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Coluna Mulheres em Foco | Elisabete Murata

Publicado em 15/12/2021 • Notícias • Português

Confira entrevista com Elisabete Murata, Diretora de Soluções Educativas para a América Latina na Johnson & Johnson Medical Devices, que foi uma das articulistas da Nota Técnica ABIMED de Transformação Digital na Saúde sobre educação continuada e participou recentemente de um painel sobre o mesmo tema.

1. Conte um pouco sobre sua trajetória profissional

A minha primeira entrevista de estágio foi para uma vaga de robótica de uma grande empresa internacional na área de automação industrial. Algo que fazia sentido já que estava cursando os últimos anos de engenharia elétrica na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Mal poderia imaginar que, mais de 25 anos depois, meu sonho de trabalhar com robótica se tornaria realidade na posição de líder de Educação Médica da Johnson & Johnson na América Latina.

Gosto de pensar na minha carreira em três grandes blocos até o momento: um terço em tecnologia e gerenciamento de projetos na Motorola, e depois na Johnson: um terço em vendas e marketing, e um terço em educação. Apesar de indústrias completamente diferentes, o fator mais importante na escolha dos caminhos que segui foi definitivamente o propósito de tornar a vida das pessoas melhor.

Na Motorola, com a implementação dos primeiros sistemas celulares no Brasil, estava melhorando a infraestrutura de comunicação em lugares às vezes tão remotos que não havia nem telefonia convencional. Na Johnson, me encantei pelo mercado de saúde, e por trabalhar em uma empresa que investe em tecnologia para melhorar o tratamento de milhões de pacientes. E depois, ainda na Johnson, me apaixonei por educação. Como disse Nelson Mandela: “Educação é a arma mais poderosa que podemos usar para mudar o mundo”.

Sabemos que as grandes inovações disruptivas acontecem na intersecção de várias disciplinas. Tecnologia, Saúde, Educação. Aí está: minha tríade para um período promissor para continuar crescendo profissionalmente, e promovendo um impacto positivo pro mundo.

2. Quais foram os maiores desafios que enfrentou em sua trajetória profissional?

Aprendi de uma cirurgiã negra sobre o teste do pescoço. O teste consiste em olhar a sua volta, e perceber a presença de pessoas parecidas com você. Seja dentro da engenharia como mulher, dentro de posições comerciais e de liderança como descendente de asiáticos, ou tudo junto, o teste do pescoço me trouxe uma perspectiva importante de que precisamos intencionalmente buscar mais diversidade para os negócios.

Além dos desafios naturais de encontrar espaço em um mercado competitivo, hoje tenho mais consciência dos vieses enfrentados pelas mulheres dentro do ambiente corporativo. No mercado de saúde, e particularmente, no mercado cirúrgico, estes vieses são ainda mais marcantes e ter iniciativas e políticas para aumentar a diversidade é fundamental.

3. Teve maiores dificuldades para ser aceita profissionalmente por ser mulher?

No meu primeiro estágio em uma grande empresa de engenharia, o meu chefe me chamou no primeiro dia de trabalho e me perguntou: Sabe por que te contratei? Antes de eu começar a responder, ele me falou: “É porque você tirou 10 de matemática na Fuvest”. Naquele ano, tinham mais 8 outros estagiários homens. Fiquei me perguntando se todos os outros 8 rapazes também tinham tirado 10 em matemática…

Esta só uma situação vivida que comprova que, infelizmente, para uma mulher se destacar, o nível de exigência, cobrança e de resultados deve ser muito superior ao do homem. E em função disso, acredito que muitas mulheres competentes acabam deixando passar oportunidades de crescimento ou demoram mais para assumir desafios quando não se sentem completamente preparadas.

4. Como você avalia a participação feminina em sua área e no setor de saúde de forma geral?

Felizmente, na Johnson & Johnson, temos uma presença importante das mulheres em posições gerenciais e de liderança. Mas não chegamos a estes resultados sem trabalhar intencionalmente. Há mais de 25 anos, o grupo de afinidade Women´s Leadership & Inclusion trabalha para remover barreiras para as mulheres atingirem seu potencial máximo na J&J.

A Johnson & Johnson também está empenhada em construir uma comunidade STEM2D (Education in Science, Technology, Engineering, Math, Manufacturing and Design) diversificada como parte de um esforço mais amplo para acelerar o desenvolvimento de líderes femininas e mulheres vencedoras em todas as fases de suas vidas, e assim, contribuir na construção de um ambiente mais equitativo no setor de saúde.

Existem avanços importantes, mas ainda muito a fazer no setor como um todo, principalmente em áreas de liderança, sejam clínicas ou administrativas.

5. Você tem algum conselho para outras mulheres que pretendem ingressar no mundo da saúde?

A transformação digital do mundo da saúde exige novas habilidades importantes provenientes de perfis mais diversos e, consequentemente, gera novas oportunidades para mulheres. O desafio é enorme, onde não existe receita e onde o que se conhece, deve ser desconstruído e reformulado para encontrar um novo caminho de integração e comunicação.

Ouso dizer que estamos em um dos momentos mais excitantes do mercado e que exige um nível de colaboração diferenciado. Um momento, onde mais diversidade de lideranças femininas pode, sem dúvida, contribuir para a construção de um ecossistema mais sustentável da saúde.

Meu conselho? Protagonismo e acreditar em si mesmas.

6. Como você avalia a educação continuada na saúde com a transformação digital no setor?

A educação continuada também requer transformação, oferecendo uma abordagem mais personalizada, de acordo com a necessidade de cada um e no tempo apropriado. Para isso, dados objetivos de desempenho, aliados às novas ferramentas digitais, são fundamentais para promover essa transformação.

Na Johnson & Johnson, já estamos integrando ferramentas como Realidade Virtual e Telementoria aos programas de educação continuada, o que nos permitirá utilizar informação mais específica para focar as necessidades educacionais dos profissionais.

Mas o setor ainda requer uma aceleração importante do acesso ao ensino de novas tecnologias e tratamentos. Os profissionais de saúde também necessitarão ser educados na utilização das novas soluções digitais que impactam nas decisões clínicas para os pacientes.

Conclusão, manter-se atualizado nunca foi tão desafiador, e o papel da educação continuada é fundamental para catalisar essa transformação.

7. Qual sua opinião sobre a Nota Técnica elaborada pela ABIMED e de que forma ela pode contribuir para a propagação da transformação digital de forma geral? 

Considero a Nota Técnica um trabalho pioneiro e de extrema relevância para fomentar as discussões e as ações da transformação digital da saúde. O desafio do setor é imenso, e somente com o trabalho em conjunto das instituições de saúde, governo, órgãos reguladores, profissionais da saúde, associações, provedores, instituições de ensino, empresas de tecnologia e indústria, será possível criar um ecossistema integrado para a transformação efetiva do setor.

A ABIMED tem um papel importante nesta articulação. A Nota Técnica é um passo relevante para o entendimento das necessidades e perspectivas dos diversos agentes do ecossistema com um objetivo final comum: o paciente.

Fonte: ABIMED

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