportagens publicadas no Correio indicam a perspectiva que se apresenta para a saúde brasileira. A primeira denuncia os aumentos abusivos em planos de saúde, que elevam em até 130% o valor das mensalidades aos usuários que se aproximam dos 60 anos de idade. A fim de garantir o atendimento hospitalar no momento da vida em que o corpo e a mente exigem mais cuidados, usuários recorrem à Justiça e a órgãos de defesa do consumidor. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) recebeu nos últimos 12 meses mais de 460 queixas contra os convênios particulares, em um sinal de que o sistema vai mal.

Mas o pior sintoma reside em outra constatação. De março de 2015 a março deste ano, 1,3 milhão de brasileiros se desvincularam dos serviços oferecidos. A sangria maior ocorre nos planos empresariais, em razão do desligamento de profissionais em época de recessão profunda.

Em entrevista ao jornal publicada no domingo, o secretário de Saúde do Distrito Federal, Humberto Fonseca, indicou o outro lado da realidade, ressaltando a diretriz comum aos governos de fortalecer o sistema público. O titular da pasta pretende envidar esforços para a atenção primária aos brasilienses, com investimento em equipes e infraestrutura. Trata-se de empreitada difícil, ante o estado precário de diversas unidades espalhadas pelo Distrito Federal e as severas restrições orçamentárias do governo. Nas contas do secretário, apenas 30% da população brasiliense é atendida pelo serviços de saúde — uma distorção que, segundo ele, pode ser corrigida com mais recursos e melhor gestão. A ver.

Com esses dois enfoques, nota-se que a saúde no Brasil sofre do mesmo mal da educação. Com honrosas exceções que apenas confirmam a regra, a qualidade do serviço é definida pela renda do cidadão. Quanto melhor a condição financeira, melhor o atendimento. Com o envelhecimento da população brasileira, está evidente que o sistema privado não terá condições de atender a todo o contingente de maneira satisfatória. Contudo, a valorização da rede pública constitui a solução mais adequada para oferecer uma cobertura abrangente aos cidadãos. Essa discussão, portanto, só terá progresso quando as iniciativas pela saúde forem menos partidárias e mais entendidas como política de Estado.

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