Laboratórios aumentam oferta de descontos em 2015
Publicado em 07/01/2016 • Notícias • Português
A crescente concorrência no mercado farmacêutico brasileiro, o sexto maior do mundo, levou os laboratórios a ampliar em mais de dois pontos percentuais o desconto médio dos medicamentos vendidos em farmácias ao longo de 2015, segundo levantamento da americana IMS Health. A tendência, porém, é a de que em 2016 a indústria reduza esses descontos para recuperar parte da rentabilidade corroída pela elevação nos custos de produção.
Segundo a IMS, que é vista como uma espécie de auditoria da indústria farmacêutica mundial, o desconto médio concedido pelos laboratórios no varejo nacional em outubro, último mês do levantamento, foi de 39,23%, o maior nível mensal de 2015. Em relação a janeiro, quando era de 36,96%, houve aumento de aproximadamente 2,3 pontos percentuais.
O levantamento mostra ainda que cerca de R$ 6,54 bilhões em medicamentos foram vendidos às farmácias brasileiras em outubro, considerandose os preços de referência. Com o desconto, porém, o varejo, que representa 75% do mercado nacional, pagou de fato R$ 3,98 bilhões.
Uma das justificativas para a estratégia mais agressiva de preços, de acordo com o presidente das Intefarma (que reúne as multinacionais), Antônio Britto, é a tentativa dos laboratórios de manter participação de mercado em um momento de crise econômica que já se refletiu na redução do ritmo de crescimento das vendas de medicamentos no país. Após alguns anos de crescimento da ordem de 15%, em 2015 as vendas da indústria devem mostrar alta de 10%.
Segundo Britto, 92% dos fármacos vendidos no Brasil fazem parte dos chamados mercados competitivos, em que há mais de um fornecedor. Para mais de 50% das drogas, existem pelo menos cinco diferentes fornecedores, o que amplia a disputa por pacientes via descontos. “A indústria vive uma contradição: a pressão de custos agravada pelo câmbio empurra para a redução do desconto, ao mesmo tempo em que a concorrência puxa para a concessão de mais desconto”, afirmou.
O cenário indicado pela IMS, porém, não é reconhecido de maneira unânime pelos laboratórios, que evitam tornar pública sua política comercial sob o argumento de que o mercado é altamente competitivo. No segmento de genéricos, por exemplo, os fabricantes afirmam que o desconto, que ficou em torno de 60% no ano passado, já caiu para 40% na esteira do forte aumento de custos.
Novos cortes são esperados por esses laboratórios, uma vez que as margens seguem espremidas e o crescimento das vendas, abaixo do esperado. A maior pressão vem dos gastos com insumos farmacêuticos. Embora o país tenha estabelecido um importante polo de produção de genéricos, não houve investimento na fabricação local de insumos e entre 85% e 90% da matéria-prima usada no país é importada. Com a desvalorização do real, esse custos subiram pelo menos 40% em 2015.
Em meados de outubro, o presidente-executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma), Nelson Mussolini, disse que a revisão da política de descontos já estava na pauta do setor e que o consumidor começaria a sentir no bolso o efeito dessas medidas em questão de meses.
A Hypermarcas, segunda maior farmacêutica do país em vendas, indicou que vai rever sua política comercial em alguns segmentos de atuação. “Existe a possibilidade de mudar um pouco o fluxo de dinheiro a nosso favor. Não dá para continuar em alguns mercados a dar os descontos que costumamos dar”, afirmou o presidente da divisão farmacêutica, Luiz Eduardo Violland.
Já o presidente do Aché, Paulo Nigro, disse em encontro com jornalistas no início de novembro que a percepção é a de que a indústria nacional terá de se acomodar a um nível de rentabilidade menor por causa do câmbio. O laboratório, afirmou o executivo, “já praticava descontos baixos por não acreditar em uma política comercial baseada em desconto”. “Aceitamos a diminuição temporária de margens. Estamos colocando grande foco em excelência operacional”, explicou.
Fonte: Valor Econômico