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Falta um sistema amigável para produzir tecnologia

Publicado em 13/08/2015 • Notícias • Português

Dependência de matéria-prima importada, falta de um ambiente favorável de cooperação entre universidade e indústria, resistência da iniciativa privada em assumir riscos e elevado tempo de aprovação da pesquisa clínica são alguns dos entraves que o Brasil deve enfrentar para assumir uma posição de protagonismo na produção e descoberta de medicamentos, tanto os sintéticos como os biológicos.

Hoje, a maioria dos medicamentos é produzida com princípios ativos trazidos do exterior e, como resultado, o país tem um déficit de US$ 5,5 bilhões na balança comercial do setor. Mesmo com as exportações crescendo em ritmo superior às importações, a diferença ainda está longe de ser compensada.

Além disso, mundo afora, a indústria farmacêutica fatura cerca de US$ 1 trilhão por ano e investe entre 12% e 16% em pesquisa e desenvolvimento de medicamentos. Isso significa algo entre US$ 120 bilhões e US$ 160 bilhões; enquanto o Brasil investe apenas US$ 300 milhões por ano. Para completar, o tempo de aprovação da pesquisa clínica continua a ser um obstáculo importante para o avanço da inovação no país. Para que um estudo seja aprovado na Coreia são necessários 30 dias; nos EUA, de 45 a 60 dias; na Europa, de 60 a 75 dias, enquanto no Brasil o prazo chega a 365 dias.

“”As universidades são competentes na área de pesquisa de fármacos, mas falta ir para o mercado. Para isso, é necessário um alto investimento em simulação de processos e produtos, o que exige plantas semi-industriais””, diz Lia Hasenclever, professora do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

“”Seria importante o Estado fazer uso do seu poder de compra para alavancar a indústria nacional””, afirma Leda Castilho, também professora da UFRJ. Castilho se refere à Relação Nacional de Medicamentos, (Rename), lista composta por 840 medicamentos que o Sistema Único de Saúde (SUS) deve garantir gratuitamente para a população.

Para Antônio Britto, presidente executivo da Interfarma, o Brasil está muito atrasado no que diz respeito aos medicamentos biológicos, nova fronteira tecnológica da indústria farmacêutica. “”Queremos produzir tecnologia pelo fim, enquanto outros países começaram do começo””, diz.

Em sua opinião, não existe no país um sistema amigável para produção de tecnologia: a universidade está afastada da indústria, o governo tem mão pesada e burocrática e a indústria não ousa correr o risco que a pesquisa impõe.

“”Se não participarmos da onda de gerar conhecimento estaremos condenados a copiar e a pagar pelo que é produzido fora do país, colocando o SUS em risco””, alerta Britto se referindo ao Rename. De acordo com Eduardo Jorge, coordenador geral da Economia da Saúde do Ministério da Saúde, em 2014, 88% dos medicamentos comprados pelo Ministério foram sintéticos e 12%, biológicos, mas estes representaram 61% dos gastos.

“”A transferência de tecnologia não é uma alternativa ao investimento em pesquisa e desenvolvimento. Ao contrário, são iniciativas complementares, pois transferência de tecnologia não significa acúmulo de tecnologia””, diz Hasenclever.

“”Atualmente, 40% dos novos produtos em desenvolvimento no mundo são biofarmacêuticos””, afirma Castilho. Um levantamento da Interfarma revela que sete farmacêuticas deixaram de realizar no país 16 estudos nos últimos meses nas áreas de câncer, cardiopatias, doenças raras, depressão e esclerose múltipla.

Fonte: Valor Econômico

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