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‘Não se deve dizer ‘caro’ quando se trata de vidas’

Publicado em 04/01/2016 • Notícias • Português

“Sou filho de imigrantes que trabalhavam em plantações de café. Comecei técnico de laboratório e me especializei em cultura de tecidos. Depois me envolvi com vírus humanos, isolando a poliomielite, e epidemiologia ambiental. Hoje sou presidente do Conselho Político e Estratégico da Bio-Manguinhos”
Conte algo que não sei.
A erradicação do Aedes
aegypti por Osvaldo Cruz se deve a uma série de fatores. Um presidente da República que deu carta-branca, um prefeito modernizando a cidade…
Mas o mérito é dele, não?
Ele reconheceu que a doença era transmitida através do mosquito. Erradicou a febre amarela sem as tecnologias de hoje. Invadia as casas, fazia coisas hoje impensáveis por causa da evolução da legislação no sentido da privacidade. Os mecanismos de controle não evoluíram tanto…
De quem é o problema?
O problema é que cada um acha que o problema não é dele. A Constituição de 1988 dividiu competências, sendo o município o mais fraco sempre, porque não tem recursos. E a população esquece da sua própria responsabilidade.
A TV divulga bastante…
É preciso usar gente da educação para a mobilização na mídia. Dilma falou, em Recife, da necessidade de atacar o Aedes .Masa população não abraça a causa.
Virá a vacina?
Sim, mas não antes de dez anos. O conhecimento da patologia, da relação viral com o hospedeiro humano ainda é pequeno. A dengue já tem vacina em processo de registro.
O Japão tem trabalho específico voltado para vacinas?
O presidente do Conselho do Soka University, que trabalhou aqui e conheceu Osvaldo Cruz e Carlos Chagas, achava que a febre amarela causava leptospirose. Ele conseguia isolar e fazer cultura pura da Leptospira, ainda hoje algo bem difícil. Morreu de febre amarela na África.
E depois?
No início dos anos 1980 foi feito um acordo entre Brasil e Japão para a transferência de tecnologia. Se hoje podemos bater no peito que erradicamos a poli no Brasil, em parte se deu por essa parceria.
Semana passada obtivemos certificação de livre de rubéola.
Produzimos essa vacina aqui. Um personagem do imaginário ligado à saúde pública, o Zé Gotinha, a gente até brinca que ele trabalha aqui e que a poliomielite está prestes a ser erradicada no planeta.
Está?
Em vez da vacina oral, de vírus atenuados, passaremos à vacina inativada, que evita a disseminação dos vírus vivos, que dão em crianças e depois são excretados no ambiente.
É muito caro?
É difícil, eu diria. Não se deve dizer “caro” quando se trata de vidas. É um investimento. Evitar a doença é muito mais eficaz e positivo do que ter que levar a criança ao hospital e ainda com o risco de morrer.
Esse trabalho todo pode ser repetido com relação ao controle de vetores?
As campanhas nacionais de imunização são dias de festa. Em dois dias imunizamos 90% da população, mesmo nas regiões mais distantes da Amazônia. Por isso que eu acho que é possível mobilizar a população contra o Aedes.
Você tem uma energia fantástica. Quem te inspirou?
Você tem que trabalhar aqui pra saber. É como cachaça. A casa respira responsabilidade, coisa positiva.
Já viu algum dos famosos fantasmas da Fiocruz?

Quando trabalhava até tarde, eu escutava algumas coisas, mas não sentia medo.

Fonte: O Globo

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