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Mulheres em Foco | Deborah Telesio

Publicado em 20/04/2022 • Notícias • Português

Entrevista com Deborah Telesio  – Vice President   Region South America

Elekta Medical Systems LTDA


“O grande desafio para qualquer profissional é buscar a melhor formação possível” 

Nesta entrevista, Deborah Telesio revela detalhes sobre sua carreira como executiva de Marketing e opina sobre diversidade, equidade de gênero, alinhamento de remuneração, acolhimento à maternidade, entre outros temas sociais relevantes no momento.

Formada em Comunicação pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), com MBA Executivo Internacional pela Universidade de São Paulo (USP), Deborah Telesio, é vice-presidente da Elekta, onde, nos últimos seis anos, vem conduzindo negócios na indústria de Saúde na América Latina. A executiva acumula mais de 20 anos de experiência em Marketing, tendo atuado em empresas multinacionais do ramo de alimentação, entretenimento e saúde, incluindo vivência internacional de três anos no Chile, como diretora de Marketing de uma multinacional da área de alimentação. A Elektra é uma das empresas que lideram o segmento de radioterapia de precisão, e atua para oferecer os melhores tratamentos aos pacientes de câncer. Com sede em Estocolmo, Suécia, a empresa conta com uma equipe global de 4.700 colaboradores, distribuídos pelos escritórios localizados em mais de 120 países.

Gostaríamos de começar falando sobre seu atual cargo, como vice-presidente para América Latina da Elekta. De modo geral, quais são suas principais responsabilidade neste posto?

A Elekta é uma empresa de tecnologia em radioterapia, voltada, principalmente, ao tratamento contra o câncer. Lidamos com vidas. Por isso, minhas responsabilidades vão além do próprio negócio. Temos mais de 200 equipamentos de radioterapia em operação no país e o compromisso de garantir que eles funcionarão continuamente e que trabalharemos em parceria com nossos clientes. A Elekta tem toda a sua base instalada com acesso digital, o que garante rapidez de resposta e atenção preventiva. Portanto, uma das minhas responsabilidades é desenvolver o melhor time de atenção ao cliente – aqueles que tratam os pacientes – em todo o ciclo de relacionamento. Desde a definição das melhores soluções para cada cliente até o pós-venda. 

Assim como todos na empresa, eu vivo o nosso propósito diariamente. Toda a equipe se importa genuinamente em prover o melhor tratamento oncológico a todos os pacientes. Queremos que mais pacientes tenham acesso. Durante a pandemia tivemos uma grande prova de fogo: os pacientes não podiam adiar o tratamento. Para ajudar os radioterapeutas, que são profissionais raros no país, a minimizar os riscos de que eles mesmo fossem contaminados com o novo coronavírus, disponibilizamos gratuitamente um aplicativo que permitia que eles monitorassem remotamente seus pacientes, com toda a eficiência.

Lidero uma empresa que tem que gerar lucro para os acionistas. A Elekta, inclusive, é uma companhia que tem suas ações negociadas na bolsa de valores de Estocolmo. Mas, em empresas de saúde temos que olhar o tempo inteiro para a sustentabilidade do negócio também sob o ponto de vista do paciente, dos médicos e dos hospitais, que são nossos principais parceiros.

Em sua carreira, você passou por diversos segmentos da economia, como varejo e entretenimento, até chegar à área de saúde. Qual a particularidade de cada uma delas no tocante à atuação da mulher?

Eu comecei a trabalhar muito cedo e talvez por ter um perfil muito “fazedor” e de muita resiliência, a questão da equidade nunca foi para mim um impedimento. Não houve uma barreira em minha carreira por ser mulher nas empresas em que trabalhei. Inclusive fui liderada por outras mulheres. 

Isto não quer dizer que não me importe com esta questão. Sou uma executiva com mais de 50 anos que foi mãe depois dos 40. Adoro meu trabalho e a maternidade é transformadora na minha vida. Acho que posso inspirar outras executivas a acreditar que tudo é possível e a questionar dogmas que ainda existem. 

Por que uma mulher teria que renunciar à carreira para ser mãe? Por que as pessoas começam a perder a empregabilidade após os 50? No meu caso isto não ocorreu. Na Elekta damos muito valor a profissionais experientes, pois é um negócio que exige alta qualificação. Da mesma forma, celebramos quando mulheres da equipe nos trazem a notícia de um novo bebê a caminho. Fui privilegiada na minha trajetória e sinto que minha retribuição é, em parte, encorajando outras mulheres. 

