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Crise bate mais pesado na saúde por custeio caro e complexo’

Publicado em 04/01/2016 • Notícias • Português

Por ser extremamente dependente dos royalties do petróleo, o Rio enfrenta forte baque financeiro com a queda brusca dessa fonte de receita ao longo do ano. O auge da crise, agravada pela retração na economia, aconteceu no mês passado, quando a rede hospitalar do Estado entrou em colapso e o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) pediu socorro à União e ao município do Rio. A arrecadação de royalties e participações especiais prevista em 2014 para 2015 era de R$ 9 bilhões, mas ficará em R$ 5 bilhões. Para o economista Mauro Osorio, coordenador do Observatório de Estudos sobre o Rio, da UFRJ, o Estado terá de buscar alternativas aos royalties, com ampliação da indústria e da oferta de serviço.

Por que o Rio enfrenta esse quadro de penúria financeira, que chegou ao extremo com o colapso na saúde?
A grande crise é de receita pública. Temos grande dependência dos royalties do petróleo em função da estrutura produtiva muito pouco densa. A extração de petróleo vai continuar a crescer, mas no pré-sal. No pré-sal, o Rio quase não tem royalties. A Bacia de Campos na melhor das hipóteses vai continuar com produção igual. O preço do petróleo a curto e médio prazo não vai voltar a mais de US$ 100.

Além de falta de recursos, houve falta de gestão na saúde?
No setor público, as pessoas demonizam o custeio. Mas serviço público é gente, então o caro é o custeio. Por que a crise, quando cai a receita, bate mais pesado na saúde? Porque é onde o custeio é mais caro e complexo. Talvez (o caos na saúde), no nível que aconteceu, podia ter sido evitado. Mas, se a gente for honesto, a queda na receita foi muito rápida. Qual economista no início do ano previa que a gente ia terminar com queda de PIB entre 3,5% e 4%, com o barril de petróleo a menos de US$ 40? A estrutura de saúde é mais complexa no Rio e tem uma lógica política complicada. Agora mesmo há denúncias contra organizações sociais (OSs, gestoras de hospitais). Uma das áreas em que políticos clientelistas mais procuram capturar é a área de saúde, na compra de medicamentos. A possibilidade de políticos capturarem as OSs é maior. Há ainda um problema nacional de subfinanciamento. A CPMF era um terço dos gastos com saúde. Em um setor público de saúde grande como o Rio, pode bater com mais força.

Os municípios fluminenses são muito dependentes do Estado?
O maior problema do Estado está na periferia metropolitana, muito mais precária que qualquer outra das Regiões Sul e Sudeste e talvez de algumas regiões mais pobres. Até 1974, havia duas unidades federativas no Rio. Até os anos 1960, a migração para o Rio era maior do que para São Paulo. As pessoas começaram a morar na periferia, que não tem planejamento e estrutura urbana. Nos anos 1960 e 1970, o Rio foi lanterna em crescimento econômico. Entre 1985 e 2008, o emprego no Estado cresceu em torno de um terço da média nacional. A partir de 2008, passou a crescer parecido com a média. Teve uma melhora, mas que ainda tem problemas. O Estado tem uma estrutura produtiva pouco densa e por consequência muito dependente do petróleo.

Qual é a saída para o Rio diversificar a economia?
É um erro pensar serviço e indústria de forma apartada. Tem de pensar quais atividades indutoras, que podem trazer renda nova, que podem ser exportadoras, para outro município, Estado, País. Um turista que vem para o Rio está gerando renda nova, uma indústria que vem gera renda nova. As pessoas acham que o Rio é zona sul. Quando você vai para a periferia metropolitana, vê a barbaridade que é.

O Rio fez as opções certas de investimento quando firmou parcerias com a União?
Teve melhorias, mas devia ter um planejamento melhor. Na questão da Olimpíada, está claro que não pode ser uma coisa do tamanho que se exige. Vários países vêm se recusando a ser a sede da Olimpíada, isso vai se modificar. Fazer Olimpíada em região de expansão da cidade é um erro. Sempre que a cidade expande, você tem maior gasto de infraestrutura.

Fonte: O Estado de S.Paulo

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