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Entrevista – Mulheres em Foco | Patrícia Frossard

Publicado em 16/03/2022 • Notícias • Português

Country Manager da Philips do Brasil, Patrícia Frossard vem construindo uma sólida carreira na liderança de organizações com atuação global. Ela é formada em Direito pela Universidade Paulista (Unip), com especializações nas áreas Empresarial, de Consumo e Trabalhista, além de um MBA em Administração e Governança Corporativa. Está na Philips desde 2013, tendo ocupado antes o cargo de Head de Legal & Compliance para a América Latina, além de passagens anteriores por importantes corporações. Nesta entrevista, ela fala sobre os desafios da liderança feminina, especialmente após a crise sanitária iniciada em março de 2020.

Gostaríamos de começar falando sobre seu atual cargo, como Country Manager da Philips no Brasil. De modo geral, quais são suas principais responsabilidade neste posto? 

Eu sou líder na Philips aqui no Brasil, e no meu time eu tenho todo o managment responsável por todas as áreas da organização, tanto as funcionais quanto as comerciais. No pilar da Consumo, temos um portfólio de produtos para o consumidor, voltado ao bem-estar. A Philips é uma empresa historicamente conhecida pela transformação. Ela já passou pelo segmento de eletrônicos e, há cerca de dez anos, está focada em saúde. Acompanhamos a evolução do mercado e nos transformarmos em uma empresa prestadora de serviços em saúde, trabalhando com produtos de grande porte, como equipamentos de diagnóstico por imagem, que cada vez mais estarão conectados por soluções de software, que também trazemos para o mercado, como o Tasy, que é uma solução que combina gestão hospitalar e EMR. Com isso nos posicionamentos no coração do hospital, criando uma relação de longo prazo. Neste foco de atuação, eu busco extrair do meu time esse espírito de transformação. Nós temos um mix de colaboradores, um time formado por pessoas jovens e de mais senioridade. E isso é muito rico, porque você consegue extrair o melhor de cada geração, e estão todos dispostos a buscar essa transformação que é o nosso foco. Sabemos que a empresa não é só uma “razão social”. Ela é feita por pessoas e eu preciso que estejam engajadas, que tenham o mindset de transformar, de trazer ideias, de desafiar o status quo.

Você vem desenhando uma carreira em linha ascendente. Quais foram os principais desafios que você vivenciou, por exemplo, para assumir seu atual cargo?

Primeiro eu gostaria de dizer que vejo uma grande diferença entre mulheres e homens no momento de aceitar um novo cargo. Pelo menos esta é minha experiência. As mulheres costumam tomar uma “decisão colegiada”, consultam marido e filhos, elas têm muita cautela. Os homens já são mais impetuosos, mais seguros em seguir em frente. Eu vejo ainda, nas mulheres, certa insegurança de acreditar nelas mesmas. Então é importante ter apoio, como eu sempre tive da empresa. Eu vinha de uma carreira estabilizada na área jurídica, e sabia que se precisasse eu poderia dar um passo atrás. Foi um desafio gigante, mas eu tinha apoio da família e um bom relacionamento na empresa. As pessoas já me conheciam e sabiam que eu faria um esforço para que desse certo. Eu acho que se você for uma pessoa que se comunica bem, se mostra interessada em sempre participar, se você consegue congregar as energias para que dê certo, nada te impede de avançar. Mas eu acho que não é um mérito exclusivamente seu, você precisa de um chefe que acredita em você, que lhe dá oportunidade. Eu tive ajuda desde a minha formação, e depois de pessoas da minha equipe, para que eu conseguisse me destacar e exercer o meu trabalho. 

E quais foram os maiores desafios quando você assumiu o cargo?

Eu assumi este posto em maio de 2019 e menos de um ano depois, em março de 2020, começou a pandemia, que eu acredito que foi o maior desafio para todos os líderes, não apenas para mim. Eu me vi diante do empenho de fazer com as pessoas não desistissem, que a empresa continuasse funcionando. Eu sabia que precisava que as pessoas se mantivessem acreditando no propósito da empresa, mesmo diante dessa crise. Nós fornecíamos os respiradores (para os hospitais) e precisávamos fazer a manutenção desses equipamentos. E ainda não havia vacina. Infelizmente tivemos perdas na equipe, embora não dê para ter certeza sobre como foi a contaminação. Eles foram verdadeiros guerreiros e eu acho que o meu desafio foi justamente, diante disso, manter as pessoas com essa energia alta.

Como você lidou com esse cenário de trabalhar em casa e, ao mesmo tempo, cuidar da família?

