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Brasil faz lobby para que Venezuela aceite doações de remédios

Publicado em 11/07/2016 • Notícias • Português

O governo brasileiro manobra nos bastidores para tentar convencer a Venezuela a aceitar o envio de remédios e insumos médicos destinados a aliviar a grave crise de saúde no país vizinho.
O chanceler José Serra incumbiu as gestões ao embaixador do Brasil em Caracas, Ruy Pereira. Os dois trataram do tema em encontro no Itamaraty, em junho, após pedido de ajuda formulado pela Cáritas,braço humanitário da Igreja Católica.
Pereira transita com desenvoltura no alto governo chavista e conhece bem a política venezuelana. Sua missão consiste em dobrar a resistência de Caracas, que nega haver crise humanitária no país e considera ofertas de ajuda uma armadilha destinada a criar condições para uma intervenção estrangeira.
Em recente encontro com o corpo diplomático em Caracas,a chanceler Delcy Rodríguez cobrou respeito à soberania nacional e disse que o governo do presidente Nicolás Maduro só aceitaria ajuda externa sob forma financeira, como linhas de crédito para importação.
Segundo fontes em Brasília, a estratégia de Pereira é despolitizar a oferta.O Brasil prometerá não falar em “crise humanitária” e manterá distância de manobras conduzidas pela oposição radical para encaminhar remédios à Venezuela.
Pereira deve pedir audiência com Rodríguez nos próximos dias. Mas as atuais gestões de Brasil, Paraguai e Argentina para impedir a Venezuela de assumir, como lhe cabe, a presidência rotativa do Mercosul criam ambiente desfavorável para a oferta.
Caso a chanceler aceite ouvir o embaixador brasileiro, ele irá ao encontro acompanhado do núncio apostólico, Aldo Giordano,representante do Vaticano em Caracas.
O governo venezuelano não retornou pedidos de contato da reportagem.
ESCASSEZ GERAL O apelo da Igreja Católica ao governo brasileiro foi formalizado em decorrência do acirramento da escassez de medicamentos na Venezuela, que ecoa um desabastecimento generalizado amplamente atribuído aos controles de preço e de câmbio em vigor sob o modelo chavista.
A diretora da Cáritas Venezuela, Janeth Márquez, disse à Folha que os pedidos de ajuda sanitária da população carente dobraram nos últimos três meses.
“Em tempos normais, pessoas físicas e farmácias fazem doações que mantêm nossa rede de amparo funcionando. Mas hoje não há remédios nem nas lojas nem nas casas das pessoas, então ninguém mais está doando”, afirma.
A Cáritas tem cerca de 700 representações espalhadas porto da a Venezuela.A capilaridade da rede permite atingir áreas remotas e mapear necessidades locais, graças ao apoio dos sacerdotes.
Segundo Márquez, a maior urgência é aliviar a escassez de medicamentos para hipertensão, diabetes e colesterol.
Tratamentos para a tireoide e anticonvulsivos também são prioridade.
Enquanto a ajuda não chega,o problema é aliviado graças à boa vontade de padres ou pessoas comuns que viajam ao exterior. “Já recebemos cem entregas de dez ou doze quilos cada uma. É muito pouco diante das necessidades, mas qualquer esforço vale”, afirma Márquez.
O Brasil diz ter capacidade para enviar rapidamente grandes quantidades de produtos fabricados em laboratórios públicos e privados. A ajuda poderia ser encaminhada em forma de kits que incluiriam remédios e material, como luvas cirúrgicas.
Além do Brasil, outros países fazem gestões com o governo venezuelano. O Chile tem contêineres prontos para ser despachados. Todos, porém, esperam aval de Caracas.

Fonte: Folha de São Paulo

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