A pandemia trouxe muitas incertezas coletivas e um olhar renovado e mais atento para a área da saúde. Podemos falar em aprendizados do período? Se sim, quais são eles, especialmente para o segmento da saúde? 

Certamente a pandemia trouxe grandes impactos em todas as outras enfermidades e suas consequências e claramente houve uma queda significativa em detecção e tratamentos oncológicos, em toda a cadeia de cuidado. O resultado é que, atualmente, os casos chegam em etapas mais avançadas. Trabalhar em parceria com nossos clientes e ajudá-los a oferecer tratamentos mais eficientes, atendendo um maior número de pacientes, é onde creio que podemos contribuir.

Tivemos avanços na questão da digitalização e pudemos ver a telemedicina finalmente tendo lugar no país. Como a Elekta tem toda a sua base instalada digital, oferecemos uma resolutividade de manutenção e prevenção de mais de 70% dos casos de forma inteiramente remota. Esse tipo de facilidade, antes não tão valorizada, é hoje fundamental. 

Criamos um comitê de crise logo no início da pandemia e o nosso maior foco foi, e continua sendo, o cuidado com as pessoas. A maior parte do nosso trabalho é garantir que estejam em segurança. Todos os profissionais que poderiam ficar em home office ficaram. Para os que precisavam visitar hospitais, criamos protocolos de cuidados. Hoje estamos em um sistema de trabalho híbrido, para aqueles que tem um trabalho mais administrativo. Eu, particularmente, estou feliz em estar presencialmente visitando clientes! 

A agenda ESG exige das organizações a adoção de políticas de diversidade de gênero. Um estudo da FGV revelou que as empresas que contam com uma mulher na alta administração têm melhores notas em índices ESG, nos aspectos ambiental e social. Em sua opinião, a que se deve esses resultados?

Por ser uma empresa europeia e ter sua matriz em um país em que a questão da equidade de gênero está muito mais bem resolvida, a Elekta tem uma pauta ESG mais voltada ao clima. Só para ilustrar: o estudo Women, Peace and Security Index divulgado em 2022 colocou a Suécia entre os 10 melhores países do mundo para ser mulher, sendo que todos os países nórdicos estão nesta lista. Mas a Elekta está no mundo inteiro e sabemos que é necessário desenvolver a questão da equidade em outros locais.  Eu faço parte de um board da Elekta nas Américas e estamos abrindo discussões, fazendo mentorias, trazendo speakers de fora. O fato de eu ser uma mulher líder regionalmente é importante. 

Posso afirmar que o segmento de radioterapia, de forma geral, tem uma presença feminina muito forte. Temos não apenas executivas, mas médicas radioterapeutas e de outras especialidades, físicas e o pessoal de atenção a pacientes, como dosimetristas. São profissões que exigem alto índice de formação e muito comprometimento. Não custa lembrar que a inventora do primeiro acelerador linear para a radioterapia contra o câncer foi uma mulher, a cientista polonesa Marie Curie, que inclusive ganhou o Prêmio Nobel por suas pesquisas relacionadas à radiação.

Quais são os grandes desafios profissionais das mulheres atualmente? O que pesa são falta de oportunidades, preconceitos, dificuldades para viver a maternidade? Quais são os desafios/pontos de melhoria para as organizações implementarem um modelo eficiente de gestão em que haja equilíbrio na participação de homens e mulheres?

O grande desafio para qualquer profissional é buscar a melhor formação possível e, depois, evoluir na carreira. Mas, para as mulheres, a maternidade se torna um grande desafio se a empresa em que trabalha não as apoiarem. Muitas desistem da carreira ou se tornam empreendedoras em busca de flexibilidade. 

As discussões ao redor do tema de diversidade em geral, equidade de gênero, alinhamento de remuneração, acolhimento à maternidade – temas que vemos com cada vez mais frequência em várias empresas do mercado — são encorajadoras. É muito claro que as empresas têm por obrigação atualmente ser relevantes socialmente. Abordar essas questões torna-se imprescindível. Mas ainda há um grande salto entre o discurso e a incorporação efetiva desses conceitos. Mas estamos no caminho! 

Na minha posição, líder de uma empresa multinacional, mãe, 50+, entendo que posso ajudar bastante e inspirar as mulheres. Compreendo que uma mulher, em sua maternidade, pode exercer sua profissão de maneira até mais eficiente. A maternidade me tornou uma pessoa mais aberta, mais produtiva e com um olhar de cuidado mais carinhoso para o outro.

Fonte: ABIMED

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