Eu tenho dois filhos. Não vou falar que foi fácil porque não foi. Tive apoio do meu marido, mas nossa rotina mudou completamente. Os professores e nós, pais, não estávamos preparados para o home schooling. Então você imagina, eu tive que atender meus filhos em vários momentos durante o expediente. Eu costumo brincar que “caí no conceito” deles. Minha filha ficou surpresa quando viu que meu trabalho era “só” ficar no computador o dia todo (risos). Eu também fiz terapia o que acabou sendo muito bom. Passei por um processo de aprendizado, porque você precisa saber quando está na hora de pedir ajuda porque não pode fazer tudo sozinha. Acredito que quando as coisas voltarem totalmente ao normal nossa rotina será diferente, porque todos fazem sua parte, meus filhos estão mais independentes. Eu sinto que quebrei uma barreira. Antes eu me recusava a demonstrar fraqueza, mas o home office acabou mudando isso. As pessoas do trabalho começaram a “entrar” na minha casa e vice-versa. Começamos a falar de assuntos pessoais, gostos, preferências. No escritório você tem uma determina postura, um distanciamento formal, mas com o home office descobrimos afinidades, e por isso ficamos mais “humanos”, mais próximos.

Apesar dos avanços, no mundo corporativo a participação feminina ainda não está equiparada à masculina. Em 2020, apenas 7,4% das empresas listadas na Fortune 500 tinham mulheres no cargo de CEOs. Em sua opinião, quais elementos podem contribuir para seguir com esses avanços e reduzir disparidades profissionais?

Não vou dizer que é fácil, mas ajuda se isso estiver na pauta do time de gestão das empresas. O percentual de mulheres em cargos de liderança ainda é muito baixo, mas mudar isso depende de um duplo exercício. De um lado, o exercício da empresa de passar a colocar essas mulheres nos planos de carreira, prepará-las para que estejam prontas para assumir essas oportunidades quando surgirem.  A empresa precisa proporcionar flexibilidade suficiente para que essas mulheres possam evoluir na carreira sem perder qualidade de vida. Eu acho que a pandemia acabou influenciando positivamente neste sentido, porque as empresas obrigatoriamente se tornaram mais flexíveis. Hoje não entregamos mais horário e sim objetivos. Então, do outro lado, tem o exercício pessoal de equilibrar sua agenda, se você tem uma organização da sua agenda você consegue fazer tudo. 

Você acredita que, para as mulheres executivas, sempre é possível conciliar a vida profissional com a vida pessoal quando se tem filhos?

Eu já ofereci cargos para mulheres que não aceitaram porque “adoram ser mães”. Eu também adoro ser mãe, mas consegui ter esse equilíbrio. A gente sempre se questiona. E eu já perguntei aos meus filhos se eles me consideram uma mãe presente. E eles disseram que sim. Teve vezes que eu peguei o celular fora do expediente, mas minha filha me alertou e eu parei de fazer isso (risos). Então eu tento ser um exemplo para que mais mulheres entendam que é possível se esposa, mãe e cuidar da empresa também. Por que não?

A agenda ESG exige das organizações a adoção de políticas de diversidade de gênero. Um estudo da FGV revelou que as empresas que contam com uma mulher na alta administração têm melhores notas em índices ESG, nos aspectos ambiental e social. Em sua opinião, a que se deve esses resultados?

Do ponto de vista do meio ambiente, eu acho que nós, mulheres, pensamos no ciclo todo. Até por termos a capacidade de gerar um filho, de ser mães, temos muito essa visão da continuidade. Da continuidade do planeta, da sociedade. Não que os homens não tenham, mas é algo biológico mesmo. Claro que os pais também se preocupam em deixar um mundo melhor para seus filhos, mas nas mulheres acaba sendo um pouco mais latente. Do ponto de vista social, há também uma preocupação com a diversidade. Pessoalmente, eu considero muito bom juntar pessoas de mais senioridade com jovens estagiários, acontece uma troca muito rica e quem ganha com isso é a empresa, porque você traz a maturidade de uma pessoa que já atuou no mercado, que tem uma vivência da empresa, e traz a energia dos jovens, que estão ansiosos por aprender, mas que não têm a menor noção de como transitar naquele ambiente. Essa diversidade é algo que buscamos fazer na Philips. Também estamos convidando mais mulheres para fazer parte da área de tecnologia, pois ainda são em número reduzido. Queremos criar programas sociais para trazer essas mulheres para a tecnologia, fazer parcerias com o governo para prover formação na área. Tem uma série de coisas que, dentro da empresa, você consegue ter uma visão mais ampla e realmente fazer acontecer. Eu acho que o Social e o Ambiental são aspectos que estão vinculados à continuidade das empresas. Os negócios estão mudando muito rapidamente e quem não pensa em fazer esse ciclo virtuoso prospetar tende a desparecer do mercado.

Fonte: ABIMED

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